sábado, 3 de setembro de 2022

Ataque à Nação Cabo-verdiana!

O passado dia 31 de Agosto de 2022 passará forçosamente à história como o dia em que o governo da nação Cabo-verdiana perpetrou um ataque sem precedentes à história, à memória e às próprias fundações ideológicas do país.
Depois da abertura de um consulado na cidade de Dakhla, Saara ocidental, aquiescendo a soberania do Reino do Marrocos sobre o território saarauí, ficou totalmente contradicto o pensamento e escrita do pai da nossa independência.
Tal como Cabo Verde, tal como a Guiné-Bissau, também os povos das colónias espanholas do Saguia-al-hamra e Rio oro, desejavam e lutavam pela sua independência. Tendo-a proclamado a 27 de Fevereiro de 1976, não muito depois da nossa própria independência.
A Marcha Verde, promovida pelo Reino do Marrocos, mais não foi que a invasão, com traços de grande barbárie, de um território alheio, com a dominação do seu povo e sem a aceitação deste.
Até hoje, e o muro construído em mais de 1300Km, a repressão atroz, a perseguição civil e cultural, a tortura, as prisões e simulacros de julgamento, a expulsão de activistas – como Aminatu Haidar -  e para culminar o episódio sangrento da invasão do acampamento de Gdeim Izik, são mostras mais do que evidentes de como a se faz a dominação marroquina do Saara ocidental e que não podem deixar de fazer ressoar na nossa memória as palavras de Cabral: O domínio “só se pode manter com uma repressão permanente e organizada da vida cultural desse povo [o povo dominado], não podendo garantir definitivamente a sua implantação a não ser pela liquidação física de parte significativa da população dominada”.
É impensável que o Governo Cabo-verdiano que apesar de todos os pesares, se reclama herdeiro do Estado erigido sobre o trabalho, dedicação e luta de Amilcar Cabral e de todos aqueles que com o seu esforço e dedicação travaram a luta armada para que nos libertássemos do jugo do colonialismo e da dominação estrangeira venha hoje agraciar outros dominantes, sobre povos que inclusive em tempos consideramos irmãos de luta, impondo-lhes uma amarga servidão.
Todos os torrões destas ilhas teriam de ter urrado de vergonha ao ver um ministro dos negócios estrangeiros do nosso país afirmar, com dócil candura, como afirmou o Dr. Rui Figueiredo Soares que o plano de autonomia marroquino é um plano credível, quando foi este mesmo país que desrespeitou a sua própria assinatura no Plano de paz com a Frente Polisário, negociado sob a égide das Nações Unidas, firmado em 1992, e que garantia o acto de auto-determinação consagrado através de referendo à população do território.
O Reino de Marrocos o que fez foi mostrar que não é um Estado digno de confiança pelas suas acções e o Estado Cabo-verdiano, ombreando lado a lado com ele, só pode cobrir de vergonha todo o cidadão que respeita a sua palavra.
Não tenho a menor dúvida que o actual Governo Cabo-verdiano, desejando mostrar, mais uma vez, a sua dedicação aos interesses económicos não se envergonha de curvar a cerviz, e romper com os compromissos que advém da sua presença nas Nações Unidas. Fica apenas por ver o que se segue, a abertura de uma embaixada em Jerusalém? A declaração de aceitação da integração dos Montes Golã em Israel?
Com a aceitação da soberania marroquina sobre o Saara ocidental, o Governo do MPD, feriu os princípios nos quais assenta a Nação Cabo-verdiana. Que linda forma de entrarmos nas comemorações dos 100 anos do nascimento de Cabral e dos 50 anos do seu assassinato. Começámos seguramente pelo fim!

terça-feira, 23 de agosto de 2022

Zero em História

Os dirigentes ocidentais declararam hoje que a Crimeia é Ucraniana. Os dirigentes ocidentais já não se lembram do que disseram os seus antecessores, a repeito do desrespeito aos cidadãos da Crimeia, quando em 1954 o dirigente Nikita Kruschev transferiu a Crimeia da RSFS da Russia para a RSS da Ucrania. Na altura foi dito que estes cidadão russos não tinham sido tidos nem achados na transferência da sua terra entre duas entidades diferentes.

Aquando do desmembramento da URSS, os habitantes da Crimeia manifestaram-se contra a sua integração na Ucrania, e foram necessários acordos de autonomia e ligação à Russia, para que estes aceitassem e mesmo assim mal este estatuto.
 
Para que não se diga que invento, deixo aqui a cópia na integra do parágrafo da Wikipédia dedicado a esta questão: "Após a Revolução Russa de 1917, a península tornou-se uma república autônoma dentro da República Socialista Federativa Soviética da Rússia, parte da União Soviética, embora mais tarde, durante a Segunda Guerra Mundial, tenha sido rebaixada para o Oblast da Crimeia.

Em 1954, o Oblast da Crimeia foi transferido para a República Socialista Soviética da Ucrânia, por Nikita Khrushchev, a fim de reforçar a "unidade entre russos e ucranianos" e a "grande e indissolúvel amizade" entre os dois povos.[1]" (perdoem o português do Brasil mas está escrito assim)

Os dirigentes ocidentais da actualidade não sabem História, não se compreende sequer como chegaram estas pessoas aos lugares que ocupam, pois que para um governante, para mais em matéria internacional, a História deveria ser uma cadeira obrigatória e o seu desconhecimento deveria implicar a reprovação no exercício da função.

sexta-feira, 29 de julho de 2022

Solidariedades

Já em 2021 o PCP realizava sessões de solidariedade com o povo ucraniano. Nesta altura os solidários de hoje estavam calados... Entende-se este povo podia ser perseguido. A solidariedade dos neo-solidários é só para fascistas da mesma igualha.
A solidariedade destes "democratas" não é para com o povo da Ucrânia, ou ter-se-iam indignado quando os principais partidos da RADA (parlamento ucraniano) foram ilegalizados e impedidos de participar em eleições, depois do Golpe de Maidan, ter-se-iam indignado quando os decretos proibiram a utilização da língua russa (lingua materna para pelo menos metade dos ucranianos), ter-se-iam indignado quando os opositores do poder fascista foram queimados vivos em Odessa, e ter-se-iam indignado pelos inúmeros crimes bárbaros cometidos contra as populações do Donbass. Nada disso aconteceu, mostrando claramente que a solidariedade desta gente é com os seguidores de Bandera, é para com o poder Nazi-fascista na Ucrânia e pelos acólitos no terreno de combate. Não para com o Povo Ucraniano.

domingo, 17 de julho de 2022

Os dedinhos do Newton

Do Newton mas não é deste.... 
O ensino da matemática no nosso país nunca foi o que se possa chamar de exemplar. Todos sabemos a quantidade de alunos que fica retido, a quantidade de alunos que foge de apostar nesta disciplina como centro para a sua vida académica e ainda a quantidade de alunos que "lutam" com a dita para acabarem os seus cursos.
Infelizmente parece que temos entre nós uma situação exemplar desta realidade e, para mal dos nossos pecados com um homónimo - quem sabe parente por linha travessa - do mais que famoso físico inglês de nome Isaac! Acontece que o nosso menos célebre Newton nacional, que vem carpindo há meses pelos fóruns e jornais, a inominável injustiça do seu correligionário ter ganho as eleições e não poder dirigir como lhe dá na real gana os destinos da capital, não percebe patavina de matemática.
Sem ser professor na matéria ou sequer explicador passarei a explicar com muita pedagogia: Caro Luís (é este o nome), o número de elementos que compõem a Câmara Municipal - Presidente e Vereadores - é de 17. Destes a lista do seu amigo elegeu 7, a lista do adversário dele outros 7, o PCP elegeu dois e o Bloco 1. Ora isto em qualquer aritmética não é exactamente ganhar. É, isso sim ter mais votos em relação aos outros, mas menos que todos os outros juntos.
Se não entende isto pegue nos seus dedinhos e faça em dois deles uma cruzinha azul, nos outros dois uma cruzinha vermelha, e no restante uma cruzinha verde. Se juntar a cruzinha verde com a vermelha as cruzinhas azuis ficam em minoria... Foi o que aconteceu com o seu amigo. Entendeu agora? Ou perfere as orelhas de burro? 

quarta-feira, 15 de junho de 2022

welcome to Hotel Rwanda!

(imagem iNews)

A generosidade do Governo de Sua Majestade Britânica não conhece limites. Profundamente sensibilizado pela falta de meios dos refugiados para gozar umas férias e conhecer o mundo, o Governo de Johnson propôs-se proporcionar aos refugiados provenientes do Irão, Iraque, Afeganistão, Siria, Ieman e Albânia, uma excitante estadia num destino exótico - neste caso o Ruanda.
Não sei se Kigali é bonito nesta época do ano, mas desconfio que sem bilhete de regresso, os candidatos a refúgio no Reino Unido vão ter muito tempo para descobrir, simplesmente porque não vão poder ir para lado nenhum nem tampouco sair daí.
Com modos refinados está o actual governo de sua majestade a condenar os refugiados ao exílio, mas não todos os refugiados. Apenas aquelas cuja presença em solo britânico não se possa traduzir em valor político, todos os outros são considerados indesejáveis.
A hipocrisia de um Governo que noite e dia acusa outros de desrespeito pelos direitos humano, a falta de vergonha de quem permanentemente afirma que tudo faz para aliviar o sofrimento das vitimas da Guerra - aparentemente existem umas vitimas mais vitimas que as outras, ou se calhar são as guerras que são mais guerras do que as outras, só não são tão chocantes porque os inquéritos de opinião mostram que 44% da população apoia esta medida. E é este apoio que, em último caso, é profundamente chocante.
Os Valores, tão apregoados, de solidariedade, de tolerância cultural e linguística, de protecção aqueles que fogem, não são verdadeiros. Assim que se sentem incomodados por gente que tenha um aspecto diferente, fale diferente, ou reze diferente, 4 em cada 10 britânicos não se importam de mandar os estranhos para Kigali, para o inferno, ou para o raio que o parta, desde que não fiquem a poluir a sua sagrada terrinha. Tenho a impressão que quanto mais escura a pele mais longe será o exílio.
Nada de novo! Já assim tinha sido com uma série de gente, desde as margens do Shanon até ao Transvaal ou ao interior australiano. Que o digam irlandeses, boers, zulos, kikuío, aborigenes, maoris e tantos tantos outros - de que os chagos foram apenas as últimas vitimas. Degredados, exilados, guetizados, sem que tenha causado escândalo de maior, mesmo nos anos sessenta... Porque seria diferente hoje em dia? 
Sim o fascismo existe, e existe entranhado na forma como há povos que se arrogam o direito de olhar pra outros com sobranceria e ideia de superioridade.
Para bem dos ucranianos é bom que a guerra na sua terra dure pouco. Se durar muito, as sorrientes faces dos seus aliados que os recebem calorosos, pode rapidamente tornar-se um esgar de desprezo ou ódio, capaz de cogitar enviá-los, quem sabe para a lua.

sábado, 21 de maio de 2022

Se isto é em Kiev, não há vergonha!

A imagem que junto a este apontamento foi publicada no Diário de Notícias on-line. Digo-o primeiramente para que não me acusem de reproduzir fotos sem indicar a sua proveniência e segundamente porque o jornal não indica o local onde foi colhida, pese embora todas as que a acompanham indicarem que é Kiev, capital da Ucrânia.
Se é Kiev então a desvergonha total tomou conta do governo ucraniano e dos seus responsáveis.
O cartaz é uma celebração da Grande Guerra patriótica contra a Alemanha nazi em 1941-1945. Relembra esse facto, em russo, junta uma insígnia do exército soviético em forma de estrela vermelha com a foice e o martelo.
Tudo seria normal, dado estarmos no mês da vitória sobre o Nazi-fascismo. Porém há coisas que não caem bem:
 1- Os simbolos soviéticos foram proíbidos e banida a sua exibição pública na Ucrânia após o golpe de 2014 (conhecido como Maidan), sob pena de multa e até de prisão. Como pode um cartaz deste governo, que criou e mantém este estado de coisas exibir públicamente a Estrela Vermelha e a Foice e o Martelo, em manifesta contradição com a sua própria lei? A resposta é clara. Procura hipocritamente apropriar-se de uma data e simbolos gratos à população, procurando limpar-se da imagem que tem intrinsecamente colada a si de seguidores de Bandera, nazis-fascistas, que proibiram o partido comunista e outros partidos de esquerda, perseguindo, torturando e matando os seus militantes.
2- O cartaz em questão está escrito em russo. Como pode um cartaz disponibilizado publicamente pelo Governo Ucraniano estar escrito em russo, quando foi o Governo saído do golpe de 2014 (conhecido como Maidan) na sua primeira legislação a retirar o estatuto de oficial à Lingua russa, proibindo o seu ensino, e hoje a proibir o seu uso em livros, jornais, rádios, revistas, emissões de televisão, e criminalizar com recurso a multas e até prisão quem fale, ensine ou aprenda esta lingua? A resposta não é difícil. O Governo de Kiev procura afastar de si as acusações de xenofobia, de prosseguir uma política em tudo semelhante ao apartheid sul-africano e às políticas contra as populações árabes sob controlo de Israel.
3- Como pode o Governo da Ucrânia disponibilizar publicamente um cartaz a celebrar a vitória do Exército Vermelho sobre o Nazi-fascismo, quando a celebração do Dia da Vitória está oficialmente proibida pelo Governo deste mesmo país, estando igualmente proíbidas as exposições públicas da Bandeira da Vitória (da URSS), das Estrelas Vermelhas do exército soviético ou a fita negra e laranja (fita de São Jorge) que celebram a resistência e luta contra o invasor Nazi, sob o risco de imediata identificação, prisão e entrega à polícia política SBU? A resposta é fácil. Mostrar a sua declarada simpatia e até mesmo adesão ao Banderismo-Nazi-Fascismo cairia muito mal junto daqueles que no ocidente não conseguiram ver com clareza o que de facto representa o Governo da Ucrânia pós Maidan, mas que abominam as doutrinas Nazi-fascistas. É necessário que acreditem que é um governo democrático e que nunca fez nada do que na realidade fez.
É por isso que é de uma total falta de vergonha, de um total desrespeito pelas vitimas do nazi-fascismo, de um total insulto a todos os povos que lutaram para derrotar a barbárie Nazi, inclusive o Povo Ucraniano, aquilo que este Governo está a fazer utlizando os simbolos e a lingua que proibiu, para fingir celebrar uma vitória que não é sua e que não sente e que gostaria de poder reverter historicamente.
Não temos dúvidas ou ilusões sobre a natureza e interesses que serve o actual governo da Rússia. Não temos dúvidas ou ilusões que não se trata de um governo socialista, com a menor inclinação socialista, ou menor simpatia com a causa da libertação dos povos. Mas pelo menos não procurou activamente promover e celebrar a ideologia ou os principios do Nazi-fascismo.
Por isso e apesar desta agressão não ser do interesse dos povos, a falsidade e falta de vergonha de quem em Kiev se quer manter, enganando quem de boa vontade se sente tocado pelo sofrimento das populações, não deixaremos o passo livre ao Fascismo e ao Nazismo. NÃO PASSARÃO!

sábado, 14 de maio de 2022

Aqui não há flores

(Este texto foi escrito para o 8 de Março, infelizmente não foi possível publicar na altura, hoje com o assassinato da Jornalista Palestiniana Sheeran Abu Aqleh achei adequado, por ser mulher, por ser uma lutadora pelo conhecimento da luta do seu povo, mas também pelo sucedido no seu funeral. Se tivesse sido uma actuação russa na Ucrânia, mesmo que não tivesse tido um décimo desta violência, já teria sido notícia da abertura em todos os telejornais por esse mundo fora. Assim como é na Palestina e perpetrada pelo ocupante israelita, provavelmente com sorte fará um meio minuto lá para o meio tempo.)

https://twitter.com/i/status/1525071164590129154

Há 100 anos que se celebra o dia 8 de Março, enquanto dia internacional da Mulher trabalhadora, que vulgarmente dito dia internacional da Mulher.
Quando Foi instituido, muito por força da acção de Clara Zetkin, este dia pretendia celebrar a luta e memória das trabalhadoras que haviam visto ceifar a suas vidas sob condições de trabalho desumanas em Nova Iorque, e as greves de trabalhadoras que se seguiram nos EUA com especial ênfase em Chicago. Com o tempo, e com o esbroar que as sociedades capitalistas tentaram impor ao significado deste dia, o dia internacional da Mulher, tornou-se uma coisa meio amorfa, em que se faz uma lembrançazinha das condições de desigualdade, sem aprofundar. Falam de questões como quotas de participação na política sem resolver questões sociais de fundo que são o que realmente impede essa igualdade, e especialmente se oferecem umas florzinhas, como se isso fosse mudar alguma coisa e alterar a condição de vida e realização pessoal e profissional das nossas compatriotas e de mulher no mundo.
Portanto aqui não haverá flores, nem quotas, nem lembrar esta ou aquela excepção de mulher de sucesso. Só haverá o recordar de rostos e nomes de mulheres que lutaram conscientes que a sua luta em nada difere da dos homens no objectivo da libertação da humanidade em relação às condições de opressão da sua existência. Sim falo das condições sociais e económicas, porque ao contrário do que alardeiam alguns, ninguém é livre de barriga vazia, doente, ou sem descanso merecido. Depois falo da liberdade de intervir, porque se a mulher pode subir à guilhotina também pode subir à tribuna. Por último porque enquanto não pudermos ser todos livres enquanto humanidade, ninguém será verdadeiramente livre.

segunda-feira, 9 de maio de 2022

Contra a mentira!

Hoje é o dia da Vitória. Faz anos hoje que a Bandeira soviética flutuou sobre a ruínas do Reichstag e ficou completa a debacle do Nazi-fascismo. Por mais voltas que queiram dar ao texto as memórias e os simbolos perduram nas histórias, nas mentes, nas lembranças, nas fotos, no sofrimento de muitos povos expostos à mais sanguinária ideologia alicerçada na ideia que existem homens e raças superiores, destinadas a ser senhores, e outras destinadas à escravatura ou à pura e simples destruição física e cultural.
Igual à bandeira vermelha a fita negra e laranja (fita de São Jorge) simbolo de resistência nos países soviéticos sob ocupação hitelariana, e que coloco na foto, foi celebrada e glorificada como sinal do triunfo dos povos sobre o nazi-fascismo.
Li que hoje na Cidade de Mariupol, pela primeira vez desde 2014, foi possível desfraldar esta fita e se celebrou também pela primeira vez desde essa data a capitulação das forças do Eixo na Europa.
O Governo Ucraniano fala hoje de fascismo russo e afirma que Putin e a Russia se tentam apropriar do Dia da Vitória. Em relação a Putin pode até ser verdade, mas não deixa de ser também verdade que se ele usa essa arma é porque os Governos Ucranianos desde o golpe de Maidan não só proibiram a celebração do dia da Vitória, como proibiram e criminalizaram os simbolos desta vitória, como a bandeira soviética e a fita de S. Jorge. Mas não fizeram só isso. Quando o Comité de Direitos Humanos da ONU propôs a condenação da glorificação do Nazismo e do Fascismo, o Governo Ucraniano votou contra.
Com estas acções o Governo Ucraniano que hoje chama os outros de fascistas foi, na realidade, o primeiro a vestir a pele do lobo.
A intervenção russa não se pode justificar, porque ainda que tenha sido grande o sofrimento das populações do Donbass, o sofrimento dos comunistas ucranianos, dos sindicalistas e outros militantes de esquerda, nunca os comunistas defenderam a intervenção de um país estrangeiro, defendendo que cabe ao povo desse país lutar internamente contra o regime levando-o a uma implacável derrota. Donde não seria intervindo militarmente que eficazmente se defenderia no futuro o direito dos povos da Ucrânia à paz, à liberdade e à democracia. Mas também não podem os comunistas deixar de sentir uma profunda repulsa pelas autoridades golpistas deste país, pelas suas políticas e especialmente por prosseguirem dentro e fora da Ucrânia as suas tentativas de reverter a história e garantir ao nazi-fascismo uma aceitação social e capacidade de reorganização para perseguir e eliminar, num futuro não tão distante, aqueles que se oponham aos seus objectivos de supermacia racial, cultural e linguística, que também serve bem ao capitalismo que os protegeu, nutriu, e acalentou, desde o fim da guerra com vista ao futuro.
Hoje não é possível ver celebrações da vitória sobre o nazismo em Kiev, em Lvov, em Kharcov. Não é possível aí desfraldar a bandeira vermelha, da foice e martelo com a estrela vermelha de cinco pontas, não é possível desfraldar a fita laranja e preta, nem usar as palavras que ilustram a foto e que garantem que ninguém ficará no esquecimento. Mas é possível gritar as palavras de Stepan Bandera, aliado de Hitler e hoje herói nacional proclamado pelo presente governo, desfraldar suásticas, sois negros das SS entre outra parafernália nazi.
Esperemos que a Paz chegue, mas que com ela venha também a erradicação desse flagelo da humanidade que é o nazi-fascismo.
Os que caíram não estão nem serão esquecidos. Não terão caído em vão a caminho de Berlim. Não terão caído em vão na libertação dos campos de extermínio, não terão caído em vão no cerco ao bunker onde se escondiam Hitler, Goebels e outros dos piores elementos do regime, nem terão caído em vão quando justiçaram Bandera em Frankfurt onde se havia refugiado.
Fascismo... Nunca mais!

segunda-feira, 7 de março de 2022

A mentira como arma

Li hoje um artigo no Jornal Observador que tecia as maiores aleivosias sobre os comunistas. Um artigo de um certo Luís Rosa que além de procurar semear o ódio, manipula factos por forma a obter os seus ensejos.
Não tenho pejo em dizer que detesto semelhante criatura, e muito antes deste artigo. Detesto pelo que me fez anos atrás ao descontextualizar palavras minhas de forma a parecer que eu estava fazendo uma acusação, que nem sequer poderia fazer por não ter provas, e que me valeu um processo que acabou num acordo, mas que me foi penoso.
Tal é a noção de deontologia do jornalista que agora fala de deontologia como se a deturpação que apresenta como correcta de facto o fosse.
Vamos por partes.
1- A isenção de um jornalista é uma mentira. Todos os jornalistas têm as suas opiniões e opções políticas, pretender que existe uma higienização é falso e, portanto o facto de um jornalista concorrer numa lista partidária não devia causar escândalo, o que o devia causar é o jornalista torcer diariamente factos para servir a determinados interesses sob uma suposta capa de imparcialidade.
2- Não foram aqueles que morreram, os que sofreram turturas, os que foram humilhados, aqueles que foram presos. Não fosse o Tarrafal, Peniche, Caxias, Aljube, Angra, S. Pedro e S. Paulo, entre outras, e os comunistas - a maioria dos que por aí passaram - Não fora as lutas que travaram, aquilo que sofreram, a resistência que tiveram, nem o Observador existia e provavelmente nem este jornalista o seria. É fácil democratar quando alguém construiu a democracia (muito imperfeita) onde ele vive sem ter mexido para isso sequer o dedo do pé direito.
3- Por cada crime que ele indica, esquece, por faz por isso todos os crimes cometidos contra os comunistas, e poderia começar pelos da Comuna de Paris em 1871. Quer contar mortos? Pois que os conte bem certos e que nenhum deles falte. conte na Indonésia, conte na Coreia do Sul, conte por toda a América Latina, conte-os na Guerra cívil de Espanha (anda hoje em plena "democracia" o segundo país com mais valas comuns do mundo, apenas ultrapassado pelo Cambodja e aí um governo intutulado de "vermelho" era abertamente apoiado pelos EUA, não se esqueça), conte-os na Africa do sul, no Saara ocidental, conte-os na Palestina, não deixe de os contar em todos os governos cujos governos, até os eleitos, que não agradavam ao capital, foram derrubados, e portanto até não se esqueça da Ucrânia de que hoje hipocritamente figem carpir as perdas.
Quisesse o capital que estes vivessem em PAZ e jamais teria financiado e planeado estas guerras.
4- Fechar os olhos e fingir desconhecer toda a história que aqui conduziu é apenas mais um acto da odiosa mentira com que se procuram ocultar os actos dos que na total indiferença perante as perdas, usam mortos como arma de arremesso sobre quem nada tem a ver. Não se pode andar para a frente sem olhar para trás, e portanto o jornalista em causa sabe, sabe poque não é ignorante, o que Bandera significa, o que Svoboda significa, o que Sector Direito significa, e não desconhece, porque contrariamente à informação que não dá conhece todas as acções e crimes cometidos e as mortes que também têm de ser contadas.
6- Sim os comunistas têm uma superioridade moral, aquela de quem diz hoje aquilo que dizia há dez, quinze trinta, cinquenta e mais anos pela PAZ e que os que defendiam uma lógica de confronto e guerra, calavam bem cumplices com gente menos que recomendável mas apresentada por certa comunicação social como defensores da liberdade. Sim eu não me esqueci do Chade, não me esqueci da Sadat, e não me esqueço da Colômbia, senhor jornalista. Não me esqueço do golpe na Bolivia perante uma eleições taxadas de fraudolentas pelo ocidente e que se provou não o serem, perante gente que atacou, prendeu e torturou gente inocente perante o silêncio mais do que cumplice de prezados jornalistas como o presente.
Têm os comunistas a superioridade moral, de quem procurou sempre estar com as populações, lutando contra a barbárie fascista, contra a barbárie nazi, contra a barbárie racista, contra a exploração monopolista e deu por isso a sua vida e o melhor dos seus dias. Tão mais fácil teria sido ir con a onda, mas aos comunistas não é o fácil que os guia.
7- Portanto antes de abrir a boca para falar dos comunistas em geral e dos portugueses em particular, pense naquilo que lhes deve. E ser tão desorelhado que pense que nada lhes deve, olhe para as colónias que não seriam independentes sem o esforço dos comunistas, olhe para os cuidados públicos de saúde que não usufruia sem o esforço dos comunistas, pense em coisas tão simples e básicas como o subsídio de natal, as férias pagas, o próprio fim de semana de goza ou o mero passe social, e, se for verdadeiramente honesto, veja se consegue negar que aos comunistas o deve.

sábado, 19 de fevereiro de 2022

O falso positivo

Desde Novembro de 2021 que a administração Biden vem tentando passar a ideia de que se desenvolve uma tentativa de invasão da Ucrânia pela Rússia. A avaliar pela quantidade de datas que até hoje foram avançadas pelo Governo dos EUA para essa invasão acontecer, já teriam sido invadidas três ou quatro Ucrânias . Mas não foi nenhuma.
Aliás os EUA indicaram que existiriam cerca de 70.000 homens em Novembro e no fim desse mês estariam 100.000. Depois disseram que afinal alguns tinham regressado aos seus quartéis, para logo dizerem que em princípio do ano se daria a invasão. Como não foi os EUA aprazaram-na para o início dos Jogos Olímpicos de Inverno. Como também não houve invasão insistiram que as forças russas estavam já preparadas e o número de cem mil tinha sido já atingido (algumas escribas da nossa praça já contaram 130.000, mas quem as conhece sabe que quando são os interesses dos EUA elas vão sempre com várias cabeças de avanço), marcando inequivocamente o início da invasão para Quarta dia 16 de Fevereiro.
Seguramente com as distrações de S. Valentim, alguém no Pentágono se esqueceu de avisar as forças russas e elas tornaram a falhar a data aprazada. É preciso azar...
Entretanto aproveitaram e rearmaram as tropas ucranianas, seguramente com destaque para o sector direito e o esquadrão Azov (duas organizações paramilitares neonazis com grande poder na "florescente democracia ucraniana", seguros que o respeito demonstrado pelos acordos de Minsk anteriormente se estenderiam ao cessar fogo, agora que se encontram bem armados (e não venham com tretas de armas exclusivamente defensivas porque em bom rigor tal coisa não existe).
Ao mesmo tempo começaram a espalhar que a Rússia iria desencadear uma operação de simulação de agressão para justificar uma invasão.
Penso que ninguém é tão tonto que va acreditar que depois de criar estes boatos os EUA não instigaram, armaram e criaram condições para levar de facto a Rússia a uma acção bélica. Tudo para colocar em causa a utilização do Gasoduto Nordstream 2, que os EUA nunca quiseram por desafiar os interesses comerciais de venda do seu gás de petróleo liquefeito, que a Ucrânia nunca quis por tornar obsoletos os gasodutos que vindos da Rússia percorrem o país e lhe garantem gás a preços mais baixos que o mercado.
No meio disto tudo está um falso direito de adesão à NATO. Direito que não existe desde que os EUA garantiram às então URSS que a reunificação alemã significaria que a NATO não avançaria um milímetro para Leste... Coisa que rapidamente esqueceram.
É óbvio que ninguém quer ter o inimigo às portas, e muito menos ter de lhe fornecer combustível barato. Porque no meio disto tudo ainda ninguém disse que a Rússia não tem obrigação nenhuma de vender gás à Ucrânia, que o quer não obstante querer ao mesmo tempo hostilizar o mesmo vizinho que lho vende.
Esperemos que separatistas de Donetsk e Lugansk sejam capazes de, com o mínimo de perdas, manter o status quo que garante às populações russofonas os seus direitos que, coisa que escamoteia também, foram totalmente obliterados com a revolução proto-fascista, apoiada pela UE abertamente, da Praça Maidan. Só assim será possível evitar uma guerra cujas consequências são totalmente imprevisíveis.

sábado, 29 de janeiro de 2022

Quem não cumpre o quê?

Aquando da “reunificação” da Alemanha, os EUA comprometeram-se com o então Presidente da União Soviética, que não haveria tropas da NATO nem expansão da aliança nos países vizinhos deste país. Com isso conseguiram a anuência do Governo soviético às acções políticas em relação ao Leste Europeu.
Aquando da desagregação da URSS, e apesar de ser totalmente contestável a manutenção da Crimeia – que nunca tinha sido parte da Ucrânia até 1959 – na Ucrânia contra a vontade da sua população, o ocidente permitiu que a mesma não fosse consultada sob o seu futuro e ninguém no ocidente se preocupou com as aspirações e direitos destas populações.
Aquando da “revolução”, amplamente instigada pelo ocidente, da Praça Maidan, “revolução” que colocou a extrema-direita nazi-fascista no poder, a língua russa – falada maioritária pela população do leste da Ucrânia (Donbass) e obviamente na Crimeia – foi proibida sem que EUA e os seus aliados ocidentais se importassem minimamente com os direitos humanos, linguísticos e culturais destas populações. Situação que conduziu ao levantamento militar e cessação da Crimeia.
Entretanto Roménia, Bulgária, Polónia, República Checa, Estónia, Letónia e Lituânia aderiram à NATO, levando forças abertamente hostis às fronteiras da Rússia. Quem foi que não cumpriu?
Os acordos de Minsk, para o cessar-fogo no Donbass, obrigavam a Rússia a não armar os rebeldes nesta região e a Ucrânia a retirar os seus exércitos e procurar uma saída negociada para o conflito. A realidade mostrou o incremento de militares e milícias nazi-fascista ucranianas junto das zonas de Donetsk e Lugansk. Quem foi que não cumpriu.
No fim do Outono passado os EUA acusavam a Rússia de concentrar tropas nas fronteiras com a Ucrânia, num total de 100.000 homens. A Rússia negou falou em 1/10 desse valor e alegou exercícios militares. A verdade é que não só nunca se confirmaram 100.000 homens, como os próprios meios de comunicação ocidental indicaram um regresso desses homens aos quartéis.
Nem um mês passou e os EUA, o Reino Unido e a NATO voltaram à carga, apontando que a Rússia iria invadir a Ucrânia no início do ano de 2022. Passou o início do ano e a Rússia não atacou. Já Janeiro vai avançado e nada se passou de ameaçador por parte da Rússia. Os EUA e os seus aliados garantem agora que em Fevereiro é que é, retirando pessoal das Embaixadas, num exercício de elevado dramatismo, a um ponto que nem União Europeia, nem a própria NATO acompanharam a iminência de qualquer invasão. As armas porém foram fornecidas às toneladas às Ucrânia. Armas essas que longe de serem meramente defensivas, vão desde munições a mísseis (onde inclusive procuraram colocar velhos canhões da Ex-RDA nas fronteiras dos países bálticos, embora tenham deparado com a oposição da Alemanha). Mais uma vez que não está a cumprir?
Não creio que vá haver nenhuma invasão, como não o houve no Donbass, limitando-se a Rússia a impedir a derrota militar destas zonas russofonas, como não houve qualquer invasão da Crimeia. Era público e notório que a maioria da população da Crimeia que era culturalmente e linguisticamente russa, nunca se sentiu ou aceitou bem a ligação às Ucrânia.
A inventona da invasão é absolutamente igual à inventona de uma revolução popular da Praça Maidan, mas antes um respaldar de forças anti-russas de natureza fascista, procurando expandir a esfera de influência norte-americana e condicionar a Rússia numa existência de estado vassalo dos interesses comerciais europeus e norte-americanos, como sucedeu logo após o desaparecimento da URSS. 
Quem não cumpriu a sua palavra sucessivamente, está muito claro. Se algo há a temer para o início de um conflito bélico, não é a Rússia mas os EUA e os seus aliados.