quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Olim piadas


Estão prestes a ser declarados abertos os jogos da XXXI olimpíada da era moderna - pela primeira vez as Olimpíadas decorrem num país da América do Sul, pela primeira vez também organizadas por um país de língua oficial portuguesa. Deveriam ser um motivo de orgulho para todos quantos se reveem num modo diferente de fazer e ver o mundo. Infelizmente não é.
Não só o Brasil se deixou enlear no que pior existia na sua tradição, um certo desleixo, uma certa improvisação que um evento desta dimensão não perdoa, como os seus governantes tomaram a nuvem por Juno em relação à consolidação dos ganhos sociais do país que permitissem que a organização de um acontecimento do tamanho de uns Jogos Olímpicos não consumisse recursos absolutamente necessários para a educação, os sistemas de saúde, dos programas de luta contra a pobreza, transportes, habitação, entre outras. Esta situação fez com que uma parte significativa da população olhasse para as olimpíadas como show off, dedicando-lhes indiferença, desdém ou até mesmo aberta oposição. Nada disto ajudaria a colocar de pé um evento épico como este.
Depois quase em cima do acontecimento, o país é conduzido pela sua ala mais reaccionária e mesmo corrupta, mas com que o governo tinha feito alianças, bastante espúrias diga-se de passagem, para um processo golpista de destituição da chefe de estado, processo que não tendo terminado, e independentemente de como terminará, que deixará marcas profundíssimas no país e que começaram já a provocar retrocessos a um estado que não recomendaria a realização de umas olimpíadas.
Por fim o afastamento dos atletas da Federação Russa por dopping, embora nem a organização nem o governo brasileiro tenham disso responsabilidade, é uma situação confrangedora que o Rio 2016 não merecia. Confrangedora porque se acusou um país inteiro com provas perto das quais o dopping patrocinado pelos laboratórios americanos BALCO seria uma montanha inultrapassável e, no entanto nenhum dos atletas então envolvidos sofreu qualquer sanção. Norte-americanos, Suíços, Gregos, Espanhóis e muitos etc. nunca tiveram um afastamento das olimpíadas, e às vezes atletas de outras situações, com mais do que um controlo positivo e mais do que duas suspensões, e nada aconteceu. Estranhamente agora, atletas que nunca foram apanhados em qualquer controlo estão agora impedidos ou em vias disso, de participar nos jogos olímpicos.
Tivessem sido utilizados os mesmos critérios que anteriormente e, atleta a atleta, muito poucos seriam os atletas impedidos. Assim como se impõe um castigo a um país inteiro a questão passa a ser terem de provar que nunca acusaram dopping. Reverte-se o ónus da prova e afasta-se um país capaz de lutar pelas medalhas em quase todas as competições.
Isto por acaso leva-me a outra história. Após a reunificação alemã também a desaparecida RDA foi acusada de programas em larga escala de dopagem de atletas. Acusação essa que por vezes ainda se ouve por aí, tal foi a publicidade dada ao caso. Curiosamente a investigação correu levada a cabo por uma das principais acusadoras a Autoridade Federal de Desportos da então RFA. O resultado foi menos que pífio, e tirando três ou quatro casos de dopagem, nada se conseguiu apontar às autoridades e responsáveis desportivos da República Democrática, tanto assim que nenhuma medalha ou recorde obtido pode ser posto em causa.
Assim em resultado disto é que é o próprio medalheiro, o valor desportivo, e a qualidade que estará posta em causa nos jogos da XXXI olimpíada da era moderna.
Os deuses estão mesmo contra. O Brasil merecia melhor.

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