sábado, 13 de agosto de 2016

O Homem Novo


Normalmente homenagear personalidades em vida é um pouco complicado. Primeiramente porque tem ainda tempo de opinarem e actuarem, para o bem ou para o mal, donde não se consegue fazer com uma clareza meridiana o balanço do seu legado. Depois porque a percepção que se causa ao fazer o panegírico ou a crítica é que se está fazendo o culto ou a detracção da pessoa em causa. Muitas vezes não é nenhuma das duas mas o que fica é a amarga sensação que cada um pode usar a análise para realçar ou atenuar facetas ao seu bel-prazer, enviesando para onde lhe dá mais jeito.
Após esta declaração é justo que se saúde Fidel Castro Ruz pelo seu nonagésimo aniversário. Grande parte da sua vida confunde-se com a História da ilha de Cuba e da sua Revolução.
Apenas gente muito alheia às realidade, enleada em interesses egotistas ou gente muito inconsciente ou mal intencionada, pode afirmar que Cuba pré-revolução era um lugar melhor para se viver. Que o diga aos camponeses do Interior, que  viviam nas mais miseráveis condições de sobre-exploração, sem acesso à educação, aos cuidados de saúde, a coisas tão simples como a existência de um sanitário. Mas também às populações urbanas das classes trabalhadoras que se amontoavam em bairros degradados também sem acesso aos mais básicos bens, espante-se até água potável. Digam-no aos que morriam tuberculosos, ás parturientes que perdiam os seus filhos por falta de assistência, e muitas outras situações em que a mercantilização do próprio ser humano era a única forma de fugir à necessidade.
Podem dizer que hoje ainda existem. Sim existem, mas uma sociedade mais justa não se constrói com facilidade assediada por um bloqueio, especialmente num país de recursos limitados.
E para aqueles que falam em encarceramentos e falta de liberdade, lhes diria que ou escondem ou ignoram tudo o que foi a ditadura de Batista e, aconselha-los-ia a perderem um pouco do seu tempo a informar-se e a entender porque é impensável ao povo cubano retroceder é impensável deixar ao livre curso quem defende esse regresso.
Fidel não é um homem perfeito, não os há, não é o homem novo, pese embora o esforço que desenvolveu para ao longo da vida se ir paulatinamente aproximando de o ser, fazendo a Revolução dentro de si à medida que a Revolução se ia fazendo no dia a dia  de Cuba. É por isso mais admirável.
Contrariamente ao Che ele ficou com a missão mais espinhosa, deter o poder. Espinhosa não porque com isso enfrentasse a morte todos os dias, como o Che, mas enfrentava o próprio deslumbre que o poder exerce sobre o homem é que poucos têm a força interior para não lhe sucumbir. Enfrentar ad dúvidas ideológicas que assaltam aqueles que têm o poder de decisão, enfrentar as deficiências de formação ou visão muitas vezes daqueles que estão próximos, ter de enfrentar ao mesmo tempo mudanças bruscas e retrocessos complicados de um mundo que a um dado momento parecia encaminhar-se mais rapidamente para o socialismo e afinal o caminho mostrou-se mais lento, levando ao fim da solidariedade e complicando também a situação de boicote que já dificultava tanto o normal funcionamento da ilha.
É sem dúvida uma viagem com muitos escolhos, erros vários, defeitos de análise e desvios, mas também uma viagem que com muitos acertos, análises acuradas e análises lúcidas, permitiu a Cuba manter uma via de desenvolvimento diferente da via da especulação e exploração, garantir ao povo cubano níveis de instrução, saúde e desenvolvimento humano incomparavelmente melhores que a totalidade da América latina e de muitos países ditos industrializados.
É uma obra que só um rumo de desenvolvimento numa via socialista poderia alcançar é só um homem profundamente empenhado na aprendizagem a cada momento do que é uma via socialista, capaz de fazer a sua aito-avaliação e auto-critica, em suma capaz de querer tornar-se de facto no Homem novo poderia ter conseguido.
É Fidel Castro o Homem novo? Não é. Mas é o exemplo mais conseguido de um homem que lutou uma vida inteira pelo seu povo, pelo socialismo e fazendo dentro de si próprio a Revolução para melhor prosseguir a luta. Não será ainda o homem novo, mas é sem duvida imprescindível para lá chegarmos.

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