sábado, 21 de março de 2009

A seu favor - A favor de quem quer ter onde chegar a horas!

fonte: ww1.rtp.pt


O recente spot publicitário da Antena 1 é, no mínimo, particularmente infeliz. É particularmente infeliz, porque deixa uma imagem muito negativa dos profissionais desta rádio, em particular da jornalista em voz off.

Qualquer leigo, minimamente informado em jornalismo, sabe que um jornalista tem de se documentar sobre o assunto que está a tratar e a informar o ouvinte. De outro modo cai-se na absoluta manipulação da informação.

O spot da manifestação e do Rui, implica a incompetência da jornalista em causa, uma vez que qualquer manifestação nos tempos que correm é a favor dos empregos, dos salários e dos direitos laborais. Daí que quem se manifesta está a fazê-lo para que também o Rui tenha onde chegar a horas, seja o emprego, a casa, o médico, etc.
Sem emprego, sem salário, ou sem direitos, o desgraçado do Rui, bem pode estar dentro do carro, se é que ainda terá dinheiro para pagar o carro, mas não terá de chegar ao emprego a horas, porque está desempregado, já não irá para casa a horas, porque não pôde pagar a renda ou hipoteca, não poderá chegar ao médico a horas, porque não tem dinheiro para lá ir ou porque simplesmente o Hospital ou Centro de saúde da sua área deixou de existir, já para não falar na escola das crianças que ele já não pode comportar, e portanto devem estar com os parcos haveres que lhes restaram no banco traseiro, se sequer banco traseiro existir.

Visto isto, a nossa jornalista, que tão acintosamente afirma que a manifestação é contra o Rui, não só não está informada, como nem procura informar-se, sequer perguntando a algum manifestante.

Que o nosso jornalismo ia pelas ruas da amargura, nós já sabiamos, mas que se permita que um spot publicitário dê dele e seus profissionais tão má imagem, deveria ser alvo de protesto, processo e manifestação, tendo à cabeça a jornalista cuja voz é utilizada nesse mesmo spot.

É que esta manifestação, é também por si, para que tenha sempre onde chegar a horas.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Pode o Povo querer um Mundo Novo a sério



Mais de 200 mil pessoas, de qualquer ângulo que se veja é uma resposta impressionante à convocatória da CGTP-IN para a Manifestação de Hoje. Acabei de ouvir na Televisão um comentador afirmar que a CGTP se estava a aproveitar da situação de descontentamento. Confunde este comentador, que tem a veleidade de se achar jornalista, a necessidade que os trabalhadores de se fazerem ouvir com aproveitamento. Mesmo que só tivessem respondido ao apelo 10 pessoas, essas dez pessoas estariam sempre a protestar contra situações que são, no seu entender, injustas. É esta a natureza dos sindicatos e de uma Central Sindical. Porém ao mobilizar uma multidão destas significa que esta multidão e seguramente mais gente que se não manifestou, se encontra injustiçada, se encontra revoltada, contra a sua situação económica, laboral e até política. Isto não é aproveitamento, aproveitamento seria se estas pessoas ali estivessem ao engano, esperando manifestar-se sobre um assunto diverso do que que foi tratado. Aproveitamento seria se tivessem ido debater uma série de questões e descobrissem durante o processo que nada seria debatido. Aproveitamento seria se descobrissem que apenas servem de enquadramento para o seu suposto Lider falar. Isto sim seria aproveitamento, mas não foi isto que, contrariamente ao que tem sucedido em certos "eventos políticos", aconteceu.

Os mais de 200 mil portugueses que se manifestaram das Avenidas Joaquim António de Aguiar e António Augusto de Aguiar até aos Restauradores, aí comparecerem por verem que a sua situação, que estava longe de ser famosa, está hoje muito pior, e que o seu governo, em lugar de procurar soluções que salvaguardem não só as suas expectativas mas os seus direitos, prossegue políticas em defesa de uma duzia de priviligados, políticas que cerceiam gravemente os direitos laborais, retirando regalias que bem custaram a conquistar, tentando degradar os seus vinculos laborais, colocá-los a trabalhar mais por menos dinheiro, para liberalizar o seu despedimento, dando amplas possibilidades ao patronato de perseguir quem se oponha aos seus intentos, a quem proteste, a quem seja um problema.

Quem protestava sabia bem o que custa a luta nos locais de trabalho contra a polivalência, a flexissegurança, que nada tem de segurança, sabe bem o que custa o lei off, as medidas de avaliação arbiterária impostas aos professores e à função pública. Quem se manifestou, conhece bem o que são as horas prestadas a mais sem remuneração, os bancos de horas, a degradação da sua vida pessoal e familiar à mão do arbítrio de alguns.

Vi esta semana a situação de um trabalhador que, tendo cumprido as suas horas de trabalho e assinado o respectivo ponto, foi despedido por não se ter apresentado ao seu superior antes de sair. Tal infâmia, retrato das muitas infâmias espalhadas pelos sátrapas que se vão colocando nas chefias, são só possíveis no nosso país, por ter paulatinamente regredido, por vezes a situações de antes do 25 de Abril, a legislação que pauta os direitos de quem trabalha.

Era contra isto também que protestavam os mais de 200 mil que desceram a Avenida da Liberdade. Quem não compreende isto, desconhece não só a raiz dos problemas, como está completamente alheio do grau de sofrimento que se colocou aos trabalhadores, imposto não pela crise, mas pelo estabelecimento da obediência pelo terror, hoje espalhado pelos locais de trabalho. Quem não compreende isto, está vivendo uma mirífica ilusão sobre a qualidade dos direitos e leberdades do país em que vivemos. Quem isto não compreende, é cego ao mal estar que atravessa toda a sociedade portuguesa, das escolas aos Bairros sociais, das fábricas à administração pública, das pescas à agricultura, e à qual urge opor uma luta determinada. Era esta a luta dos mais de 200 mil.

quinta-feira, 12 de março de 2009

A morte do homem dos três nomes

João Bernardo Vieira na Proclamação da Independência do Estado da Guiné-Bissau(fonte: blogesforanadaevaotres.blogspot.com)

Este é um artigo que deveria ter sido públicado, no jornal "Registo" na passada segunda-feira dia 9 de Março, infelizmente, por motivos que desconheço, não o foi. Como entendo que não deveria deixar de o partilhar, será aqui publicado na integra.

Eu fui, e creio que fomos todos, apanhado de surpresa pelo assassinato do Presidente da Guiné-bissau, Nino Vieira. Não que surpreenda muito o facto, surpreende é o tempo e o modo. O modo porque a barbaridade do acto revela um crime movido por acto de vingança ou ódio e não por motivos políticos. O tempo porque Nino Vieira sobreviveu a várias crises e a uma deposição ao longo destes muitos anos em que marcou a vida da Guiné-Bissau.

A história de Nino é uma história que segue em paralelo com a da antiga colónia portuguesa, e se é um facto que tem um papel importante na proclamação da independência em Setembro de 73, também é verdade tem um papel maior ainda no “assassinato” do projecto do fundador da Nação – Amílcar Cabral.

Quando João Bernardo Vieira, de seu nome real, é chamado a proclamar, em Medina do Boé, a independência do Estado da Guiné-Bissau, este era entendido como mais um passo na aplicação do Projecto do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde, PAIGC, projecto esse que intentava pela primeira vez na história africana, e de forma pioneira a nível mundial, uma unidade de dois Estados, respeitando a auto governação de cada um, mas que visava a complementaridade económica e de desenvolvimento, por forma a garantir a melhoria das condições de vida e do entorno social de ambos os povos. Este princípio, que estava longe de se esgotar na realidade destas ex-colónias, era não só reprodutível em África, mas em muitas outras regiões do mundo, tocadas pelo subdesenvolvimento e pela realidade colonial da especialização de produções nas várias colónias.

Intentava assim Cabral, suprir as deficientes condições de produção agrícola das ilhas e ao mesmo tempo proporcionar que estas servissem como plataforma de escoamento das produções guineenses e manancial de quadros para o desenvolvimento autóctone deste país. A morte de Amílcar Cabral, resultou deste modo num atraso do desenvolvimento do continente africano, que pese embora os já longos anos passados do seu desaparecimento, ainda não foram superados.

Era por isto que Cabral tinha de morrer. Era por isto também, porque a morte do homem não conduziu à morte do seu projecto, continuado por homens como Luís Cabral, e Aristides Pereira, que em 1980, o comandante Kabi, a outra alcunha de guerra de Nino, levou a cabo o golpe de estado que depôs Luís Cabral, e que selou o fim do projecto do PAIGC, selando ao mesmo tempo o início do ciclo de pobreza e violência endémica na Guiné-Bissau.

Luís Cabral

(fonte:blogesforanadaevaotres.blogspot.com)

Aristides Pereira

(fonte:blogesforanadaevaotres.blogspot.com)

Infelizmente para os guineenses, infelizmente para os africanos, não é hoje possível nem exequível prosseguir o projecto de Cabral. Antes é necessário reencontrar os pontos onde esse projecto foi fracturado para permitir que possa vir a ser retomado, em novas bases e de forma mais ampla, daqui por trinta ou cinquenta anos. Só o desenvolvimento do Estado da Guiné-Bissau em termos económicos e humanos, libertando-se das redes de droga e de armas que o tolhem, pode contribuir para esse processo e para o fim de uma era.

Será a prova que os homens que se guiam por interesses, como Nino, de facto morrem. Mas aqueles que se movem por ideias e por dedicação aos povos, com projectos e objectivos que engrandecem a dignidade humana, continuam vivos.



Amilcar Cabral e a Luta de libertação

sexta-feira, 6 de março de 2009

Metade da Humanidade, até um pouco mais



Metade da humanidade, até um pouco mais, é constituída por mulheres. Esta realidade porém não tem servido para garantir a participação, satisfação das necessidades, igualdade de oportunidades e de salário, direito à educação, ao trabalho, fim da violência e maus tratos em ambiente doméstico, etc, etc, etc...

Quando no princípio do século Clara Zetkin, conseguiu fazer reconhecer a necessidade de um dia de luta e reflexão da condição da mulher, no seio da internacional Socialista. Quando após a Revolução de 1917, Alexandra Kolontai, consegui convencer os seus Camaradas da necessidade de estabelecer esse mesmo dia como memorial da luta das mulheres por condições de igualdade na União Soviética, estariam ambas longe de pensar que mais de uma centena de anos depois o fim da desigualdade gritante e desrespeito pelos direitos e liberdades, de mais de metade da humanidade, estaria ainda por realizar. Menos ainda pensariam que passados cem anos grande parte do planeta viva ainda com costumes e leis que negam esses princípios, pelos quais lutaram, reduzinda a mulher à condição de propriedade, impondo-lhe a ignorância como destino, a posse de uma ou várias a um homem que, por sua livre escolha, jámais teriam por companheiro, o sofrimento atroz da mutilação genital, a humilhação de indumentária, de impossibilidade de gerir a sua vida e muitas outras aberrações do mesmo tipo.

O Dia Internacional da Mulher Trabalhadora, pois é disso que na realidade se trata, surgiu como corolário de jornadas de luta das operárias de Nova Iorque, potenciadas pelo terrível incêndio que, pelas condições de trabalho miseráveis, vitimou a quase totalidade das trabalhadoras de uma fábrica de texteis.

Surgiu como corolário da luta por condições dignas de trabalho, mas cedo adoptou a luta por direitos sociais iguais, para quem já tinha impostos tantos deveres.

Hoje é comum chamar anodinamente de "Dia Internacional da Mulher", escamoteando quer as suas origens, quer a sua finalidade. Limitando a ser um dia em que se lembra vagamente que existem, e se lhes oferece o doce entorpecente de uma flor, para que se não lembre da dureza do dia-a-dia e das lutas que enfrenta.

É bom lembrar que não estão assim tão longe os anos que, entre nós, as mulheres dependiam da autorização do marido para viajar, alienar propriedade, em que lhes eram vedadas determinadas áreas de estudo e carreiras. É bom lembrar.

É bom lembrar também que não é com quotas que se establece a igualdade. É com preparação, motivação e com o cumprimento das normas legais que impedem que sejam remetidas a salários mais baixos, a funções hierarquicamente inferiores, a sacrificios da sua vida profissional em função quer da realização pessoal, quer da realização de marido e filhos. São estes os constrangimentos sociais a derrubar, não são uma questão de quotas.

As mulheres, como seres humanos integrais e capazes, podem e devem impôr-se pelo seu valor e capacidade, acrescentando algo á vida social, política e económica do país, para alem apenas do facto de serem mulheres. Aliás, o seu número vinha crescendo em Portugal, a nível de representatividade desde o 25 de Abril, de forma constante, mostrando a sua capacidade de intervenção. Hoje, com as quotas (que me parecem coisas horriveis, como se de incapazes se tratassem e não conseguissem vencer o mundo sem muletas, podemos ter mais mulheres artificialmente em lugares de decisão, mas não pessoas realmente empenhadas e preparadas para os processos políticos que se desenrolam. Não que não sejam capazes de o conseguir, mas porque infelizmente muitas delas se vão desmobilizar durante o processo por falta de preparação própria, e isto é tão mau para elas, quanto para todos.

Para que o Mundo seja mais igual e justo, as pessoas devem ser consideradas em função das suas qualidades, não pelo seu sexo, não pela cor da sua pele, não pela religião que professam, não pela orientação sexual que possuem. Quotas só servem para dividir o ser humano em categorias, para fomentar o mal estar e a luta entre grupos, desviando a humanidade das questões essenciais, ou seja a luta pelo fim da exploração. Quando isso acontecer finalmentente, então nasceremos nós humanidade verdadeiramente todos livres e iguais.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Magister Dixit

figura:Liberdade de Imprensa ou Liberdade de Imprensar? in josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br

É muito costume candidatos e candidaturas queixarem-se amargamente do pouco espaço que lhes é dado nos órgãos de comunicação social, vulgo media, o que veementemente negado por estes, e normalmente confirmado pelas autoridades "ditas" competentes na matéria.

Não é necessário um estudo muito complexo, aliás nem é necessário estudo nenhum, para verificar que o tratamento dado às diferentes sensibilidades políticas não é de todo igual. Normalmente aqueles que defendem um real alteração da situação merecem um maior descaso por parte dos jornais. Poderia dizer jornalistas, mas com frequência nem é este o caso, tratando-se das direcções dos jornais.

Um estudo referente à cobertura das últimas eleições em Lisboa, pelos Semanários Expresso e Sol, é mais do que eloquente e, pasme-se, foi elaborado pela Entidade Reguladora da Comunicação (ERC). Nele podem ler-se coisas como:

"Ambos os semanários conferiram, no período global, cobertura a todos os candidatos, embora com valores mais elevados para as sete mais votadas: António Costa, Carmona Rodrigues, Fernando Negrão, Helena Roseta, Sá Fernandes,Telmo Correia e Ruben de Carvalho. Em ambos os semanários a candidatura de Telmo Correia teve maior cobertura que a de Ruben de Carvalho;"

Donde se depreende facilmente que das Candidataturas mais relevantes eleitoralmente, a da CDU foi a que menor cobertura teve, inclusive menos que candidaturas menos votadas como Sá Fernandes - BE, ou do CDS/PP que nem sequer elegeu Vereadores. Quanto a cuidado de equidade e representatividade, estamos conversados.

Podemos ler mais à frente: "No Sol, apenas sete tiveram referência de primeira página. Nessas sete encontra-se a de Manuel Monteiro, estando ausente Ruben de Carvalho. No período oficial de campanha o Sol apenas mencionou na primeira página as candidaturas de António Costa, Fernando Negrão, Carmona Rodrigues e Helena Roseta;"

Logo, fica-se por aqui a saber que a democraticidade do SOL, não chega ao PCP. E que os nossos semanários vão oferecendo o mesmo ao nosso povo. E o que é válido para os semanários é válido para televisões, rádios e jornais diários. O que mostra que a Democracia é válida para estes senhores, só quando dá jeito, para tudo o resto é palavra vã.

Nota: Mandaram-me uma petição a favor dos Jornalistas do DN e JN, que se encontram em luta pelos seus postos de trabalho. Assinei. Assinei porque todos os trabalhadores têm direito ao seu posto de trabalho, porque são necessários e o trabalho não pode recair sob uns quantos super-explorados, e os outros na rua. Porque a redução de custos não se pode fazer degradando as condições laborais internas e colocando no desemprego trabalhadores realmente necessários e válidos. Estou solidário com os jornalistas, por muito que estes inúmeras vezes tenham vendido o seu sentido ético e democrático por medo de represálias. Ainda que estes não tenham resistido a situações cujo resultado é hoje este despedimento. Ainda que tenham sido cumplices, quer por acções, quer por omissões, do silenciamento de propostas sociais e políticas que vinham na defesa dos seus irmãos trabalhadores e deles mesmos.

Ainda assim estou solidário, estou solidário porque não quero que quando chegue a mim já seja tarde.

(O relatório pode ser lido na integra em: http://www.erc.pt/documentos/4%20Imprensa%20SEMANAL%20_Sintese%20conclusiva%20e%20Metodologia_.pdf)