terça-feira, 30 de agosto de 2016

G-O-L-P-E - golpe


Como explicar que se avança um processo de destituição de um presidente eleito com base no acto de atrasar pagamentos e recorrer a expedientes para não agravar aparentemente as contas do estado? Eu não digo que não é moralmente questionável e que não seja um delito. Porém não tem a gravidade para que sobre ele recaísse a figura da destituição.
Não. Evocar as chamadas "pedaladas fiscais" é uma hipocrisia fraudulenta para afastar uma Presidente por motivos políticos e ideológicos. Uma aliança entre ressabiados de mais uma derrota nas urnas, mas que se acham com direito divino de governar, e de curriptos assumidos, esses sim procurando escapar às malhas da justiça.
Essa aliança entre revanchistas e delinquentes, aliança que apenas poderia chegar ao poder através de golpe, é o motor de se apresentar como grave crime uma acção que, se assim tivesse sido julgada anteriormente, teria levado à destituição de TODOS os Presidentes pós ditadura (na ditadura não havia ninguém para fiscalizar), a praticamente TOTALIDADE dos Governadores dos Estados, e a VASTÍSSIMA PARTE dos Prefeitos das cidades brasileiras. Tal não aconteceu, nem foi reclamado, deixando claro o motivo de porquê agora.
O acto de destituição de Dilma Rousseff é um acto que usa a legislação distorcendo o seu espírito e exorbitando flagrantemente do processo democrático, deixando a avaliação na mão dos interessados.
O acto de destituição da Presidente é um Golpe gravíssimo em que o veredicto popular é ultrapassado e desconsiderado, substituindo-se as políticas sufragadas por outras de cariz inverso sem o aval da população.
O acto de substituição da Chefe de Estado eleita, por outra figura que apenas o poderia fazer em caso de impedimento ou subversão grave das instituições, é em si mesmo a essência do Golpe de Estado tal como se conhece classicamente a figura. 
Quem se apresta a perpetrar tal acto é bom que tenha em consciência, se é que a tem, que a história não deixará de analisa-lo, e pronunciar-se sobre a natureza das suas motivações. 
A História os conderá! 

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Que o chão se mova, não podemos evitar...

Foto: Expressodsilhas.sapo.cv

Os movimentos de placas na crusta terrestre quando lentos, sinal que estamos perante placas de dureza diferente, normalmente resultam em movimentos suaves, muitas das vezes quase imperceptíveis pelo ser humano. Porém quando são movimentos bruscos com quebra das placas de dureza semelhante, originando enrugamentos, são origem de chamados tremores de terra (ou sismos), libertando enormes quantidades de energia, que percebemos como movimentos ondulatórios simples - ondas P e ondas S - ou de interacção como as ondas L.
Estas situações são condicionantes de quem vive sobre o planeta e até hoje não foi encontrada forma eficiente de as prever e nenhuma de as evitar.
Poderia com isto parecer que o número de vítimas hoje na Itália, como no passado no Haiti, na Indonésia entre outros, são inevitabilidades e forças de um destino implacável. Não são!
Nos locais mais atreitos a estas situações impunha-se que os municípios imposessem normas de construção e reabilitação muito severas e que a fiscalização da utilização dos materiais fosse muito estrita. Contrariando aqueles que vivem dizendo que os regulamentos são uma restrição à liberdade, é necessário que se diga que estes só limitam a liberdade dos lucros impedindo todos os desmandos do capital, para o qual a vida humana não vale mais que qualquer ganho adicional nas suas contas bancárias.
Foi o laxismo promovido muitas das vezes pelos executivos abertamente de direita, ou social-democratas, a este respeito durante anos que permitiu à alguns anos atrás o desastre de Áquila, do qual poucas ou nenhumas ilações parecem ter tirado as elites dirigentes italianas mais interessadas em agradar aos negócios do que em tomar a defesa da vida e dos interesses das populações. Espantoso é que estas populações, vítimas directas destes procedimentos, rapidamente se esqueçam dos causadores do seu infortúnio e se deixem envolver na ladaínha da inevitabilidade dos desastres naturais . 
Com efeito o chão se mova, não podemos evitar! Mas que fiquemos debaixo dos escombros, isso sim podemos evitar.
Já agora, por mera curiosidade maliciosa, como seria se tivesse sido cá pelas nossas bandas?

sábado, 20 de agosto de 2016

Foram-se os bandos de chacais


Chegou-me hoje ao conhecimento uma notícia deveras interessante. É ao mesmo tempo uma tragédia é um exemplo acabado do que são os meios de comunicação nesta coisa que alguém por maldade, interesse ou mera estupidez, chamou um dia de "Mundo Livre".
A informação de que o Tribunal De Haia considerou na sua sentença sobre os crimes de Guerra na antiga Jugoslávia Slobodan Milosevic inocente, não será divulgada em nenhuma parangona, não terá nenhuma chamada de primeira página, e será com muita sorte que sairá sequer uma breve sobre o tema.
Diga-se de passagem o Tribunal Penal Internacional não fez rigorosamente nada pela divulgação da sentença. Sentença essa que não só não era a esperada como não era a desejada pelos poderes que dirigem a mão deste "tribunal", mais conhecido pelas suas orientações ideológicas do que pelo seu rigor legal e justiça.
Todas as calúnias e vilipêndios que sobre o dirigente Jugoslávo e Sérvio volsaram os meios de comunicação, pelo meio do seu emaranhado rigor jornalístico e isenção, contrariamente à sentença permanecem, sendo citados de tempos a tempos.
Com efeito mais uma vez nos vêm à memória as palavras de António Vieira: "Não vale a verdade a um inocente o que vale a mentira a mil culpados", e não conhecia ele os meios de difusão da actualidade... Que diria ele se os conhecesse?
Mentiras como estas conhecemos de sobra, sabemos como são elaboradas, muitas das vezes onde é até por quem. Mas até agora ninguém foi ainda responsabilizado alguma vez por elas. Não o foram em relação ao Chade, à Líbia, às armas de destruição maciça no Iraque, como continuam sendo em relação à Síria - onde agora vêm farisaicamente falar das prisões e dos mortos, quando há muito mais tempo se passam crimes de igual ou maior dimensão nas prisões marroquinas, dentro e fora do Sahara Ocidental ocupado, em relação à Crimeia, aos Resistentes do Dombass, etc.
Para procurar dar credibilidade à mentira, que em relação à Sérvia levou aos bombardeamentos e à invenção de um novo país, que nunca o foi e cuja identidade provinha de uma maioria imigrante - o Kosovo - cá se presta ao trabalho o TPI que, neste caso, por muito que procurasse nada encontrou que transformasse Milosevic no ditador sanguinário que pintaram, mas pelo contrário num homem preocupado e defensor dos direitos das minorias.
Qual o próximo passo? Se o tribunal não mata bem, a lei matemos também? 

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Portugal Olimpico


Com as olimpíadas quase no fim, a contabilização do nosso medalheiro é, no mínimo, modestíssimo. Fora a medalha de Bronze da Telma Monteiro nada mais se perspectiva.
A culpa não é dos atletas que, com grande dedicação e sacrifício, treinam anos em condições que na maior parte das vezes depende apenas do seu empenho, sem ou com poucos apoios, poucas oportunidades de competir mais vezes fora, sem ter condições de levarem os seus treinadores consigo, sem facilidades nos seus empregos ou estudos. Os resultados que vão obtendo escondem na maior parte das vezes as limitações a que estão sujeitos, mas nas olimpíadas em que a pressão psicológica é enorme ficam bem evidentes as limitações em termos de apoios até nesta área.
O Secretário de Estado da tutela disse que temos os apoios que podemos para um país pequeno e com poucos recursos. Que não podemos comparar-nós com grandes potências desportivas , nem com outros países vizinhos. Tem razão! Não podemos, nem devemos comparar-nós com países em que a riqueza e recursos podem garantir mais condições e portanto devemos olhar para a nossa ordem de grandeza. Poderemos comparar-nos à Grécia? mas essa conta já com dois títulos, com o Kosvo? conta já com um, com Cuba? já vai com dois e várias outras medalhas, com o Vietname? Com as Fiji? Temos seguramente mais recursos que eles é ainda assim todos eles, não falando de muitos outros têm delegações mais pequenas e, aparentemente mais produtivas. Donde a desculpa também não reside aí. 
Se o motivo não reside na falta de qualidade, de vontade e esforço, nos recursos existentes, reside em quê? Quanto a mim, leigo na matéria, reside na falta de planeamento a longo prazo, reside na falta de prática desportiva escolar a sério, reside no definhar das colectividade que colmatavam a grande falha do desporto nacional, reside na falta de equipamentos na quantidade suficiente para dar resposta às necessidades, na falta de aposta na formação de valores que tornem a competição interna mais equilibrada, na falta de apoios para a internacionalização dos valores que existem.
Enquanto o desporto não for pensado de baixo para cima, ou seja da quantidade de praticantes surgem os que têm capacidade e/ou a conseguem desenvolver, e for pensado na base do talento excepcional que aparece isolado, bem podemos esperar, fazê-los esfalfar-se, exigir-lhes resultados, fazê-los sentirem-se culpados, frustrados, e desmotivados perante as expectativas criadas e os sacrifícios que fizeram, que não vai resultar.
É que não é uma questão atlética, é uma opção política para uma política desportiva.
Quanto aos nossos atletas saúdo-os a todos e cada um pelo seu esforço, dedicação, sacrifício, e pelo seu desejo de representarem condignamente o país e o povo.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Guanta aldrabice...


Aquando da sua primeira eleição para o cargo de Presidente dos EUA, aquela em que parecia a segunda vinda do messias - com o devido respeito pelos crentes - o então nóvel residente do número 1 da Avenida de Pennsilvanya prometeu encerrar durante o seu mandato a prisão ilegal de Guantanamo. Prisão de resto num pedaço da Ilha de Cuba onde o inquilino americano se mantém, pese embora o senhorio há muito tenha denunciado o arrendamento - Sim o Governo dos EUA insiste em emitir um cheque anual de USD 2.000,00 por arrendamento da Base, ainda que este arrendamento tenha sido feito em 1903, com o presidente Tomás Estrada Palma.
A verdade é que o tempo passou, foi-se o primeiro mandato, veio o segundo, e a prisão lá foi ficando - cada vez mais arredada das TV's - e por lá foram ficando as criaturas anos a fio sem julgamento, mas aí não há direitos humanos que valham e até a Amnistia Internacional o melhor que consegue dizer é que enfraquece a postura dos EUA na matéria, deixando mãos livres a outros governos em matéria de direitos humanos. Seria rizivel não fosse trágico para as vidas de pessoas, culpadas ou não mas que têm direito de se defender, e que estão algumas há mais de 14 anos presas sem que alguma sentença existisse sobre elas.
Aqui continuam não existindo direitos constitucionais, até porque os EStados Unidos argumentam com um impressionante sofisma que a prisão não é em solo americano e os presos não são americanos, o que é no mínimo curioso quando se arrogam o direito de ir prender cidadãos estrangeiros em solo estrangeiro para os julgar em solo americano à luz de leis americanas.
Enfim... Mas nada disso interessa porque o máximo que se pode dizer é que enfraquece a posição norte-americana. 
Não obstante o segundo mandato assim como veio está a ir e 61 desafortunadas criaturas por lá permanecem, desconhecendo o dia de amanhã, depois de terem sido presas ilegalmente, transportadas ilegalmente para Guantanamo, sendo muitas vezes o seu paradeiro desconhecido de familiares e amigos, sujeitos a humilhações, maus tratos e torturas, sem direito a advogado ou defesa e encarcerados por tempo indeterminado que pode, eventualmente, chegar à morte.
Enfim ao fim de oito anos: Fechar... Direitos Humanos... Constituição... GUANTAldrabice!!! E quem sabe com o futuro empossado GUANTO tempo mais? 

sábado, 13 de agosto de 2016

O Homem Novo


Normalmente homenagear personalidades em vida é um pouco complicado. Primeiramente porque tem ainda tempo de opinarem e actuarem, para o bem ou para o mal, donde não se consegue fazer com uma clareza meridiana o balanço do seu legado. Depois porque a percepção que se causa ao fazer o panegírico ou a crítica é que se está fazendo o culto ou a detracção da pessoa em causa. Muitas vezes não é nenhuma das duas mas o que fica é a amarga sensação que cada um pode usar a análise para realçar ou atenuar facetas ao seu bel-prazer, enviesando para onde lhe dá mais jeito.
Após esta declaração é justo que se saúde Fidel Castro Ruz pelo seu nonagésimo aniversário. Grande parte da sua vida confunde-se com a História da ilha de Cuba e da sua Revolução.
Apenas gente muito alheia às realidade, enleada em interesses egotistas ou gente muito inconsciente ou mal intencionada, pode afirmar que Cuba pré-revolução era um lugar melhor para se viver. Que o diga aos camponeses do Interior, que  viviam nas mais miseráveis condições de sobre-exploração, sem acesso à educação, aos cuidados de saúde, a coisas tão simples como a existência de um sanitário. Mas também às populações urbanas das classes trabalhadoras que se amontoavam em bairros degradados também sem acesso aos mais básicos bens, espante-se até água potável. Digam-no aos que morriam tuberculosos, ás parturientes que perdiam os seus filhos por falta de assistência, e muitas outras situações em que a mercantilização do próprio ser humano era a única forma de fugir à necessidade.
Podem dizer que hoje ainda existem. Sim existem, mas uma sociedade mais justa não se constrói com facilidade assediada por um bloqueio, especialmente num país de recursos limitados.
E para aqueles que falam em encarceramentos e falta de liberdade, lhes diria que ou escondem ou ignoram tudo o que foi a ditadura de Batista e, aconselha-los-ia a perderem um pouco do seu tempo a informar-se e a entender porque é impensável ao povo cubano retroceder é impensável deixar ao livre curso quem defende esse regresso.
Fidel não é um homem perfeito, não os há, não é o homem novo, pese embora o esforço que desenvolveu para ao longo da vida se ir paulatinamente aproximando de o ser, fazendo a Revolução dentro de si à medida que a Revolução se ia fazendo no dia a dia  de Cuba. É por isso mais admirável.
Contrariamente ao Che ele ficou com a missão mais espinhosa, deter o poder. Espinhosa não porque com isso enfrentasse a morte todos os dias, como o Che, mas enfrentava o próprio deslumbre que o poder exerce sobre o homem é que poucos têm a força interior para não lhe sucumbir. Enfrentar ad dúvidas ideológicas que assaltam aqueles que têm o poder de decisão, enfrentar as deficiências de formação ou visão muitas vezes daqueles que estão próximos, ter de enfrentar ao mesmo tempo mudanças bruscas e retrocessos complicados de um mundo que a um dado momento parecia encaminhar-se mais rapidamente para o socialismo e afinal o caminho mostrou-se mais lento, levando ao fim da solidariedade e complicando também a situação de boicote que já dificultava tanto o normal funcionamento da ilha.
É sem dúvida uma viagem com muitos escolhos, erros vários, defeitos de análise e desvios, mas também uma viagem que com muitos acertos, análises acuradas e análises lúcidas, permitiu a Cuba manter uma via de desenvolvimento diferente da via da especulação e exploração, garantir ao povo cubano níveis de instrução, saúde e desenvolvimento humano incomparavelmente melhores que a totalidade da América latina e de muitos países ditos industrializados.
É uma obra que só um rumo de desenvolvimento numa via socialista poderia alcançar é só um homem profundamente empenhado na aprendizagem a cada momento do que é uma via socialista, capaz de fazer a sua aito-avaliação e auto-critica, em suma capaz de querer tornar-se de facto no Homem novo poderia ter conseguido.
É Fidel Castro o Homem novo? Não é. Mas é o exemplo mais conseguido de um homem que lutou uma vida inteira pelo seu povo, pelo socialismo e fazendo dentro de si próprio a Revolução para melhor prosseguir a luta. Não será ainda o homem novo, mas é sem duvida imprescindível para lá chegarmos.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

A Química da Guerra


Detesto ter que voltar a Alepo tão depressa. Acontece que a aleivosia do que é apresentado como notícia a isso obriga.
Os jihadistas nas suas várias facetas e apesar do respaldo dado pelos meios de comunicação ocidentais, não conseguiram nada, nem do anunciado nem do por anunciar - aliás isso mesmo já ficou patente nos jornais e televisões - agora pede-se ao Governo Sírio uma trégua de 24 a 48 para ajudar as populações, curiosamente ninguém o pediu quando eram os civis nas zonas governamentais a sofrer um cerco aqui à uns dois anos, e se os então chamados "rebeldes" ofereciam três horas já era demais. Pois agora parece que as horas encolheram e três já nem chegam para nada. Seguramente para rearmar e municiar estas forças é que seguramente não chegam.
Por outro lado reapareceram as acusações de utilização de armas químicas, atribuindo-se as culpas a... Claro as forças do Governo Sírio. Mas não deixa de ser curioso.... O Governo Sírio procedeu à colocação dos seus arsenais químicos sob o controlo das  Nações Unidas para destruição e desmontagem dos seus laboratórios. Isto foi feito sobre a égide da ONU e com verificação de peritos internacionais, peritos esses que declararam no final que a Síria tinha deixado de possuir armas químicas ou potencial para a sua produção. Isto não foi uma opinião foi  uma declaração oficial da ONU. Como é que agora, pela mão de elementos ligados no terreno aos "rebeldes" e do Observatório Sírio dos Direitos Humanos - um grupo ligado a estes interesses sedeado em Londres e que em toda esta história nem sequer pretendeu esconder a sua parcialidade - se dá crédito a este tipo de acusações, sabendo-se, o que é ainda mais grave, que os únicos laboratórios não inspeccionados e destruídos foram os UE estavam em poder destes "rebeldes"?
Já antes, em relação ao Iraque de Sadam Hussein assistimos ao espalhar de mentiras e acusações sobre armas de destruição maciça que nunca existiram. Donde a receita para obter reacções  pode ser da química da guerra, mas era já tempo de estar sem força, e totalmente desacreditada. 

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Em que ficamos?


Os recentissimos incêndios na Madeira deixaram muitíssimas questões por responder. A começar fica a questão da gestão da mancha florestal, com uma presença marcante de Eucalipto e Acácia, espécies "muito pouco, ou quase nada" dadas à propagação dos fogos florestais. A segunda questão prende-se com a limpeza das ervas que, em condições de muito calor, baixa humidade e ventos fortes são propícios à propagação das chamas. Terceira questão, o despovoamento dos centros históricos. Lojas e armazéns vazios, onde não existem sistemas internos de combate aos fogos, são o ideal para o avanço dos sinistros.
Para lá disto outras questões ficam: como é possível que se afirme, como fez o Presidente do Governo Regional da Madeira, que o incêndio estava controlado e a situação consolidada e, nem uma hora depois ter de pedir ajuda ao Governo da República, após afirmar ter a Região meios suficientes; como é possível não accionar os meios de emergência de forma a proceder à evacuação dos locais de trabalho, permitindo que a saída à hora normal tivesse lançado o caos no trânsito dificultando a acção do combate ao sinistro? Por fim o empréstimo pela República Italiana de um Canadair não pode deixar de causar surpresa, é surpresa não pelo empréstimo mas pelo facto de ser considerado essencial quando em 2007 se substituíram os Canadair pelos helicópteros pesados Kamov, Kamov que estão quase todos ou mesmo todos parados, e que, como até o Governo anterior percebeu não substituírem os Canadair no combate a fogos. Reconheceu mas não resolveu, depois do estudo indicar a necessidade de adquirir dois... Nenhum foi comprado.
Daqui se pergunta serviam ou não melhor que os Kamov, ou em complementaridade? Se sim porque foram vendidos pelo Estado português? Tendo ficado determinada essa necessidade porquê não foram adquiridos? Porque se esperou até ao ponto de ter de recorrer a um empréstimo de frota estrangeira? Responda quem para tal tiver competências, pois que por mim não o sei fazer. Mas responda porque todo o cidadão tem o direito de saber.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Como se moderniza a dependência?


Diz o DN que o "Fundo para a Revitalização apoiou 5 empresas com 10,6 milhões e quatro faliram. Tutela culpa queda da procura, concorrência e insuficiências de gestão."
A verdade porém é que este fundo se revelou incapaz de modernizar fosse o que fossa. Se os fundos, e foram muitos para bem poucos, tivessem sido utilizados para melhorar o equipamento a formação dos trabalhadores então teria existido uma real possibilidade de não terem perecido. De qualquer forma ainda que assim tivesse ocorrido a existência de uma moeda corrente forte, o que encarece as exportações, é sempre uma dificuldade acrescida para um país cujo mercado interno é quase desprezável por falta de poder aquisitivo, colocando-o na permanente dependência das condicionantes externas.
Enquanto o perfil do mercado interno não mudar, com o fim do paradigma dos baixos salários, enquanto a produção for primeiramente para satisfação de mercados estrangeiros, enquanto estivermos amarrados a uma moeda tendencialmente prejudicial às exportações e favorecedora das importações, fundos destinados a modernização são dinheiro deitado à rua, porque não há modernização que resista aos contras de uma economia que não está primeiramente ao serviço das necessidades internas e só depois à exportação e uma exportação baseada na sua qualidade intrínseca e atractividade externa, e não uma exportação que seja subserviente às tendências externas, apresentado o baixo custo de produção como a sua grande vantagem.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Crime de Genocídio


Não tenho por hábito escrever dois artigos no mesmo dia, porém a notícia que o diário catalão "El Periódico" de hoje é de tal maneira grave e chocante que não me é possível deixar para outro dia, especialmente sob o calor estival em que nos encontramos. 
Denuncia o jornal catalão que Israel está literalmente a chacinar o povo palestiniano recorrendo a uma arma absolutamente perversa: A sede.
Enquanto os colonatos são amplamente abastecidos de água, até para o enchimento de piscinas - actividade de notória primeira necessidade - as localidades da Cisjordânia estão a receber água uma vez cada a 25 dias, entre duas a quatro horas.  Fazendo os palestinianos depender de poços cuja qualidade não é assegurada, e da Mekorot (companhia de água israelita).
Mekorot que, a partir de Maio diminuiu o caudal de abastecimento às localidades da Cisjordânia. No entanto os inúmeros colonatos que aí pululam, que já recebem um abastecimento substancialmente maior durante o ano, vêem este abastecimento ainda reforçado.
Com o aumento da procura nos colonatos e estando diminuída a possibilidade de captação nos aquíferos o abastecimento as vilas e aldeias palestinianas é diminuído ou pura e simplesmente cortado.
Segundo o "El Periódico" a Mekorot alega que abastece os palestinianos com o mesmo caudal, porém são os próprios trabalhadores da empresa que testemunham que foi reduzido o abastecimento aos palestinianos por não haver água suficiente para os colonatos.
Para termos uma ideia da guerra perversa que o estado de Israel move contra a Palestina, basta ver que os colonatos são abastecidos 24 horas, enquanto os palestinianos fornecidos uma vez por mês, têm de recorrer a camiões cisterna, sendo a diferença de preço do metro cúbico entre as duas de 5 para 15 shequeis (€ 1,17 para € 3,5). A isto junta-se a diferença de acesso ao recurso que varia de 300 litros/pessoa por dia para os colonos, 240 para os restantes israelitas ruma média de 73 litros/pessoa por dia para a Cisjordânia - abaixo dos 100 litros recomendados pela OMS - sendo que em algumas comunidades é mesmo menos de 30 litros.
Na faixa de Gaza a situação é ainda mais dramática, atingindo foros de catástrofe para a saúde pública. Com as estações de dessalinização paradas por falta de peças para reparação, impedidas de entrar no território devido ao bloqueio israelita, com as fugas do sistema de águas residuais pelo mesmo motivo, pela demolição dos projectos de abastecimento - alguns financiados pela comunidade internacional - levadas a cabo por Israel e com a sobre-exploração dos aquíferos, únicas fontes de água, que conduzem à sua salinização, 96,4% da água em Gaza não se encontra dentro de padrões para consumo humano, sendo os níveis de cloretos muito acimados níveis toleráveis. 
A destruição assim provocada nas capacidades produtivas da Palestina e o atentado directo água saúde no presente e principalmente no futuro afectando irreversivelmente as gerações mais novas  é um acto de Guerra e, sem dúvida, deveria ser considerado um acto de genocídio, genocídio esse praticado não de uma uma forma rápida, como o aplicado pela Alemanha nazi, mas de uma forma lenta, porém não menos cruel.
Não gostam da comparação? Temos pena! Não se comportem como tal.  

Crónica da Cidade Branca


Branco é uma cor que, pela civilização ocidental, é assiciada à paz e à pugna por este bem maior da humanidade. Parece ser assim estranho que o nome da cidade de Alepo (Halab significa branco em Aramaico e o diminutivo em Árabe ash-Shahbaa, em Arábico: الشهباء, significa a mesma coisa) apareça tão ligado à Guerra civil na Síria. Mas na realidade a cidade fica numa encruzilhada estratégica que faz mover muitos interesses e dinheiro para garantir o seu controlo. É-o assim hoje, como já o foi no tempo do Império otomano, nas Cruzadas e desde o seu aparecimento à seis mil anos antes de Cristo.
Com o falhanço do golpe que EUA e os seus aliados pretendiam dar sobre o Governo de Assad, acobertado de Primavera Árabe. Golpe falhado mas que fez mostrar a face dos verdadeiros financiadores e suporte do terrorismo "islâmico". Tornou-se necessário, para que todo o edifício não rua em menos de um nada, impedir uma vitória decisiva do Exército Sírio sobre os grupelhos mais ou menos islâmitas, armados e financiados por Riad e Quatar sob a aprovação da CIA e do próprio governo dos EUA.
Assim procurou acumular-se todos os recursos ainda disponíveis num esforço de impedir o fechamento total do cerco a estes grupos, cerco esse que o Presidente Obama veio rapidamente chamar de medieval, esquecendo práticas do chamado Estado Islâmico que são incomparavelmente mais bárbaras e sobre as quais pouco ou  nada disse. Já para não referir certos usos internos mais próprios da idade das trevas do que de um país surgido do Iluminismo.
Deste modo as forças do Estado Islâmico e afins, como a Frante al-nusra, hoje rebatizada para não chamar tanto a atenção, puderam lançar uma contra ofensiva que, ainda decorria a batalha, e davam já os meios de comunicação do ocidente, mais o "desinteressadissimo" Observatório Sírio dos direitos humanos, como uma importantíssima vitória rebelde, gabando-a e celebrando-a em artigos de jornal e peças televisivas.
Quando a coisa afinal pareceu que não eram bem "favas contadas", e que não estava encontrado ainda vencedor da contenda, os jornais e televisões tiveram um ensurdecedor silêncio de quase 24 horas para virem depois dizer em pequenas, parece que... Mas as coisas estão voláteis.... Estava controlado, mas. Isto perante desmentidos do Exército Sírio garantindo que pese embora a violência dos contra-ataques foi possível manter posições.
Por aqui se vê que não custa muito aos media ocidentais por de lado as suas preocupações com o terrorismo e o fundamentalismo islâmico quando trata a garantir o tilintar nos alforges dos seus patrões.
Da manutenção de Aleppo nas mãos dos insurgentes islâmicos ou do garantir do domínio governamental da cidade branca muita coisa se jogará no médio oriente e na economia mundial. Porém uma coisa é certa não se alcançará a Paz fazendo com que os recursos da Síria caiam nas mãos da Wall Street, da City ou de Frankfurt e de parelha o território e povo sírio nas mãos das forças mais obscurantistas do momento histórico actual.
O Branco é a cor da paz. Oxalá Aleppo possa ostentar sempre esta cor no futuro.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Olim piadas


Estão prestes a ser declarados abertos os jogos da XXXI olimpíada da era moderna - pela primeira vez as Olimpíadas decorrem num país da América do Sul, pela primeira vez também organizadas por um país de língua oficial portuguesa. Deveriam ser um motivo de orgulho para todos quantos se reveem num modo diferente de fazer e ver o mundo. Infelizmente não é.
Não só o Brasil se deixou enlear no que pior existia na sua tradição, um certo desleixo, uma certa improvisação que um evento desta dimensão não perdoa, como os seus governantes tomaram a nuvem por Juno em relação à consolidação dos ganhos sociais do país que permitissem que a organização de um acontecimento do tamanho de uns Jogos Olímpicos não consumisse recursos absolutamente necessários para a educação, os sistemas de saúde, dos programas de luta contra a pobreza, transportes, habitação, entre outras. Esta situação fez com que uma parte significativa da população olhasse para as olimpíadas como show off, dedicando-lhes indiferença, desdém ou até mesmo aberta oposição. Nada disto ajudaria a colocar de pé um evento épico como este.
Depois quase em cima do acontecimento, o país é conduzido pela sua ala mais reaccionária e mesmo corrupta, mas com que o governo tinha feito alianças, bastante espúrias diga-se de passagem, para um processo golpista de destituição da chefe de estado, processo que não tendo terminado, e independentemente de como terminará, que deixará marcas profundíssimas no país e que começaram já a provocar retrocessos a um estado que não recomendaria a realização de umas olimpíadas.
Por fim o afastamento dos atletas da Federação Russa por dopping, embora nem a organização nem o governo brasileiro tenham disso responsabilidade, é uma situação confrangedora que o Rio 2016 não merecia. Confrangedora porque se acusou um país inteiro com provas perto das quais o dopping patrocinado pelos laboratórios americanos BALCO seria uma montanha inultrapassável e, no entanto nenhum dos atletas então envolvidos sofreu qualquer sanção. Norte-americanos, Suíços, Gregos, Espanhóis e muitos etc. nunca tiveram um afastamento das olimpíadas, e às vezes atletas de outras situações, com mais do que um controlo positivo e mais do que duas suspensões, e nada aconteceu. Estranhamente agora, atletas que nunca foram apanhados em qualquer controlo estão agora impedidos ou em vias disso, de participar nos jogos olímpicos.
Tivessem sido utilizados os mesmos critérios que anteriormente e, atleta a atleta, muito poucos seriam os atletas impedidos. Assim como se impõe um castigo a um país inteiro a questão passa a ser terem de provar que nunca acusaram dopping. Reverte-se o ónus da prova e afasta-se um país capaz de lutar pelas medalhas em quase todas as competições.
Isto por acaso leva-me a outra história. Após a reunificação alemã também a desaparecida RDA foi acusada de programas em larga escala de dopagem de atletas. Acusação essa que por vezes ainda se ouve por aí, tal foi a publicidade dada ao caso. Curiosamente a investigação correu levada a cabo por uma das principais acusadoras a Autoridade Federal de Desportos da então RFA. O resultado foi menos que pífio, e tirando três ou quatro casos de dopagem, nada se conseguiu apontar às autoridades e responsáveis desportivos da República Democrática, tanto assim que nenhuma medalha ou recorde obtido pode ser posto em causa.
Assim em resultado disto é que é o próprio medalheiro, o valor desportivo, e a qualidade que estará posta em causa nos jogos da XXXI olimpíada da era moderna.
Os deuses estão mesmo contra. O Brasil merecia melhor.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Como são pessoas de bem


Sempre que se fala das atrocidades cometidas pelos Turcos otomanos sobre outros povos, como Arménios, Assírios, Gregos do ponto, Constantinopolitanos, etc. muitas vozes se levantam como se a nação turca tivesse agido sempre com a maior lisura com os outros povos. Chegando a negar e a justificar essas acções ou, na impossibilidade a apontar atrocidades maiores supostamente cometidas por outros Estados - com ênfase para a União Soviética, sem nunca contudo terem apresentado evidências reais.
Ao ler hoje mesmo a descrição da vida na cidade Curda de Amed (Diyarbakir em Turco) e apesar do esforço em dourar a pílula, o cenário que se me colocou diante da vista foi de um nível de repressão absolutamente indigno, não só sobre a população directa, matando, prendendo e torturando, sobre a língua, que esteve proibida durante décadas, procurando torná-la extinta, mas destruindo as suas habitações nas sua ausência ou expulsando as populações e demolindo bairros inteiros, inclusivé zonas históricas classificadas pela UNESCO, das quais os especialistas dizem hoje nada mais haver a preservar, num atentado contra a cultura de todo um povo que só encontra paralelo nas acções do Estado Islâmico e nos Talibãs.
Estas acções que, fosse outro o Estado, como a vizinha Síria ou a Líbia de alguns anos, e já estariam no topo das condenações, afirmando-se serem os seus líderes chamados de genocidas. Como se trata da Turquia, em que o seu Presidente se recusa até a admitir a existência de Curdos, nada é sabido e quando é passaram já meses e às vezes até anos sobre os acontecimentos.
A perseguição física e cultural com a destruição dos próprios monumentos de um povo é um crime atroz e houvesse o mínimo de dignidade os dirigentes Tircos estariam a ser julgados nos tribunais  internacionais. Como não há, os tribunais internacionais, as amnistias internacionais, os observatórios dos direitos humanos só servem para observar aquilo que lhes dá jeito.