quarta-feira, 15 de junho de 2022

welcome to Hotel Rwanda!

(imagem iNews)

A generosidade do Governo de Sua Majestade Britânica não conhece limites. Profundamente sensibilizado pela falta de meios dos refugiados para gozar umas férias e conhecer o mundo, o Governo de Johnson propôs-se proporcionar aos refugiados provenientes do Irão, Iraque, Afeganistão, Siria, Ieman e Albânia, uma excitante estadia num destino exótico - neste caso o Ruanda.
Não sei se Kigali é bonito nesta época do ano, mas desconfio que sem bilhete de regresso, os candidatos a refúgio no Reino Unido vão ter muito tempo para descobrir, simplesmente porque não vão poder ir para lado nenhum nem tampouco sair daí.
Com modos refinados está o actual governo de sua majestade a condenar os refugiados ao exílio, mas não todos os refugiados. Apenas aquelas cuja presença em solo britânico não se possa traduzir em valor político, todos os outros são considerados indesejáveis.
A hipocrisia de um Governo que noite e dia acusa outros de desrespeito pelos direitos humano, a falta de vergonha de quem permanentemente afirma que tudo faz para aliviar o sofrimento das vitimas da Guerra - aparentemente existem umas vitimas mais vitimas que as outras, ou se calhar são as guerras que são mais guerras do que as outras, só não são tão chocantes porque os inquéritos de opinião mostram que 44% da população apoia esta medida. E é este apoio que, em último caso, é profundamente chocante.
Os Valores, tão apregoados, de solidariedade, de tolerância cultural e linguística, de protecção aqueles que fogem, não são verdadeiros. Assim que se sentem incomodados por gente que tenha um aspecto diferente, fale diferente, ou reze diferente, 4 em cada 10 britânicos não se importam de mandar os estranhos para Kigali, para o inferno, ou para o raio que o parta, desde que não fiquem a poluir a sua sagrada terrinha. Tenho a impressão que quanto mais escura a pele mais longe será o exílio.
Nada de novo! Já assim tinha sido com uma série de gente, desde as margens do Shanon até ao Transvaal ou ao interior australiano. Que o digam irlandeses, boers, zulos, kikuío, aborigenes, maoris e tantos tantos outros - de que os chagos foram apenas as últimas vitimas. Degredados, exilados, guetizados, sem que tenha causado escândalo de maior, mesmo nos anos sessenta... Porque seria diferente hoje em dia? 
Sim o fascismo existe, e existe entranhado na forma como há povos que se arrogam o direito de olhar pra outros com sobranceria e ideia de superioridade.
Para bem dos ucranianos é bom que a guerra na sua terra dure pouco. Se durar muito, as sorrientes faces dos seus aliados que os recebem calorosos, pode rapidamente tornar-se um esgar de desprezo ou ódio, capaz de cogitar enviá-los, quem sabe para a lua.