sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Quanta História cabe em 130 anos?



(este texto é o original do editorial de A Voz do Operário de Fevereiro de 2013, sem as amputações que teve de sofrer devido ao espaço disponível)
130 anos mesmo em termos humanos não é um intervalo de tempo que impeça o abarque da vida de duas gerações, donde não se pode considerar que seja o tempo necessário e suficiente para se produzirem e cimentarem alterações radicais na vida da humanidade. São porém intervalo de tempo bastante para o desenvolvimento de ideias e para acompanhar a vida, ou parte dela de inúmeros pensadores, que de alguma forma contribuam para que a humanidade vislumbre um pouco mais adiante. 

Poderia falar de muitos nomes, mas escolhi apenas números redondos que caibam nos 130 anos da Voz. 

30 anos antes de nascer esta instituição, enquanto tal, nasceu um homem que nos anos subsequentes seria um poeta, jornalista, professor e ideólogo da Revolução Nacional do seu país, e vizinhos, advogando a emancipação pela independência como um primeiro estágio da melhoria da situação material e espiritual do povo e do início da sua senda rumo a um futuro mais digno. A sua acção, aos vários níveis, cujo ideário se reflete ainda hoje não apenas em Cuba ou na América Latina, mas onde quer que exista um povo oprimido, compagina-se perfeitamente com o ideário da Voz do Operário, donde não poderia ser mais justo recordar o 160º aniversário de José Martí no ano dos 130 anos da Voz. 

Quando se completavam 90 anos desta casa, casa dedicada à instrução, aos jovens e às crianças, ensinando-os a olhar para diante, findava às mãos de interesses ligados à exploração dos homens a vida de um pensador, agrónomo, professor, pedagogo e estratego da luta de emancipação do seu povo e do homem, que na independência via o inicio da interdependência dos povos de forma fraterna e justa, fazendo com o que a melhoria das condições materiais e espirituais do todo fosse feito em comum, donde a libertação de um país fosse parte activa da libertação e emancipação do ser humano, não só na Guiné e Cabo-Verde, mas por toda a África e onde quer que a solidariedade nos leve a cooperar com o nosso semelhante pelo nosso futuro comum. Assim como para Amilcar Cabral as crianças são as flores da Revolução, assim o têm sido para a Voz ao longo destes 130 anos. 

Finalmente tinha a Voz do Operário 30 anos, nasceu outro homem, homem que cedo viu com clareza meridiana a opressão do seu povo e do seu país, as injustas condições em que vivia, identificou as causas e apontou caminhos a seguir. Lutou e resistiu como poucos resistiram a um estado de coisas que alguns queriam perpétuo e que a todos os instrumentos recorreram para o perpetuar. Pensador, escritor, pintor, revolucionário, trabalhou incessantemente para essa madrugada libertadora de Abril, que também a Voz sentiu e e pelo prosseguimento trabalho. O eco do pensamento de Álvaro Cunhal reverbera hoje, não só em Portugal, seu país, não só no solo europeu, mas em todo o lado onde as classes oprimidas lutam por quebrar o jugo do opressor, tendo em cada obra ou pensamento seu a ferramenta necessária para construção da sua própria Revolução. 

A história não cabe em 130 anos, nem cabe na vida de um só homem, e história dos homens faz-se de todos os homens, todos os dias. Mas na memória dos homens cabe a memória destes homens, e nos 130 anos da nossa história, cabe a história destes homens também.