quinta-feira, 21 de junho de 2007

A Pré-Campanha de Lisboa

Nunca saberei quem no seu juízo perfeito pode chamar ao que se passa Pré-campanha. Na verdade as candidaturas estão já de facto num processo de campanha eleitoral assumida para a Câmara de Lisboa. A pré-campanha só serve, na realidade, para os meios de comunicação apadrinharem determinadas candidaturas em detrimento de outras. Por mais debates, eventos, contactos que existam, os jornais e as televisões (mesmo a pública que deveria ser de todos os cidadãos) impingem-nos o candidato que o Poder (o económico e o político, o no caso em questão os dois, porquanto os seus interesses confundem-se) quer ver ganhador.

Deveriamos questionár-nos não já sobre o estado da nossa democracia, mas, se é que vivemos sequer em democracia.

A Democracia não pode, nem deve ser a colocação de um voto em urna. É um processo decorrente da participação dos cadadãos na gestão da coisa pública que, e aí sim, culmina com a escolha dos gestores da mesma, seus representantes eleitos.

A confusão entre Estado e Governo do Estado, além de ser crítica para o funcionamento das instituições, é nefasta para o aprofundamento da capacidade de intervenção e fiscalização dos cidadãos sobre o desenvolvimento do próprio processo. É por isso que o poder detesta implementar, de facto, processos de participação pública. Tudo fazendo para os afogar, ou no mínimo limitar fortemente o seu campo de intervenção.

Quando o poder político é sobserviente ao poder económico, e ésta é uma realidade actual em todo o mundo industrializado (salvo raríssimas e honrosas excepções), a situação é extremamente grave, pois condiciona a informação, a formação, a educação e a cultura aos ditames desse mesmo poder económico. O que acaba criando o ciclo vicioso em que nos encontramos hoje.

Não é segredo para ninguém, e é até motivo de grande orgulho, que participo numa lista concorrente à Câmara Municipal de Lisboa. Lista essa que tem excelentes razões de queixa em relação ao meios de comunicação social. Não que acreditasse que estes eram livres e independentes (acho que excepto os bébés ninguém acredita hoje em semelhante patranha), mas que pelo menos se preocupassem em não estar tão óbviamente limitados em servir de correia de transmissão das opiniões dos seus patrões.

O poder deveria saber por experiências passadas, e não fora a sua estupidez e arrogância sabê-lo-iam, que quando a realidade e a imagem dada da realidade se afastam tanto uma da outra os processos de revolta começam a ser crescentes, tendo como epílogo normalmente episódios de violência, exporádica primeiro e revolucinaria depois.

Sempre, durante a existência do chamado Socialismo real, houve a preocupação, no ocidente, de constituir a imprensa como face crítica do poder, dando um escape às tensões sociais e arrefencendo o potêncial revolucionário que poderia surgir na sociedade. Daí o chamar-se à imprensa o quarto poder. A partir do momento em que o Capital julgou ter-se visto livre da ameaça que pendia, puxou a trela e os media, tais como bons cães adestrados, voltaram para junto do dono abanando a cauda.

As contradições existentes porém, não só não deixaram de existir como se vêm agudizando de forma muito clara, curiosamente validando a análise Marxista, que não se havia validado historicamente até então.

A tentação do Capital maximizar aqui também o seu poder (alavanca para a necessária maximização de lucros com o menor gasto possível de recurso)não vai, seguramente e graças às condições ideológicas da classe dominante, deixar margem de manobra para uma atitude diferente face à forma como as notícias e as ideias são transmitidas pela comunicação social. Isto acabará por se traduzir numa aparente vitória imediata, que já não conclusiva conforme julgavam os serventuários do regime aqui há alguns anos atrás, mas, devido às condições que essa vitória impõe às populações, a uma derrota futura estrondosa.