sexta-feira, 25 de julho de 2008

26 de Julho


Amanhã, dia 26, é o aniversário do Assalto ao Quartel da Moncada com que se marca o início da Revolução Cubana. A celebração deste acontecemento tem um alcance muito superior ao que imediatamente se associa aos desenvolvimentos da Revolução e reverbera, não só nos anos de Socialismo Cubano, mas em todo o desenvolvimento da história da última metade do século XX, e na causa da libertação da América latina em relação aos ditames dos EUA, que se iniciaram com a Guerra do México, consolidando-se mais tarde com a Guerra Hispano-Americana e com a Doutrina Monroe.

Não podemos esquecer como os EUA se procuraram apossar dos recursos destes países, recorrendo à força se necessário. Apoiando e instigando nacionalismos e guerras, sempre que isso era do seu interesse: Entre a Bolivia e o Brasil, entre o Brasil e Paraguai, entre o Chile e a Bolivia, entre o Peru e o Equador, para mencionar apenas as principais; A independência do Panamá face à Colombia, por forma a garantir a construção do canal do mesmo nome; Mais recentemente com a intervenção agentes, ou directamente das suas tropas, de que são exemplos paradigmáticos o derrube do Governo Arbenz, na Guatemala, o golpe de Pinochet no Chile, que culminou com o assassinato do Presidente Allende e as atrocidades contra os militantes e simpatizantes da esquerda (facto aliás lugar comum em todos estes processos da Argentina à Colombia onde prosseguem ainda), o golpe militar contra o Governo Goulart, no Brasil, ou a ainda historicamente recente invasão de Grenada e derrube do Governo Bishop, para não falar da continua desestabilização dos Governos que colocavam os interesses dos seus cidadãos acima dos interesses dos EUA, como na Nicaragua sandinista, ou com a ainda recente tentativa de golpe na Venezuela, em que se maquinava a substituição de um governo eleito, por outro mais de acordo às vontades de quem detem o real poder em Washington.

Assim o acto libertador da Moncada, e o resultado alguns anos depois da libertação de Cuba face aos interesses do capital Norte-americano, simbolizam que é possivel lutar face a forças muito mais possantes, e que por vezes se conseguem abrir brechas nessas estruturas, minando o sistema.

Não quer dizer que depois de Cuba se tenham posto cobro às actividades levadas a cabo contra os interesses dos povos. Aliás muitos dos acontecimentos apontados acima são bem posteriores ao triunfo do Movimento do 26 de Julho em Havana, com Playa Giron (Baía dos Porcos) e o Boicote económico sobejamente conhecido, pelo caminho. Mas, no que representou de inspiração de luta e resistência por todas as Américas e não só, foi um golpe duríssimo para os objectivos do Capital internacional. Graças a uma capacidade tenaz e de um espírito de solidariedade profundamente revolucionário, foi possível por termo ao colonialismo, especialmente ao português (aquele que mais resistiu), ao Apartheid na África do Sul e na Rodésia, resistir contra o Governo de Mobuto no Zaire e, abrir as tais veredas por onde acabará por passar o homem do futuro, tal como nas palavras do último discurso de Salvador Allende.

Acabará por passar, mas só a luta garante a abertura desses caminhos, e toda a luta começa com um acto libertador, que no caso cubano foi a Moncada. Bebamos então, como diz o Canto dos Operários, à independência do Mundo.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

El deziocho de Julio

fonte:http://www.youtube.com/watch?v=Cq8LFWUzOK4


Passam hoje 72 do Levantamento fascista contra o legítimo governo da República Espanhola, esta é uma data que importa lembrar, e lembrar sempre. Não nos podemos esquecer que milhões de pessoas foram mortas, deslocadas, viveram no exílio, passaram por campos de concentração dentro e fora da Espanha, foram torturadas, viram serem-lhes negados os seus direitos cívicos, culturais, linguisticos, em feridas que duram até hoje na sociedade espanhola e que os vencedores procuraram e procuram ainda hoje esconder, com a cumplicidade activa de Governos que tentam por no mesmo prato da palança quem procurou activamente derrubar o Governo legitimamente constituído e quem o procurou defender.

Hoje a Espanha não é a República que as eleições municipais de 1931 impuseram, e que a vitória da Frente Popular, de Fevereiro de 1936, reforça. Esta é a única legitimidade possível, nem o desejo de Franco de restabelecer a Monarquia Burbónica, com um Rei que jurou lealdade aos principios do movimento de 18 de Julho, nem o Referendo constitucional, que a consagrou, porquanto qualquer um escolheria entre dois o mal menor, legitima o actual sistema do Estado Espanhol, ou sequer resolve as profundas contradições, raízes da violência declarada, ou subtíl que afecta as realções da sociedade, desdos eleitores até às autonomias.

A lei de memória tranquilizou e abriu caminho a que penosas situações, como as valas comuns, ou as epígrafes franquistas, que humilhavam os repubilicanos e lhes lembravam a cada momento que esta Espanha, com ar civilizado e europeu, estava longe de ser aquela pela qual se haviam batido, não resolveu os problemas mais profundos da impunidade dos fieis partidários e serventuários do fascismo, que lucraram grandemente, quer monetáriamente, quer em poder, com o levantamento militar e derrota da República.

Nada está portanto resolvido, e nunca poderia estar, enquanto se pretender apagar da memória dos povos os momentos em que puderam ser um pouco mais livres e viver com uma dignidade que antes lhes fora sempre negada. Enquanto as questões não forem retomadas no processo histórico, enquanto não houver justiça, que nunca poderá passar pela consideração de que é para todos um monumento que não é para si, por muito que o trabalho tenha sido o trabalho forçado dos Repúblicanos. Enquanto a legalidade do Estado o não for de facto. Não estaram criadas as condições para vencer os legados mais negros que a história de Espanha deixou. Isso só acontecerá com uma Espanha onde de igual para igual se reconheçam os povos que integram o estado, as classes que integram o país, sentindo-se verdadeiramente representados desde a mais alta hierarquia.

Viva la República

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Ás armas cidadãos

Prise de la Bastille

Hoje é dia de Revolução. 14 de Julho 1789 marcou de forma profunda e inapagável a história da humanidade. É certo que a Revolução francesa está muito longe de poder ser considerada um movimento de libertação do povo, mas é um ponto de viragem na história da sua libertação.

A Burguesia torna-se pela primeira vez na história detentora do poder, no que se pode considerar um extraordinário avanço face ao modelo aristocrático do "Antigo Regime".

Doravante, mal ou bem, o poder não provem mais do direito divino, mas da legitimidade que a população lhe confere. Além disso ao analisarmos a revolução aparece claro que esta só é possível graças à adesão das classes mais desfavorecidas, ainda sem a consciência de classe que haveria de ser forejada mais tarde, com a industrialização, mas ainda assim são estas as massas que impulsionam a revolução.

O facto de não existir uma consciência de classe, fruto da sua vasta maioria não serem assalariados, mas sim servos, e de não existir um enquadramento ideiológico, porquanto a "Montenha" não é capaz de dar as respostas em termos de organização social para lá da ascenção da Burguesia, educional e culturalmente mais preparada, são factores impeditivos de avanços mais profundos dos que se verificaram. Porém não poderiamos esperar saltar essa etapa da história da humanidade que é o desenvolvimento das capacidades realizadoras da Burguesia, sob a forma de capitalismo.

Os saltos epistemológicos que se verificaram com as revoluções seguintes, especialmente aqueles em que a industrialização incipiente não havia permitido o desenvolvimento de uma classe burguesa que tivesse posto em causa a aristocracia, só seriam possíveis graças ao desenvolvimento a partir da Revolução Francesa, de conceitos, factores e capacidades de análise (em grande parte também ao desenvolvimento filosófico alemão, posterior às invasões napoleónicas) que permitiram retirar ilações relativas às capacidades de consciencialização dos assalariados para a sua condição e capacidades de intervenção dos mesmos, no qual a França irá ser o balão de ensaio até à Comuna, do qual sairão ensinamentos para outros processos.

Deste modo, faz sentido, para um blog como este, celebrar um dos dias mais importantes do processo revolucionário francês - A tomada da Bastilha.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

A Mulher que morreu cem vezes



Ao longo destes perto de sete anos todos ficamos a conhecer a saga de Ingrid Betancourt. Para quem não seguiu a história do início, esta antiga candidata presidencial Colombiana foi detida pelas FARC, durante a campanha eleitoral, permanecendo detida desde então por este exército guerrilheiro.
É questionável qual o motivo que levou os revolucionários a procederem à detenção desta mulher. Em principio as suas propostas enquanto candidata até pareciam vir de encontro às aspirações das forças guerrilheiras. Contudo há uma coisa que é inquestionável e nunca é dita, é que o regime “democrático” do Presidente Uribe, chamado de corajoso por responsáveis editoriais cá da parvónia, procede à prisão sem acusação e desaparecimento de inúmeros lideres sindicais, perante o encolher de ombros dos poderes instituídos.
É também muito evidente que, a Sr.ª Betancourt, gozava no momento da sua libertação de uma boa saúde, facto aliás corroborado pelos médicos, o que contrasta flagrantemente com as notícias que lhe atribuíam um sem número de maleitas, desde doenças de pele, malária, infecções no fígado, etc., que a teriam já morto, tendo em conta as condições do seu cativeiro.
Ou seja, a pretexto de uma causa humana, que era a sua libertação, a imprensa, do nosso burgo e não só, mentiu. Mentiu e continua mentindo, quando, sem afirmar insinua que os “raptos” são um meio de financiamento das FARC, quando nem um só cêntimo foi pedido, em qualquer momento, em troca da Sr.ª Betancourt.
Não se quer dizer com isto que as forças armadas revolucionárias estejam isentas de responsabilidades, inclusive em parte do narcotráfico, mas estão muito longe de serem o bando de gangsters que alguns tentam fazer crer. Especialmente se comparados com o próprio governo Colombiano. Quanto a Ingrid, esperemos que se venha a recandidatar à Presidência Colombiana e que possa ser uma voz mais na busca do fim de um conflito de mais de quarenta anos.
in Registo

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Caem os Mitos

Fronte: Granma

“Morte (dirigindo-se à Vida fútil): Vês como falham os projectos fúteis que por vaidade disseste ter feito? Não têm base as grandezas inúteis, caem por si, só eu as aproveito.”
António Aleixo – Auto da Vida e da Morte


Quando aqui há um ano atrás, já em recuperação, Fidel Castro escreveu um texto no órgão central do Partido Comunista Cubano, “Granma”, criticando ferozmente ao ideia da produção de biocombustível a partir das culturas agrícolas, rapidamente um coro no Mundo Industrializado, incluindo muitos ambientalistas, se ergueu, reclamando desta tomada de posição, considerando-a atrasada, adversária de um desenvolvimento sustentável e ambientalmente sadio.

Rapidamente os adversários políticos, mas também inúmeras pessoas bem intencionadas, se posicionaram visando colocar Cuba, mas com ela também os comunistas, um pouco por todo o mundo, na posição de inimigos retrógrados do ambiente. Posições muitas vezes sustentadas em argumentos que tradicionalmente serviram para atirar sobre os países socialistas o ónus de defenderem um desenvolvimento produtivista, com índices de poluição muito elevados, e que mais uma vez serviram de arma de arremesso.

Em vez de atentarem nos avisos feitos sobre a ocupação dos solos, com culturas que não serviam para alimentar a população, em lugar de tomarem a devida nota sobre os riscos de provocar, através da especulação, a subida incomportável dos preços dos géneros de primeira necessidade, para a maioria da população, através do seu desvio para a produção de combustíveis, a grande maioria embarcou em rasgados elogios à postura dos países que se iniciaram nesse processo, saudando mesmo a Administração Norte-americana, pelo primeiro passo no sentindo do combate à produção de emissões de dióxido de carbono e da diminuição dos riscos de aquecimento global.

Durante algum tempo, quando a realidade do aumento de preços era mais que inegável, alguns tentaram atribuir essa aumento à melhoria da dieta dos Chineses e Indianos que, tendo passado a ingerir mais carne, provocariam pressão sobre o mercado das rações e das suas respectivas matérias primas.

Agora volvido mais de um ano, foi o próprio Banco Mundial (essa conhecida organização cripto-comunista) a responsabilizar a produção de biocombustíveis pelo aumento em 75% do preço dos produtos alimentares) (vide “Biocombustíveis acusados de terem criado a crise alimentar” in Público 5/07/2008). Indicando inclusive os povos da China e da península hindustânica se encontram completamente inocentes do crime de provocar a fome a nível mundial. De facto representam apenas, e ainda segundo esta instituição que não é conhecida pelo apreço pelas opiniões dos comunistas, um aumento incipiente.

Perante estes dados caem os não só os argumentos mas também a máscara de muitos dos nossos “fazedores de opinião” e opinadores de serviço, que papagueariam contra os marxistas qualquer coisa, por mais exótica que fosse, apenas para negarem o valor da análise económica e até ambiental desta ferramenta de análise. Contudo depois de caírem falácias e aldrabices a validade da análise à luz das suas premissas subsiste.