sábado, 29 de janeiro de 2022

Quem não cumpre o quê?

Aquando da “reunificação” da Alemanha, os EUA comprometeram-se com o então Presidente da União Soviética, que não haveria tropas da NATO nem expansão da aliança nos países vizinhos deste país. Com isso conseguiram a anuência do Governo soviético às acções políticas em relação ao Leste Europeu.
Aquando da desagregação da URSS, e apesar de ser totalmente contestável a manutenção da Crimeia – que nunca tinha sido parte da Ucrânia até 1959 – na Ucrânia contra a vontade da sua população, o ocidente permitiu que a mesma não fosse consultada sob o seu futuro e ninguém no ocidente se preocupou com as aspirações e direitos destas populações.
Aquando da “revolução”, amplamente instigada pelo ocidente, da Praça Maidan, “revolução” que colocou a extrema-direita nazi-fascista no poder, a língua russa – falada maioritária pela população do leste da Ucrânia (Donbass) e obviamente na Crimeia – foi proibida sem que EUA e os seus aliados ocidentais se importassem minimamente com os direitos humanos, linguísticos e culturais destas populações. Situação que conduziu ao levantamento militar e cessação da Crimeia.
Entretanto Roménia, Bulgária, Polónia, República Checa, Estónia, Letónia e Lituânia aderiram à NATO, levando forças abertamente hostis às fronteiras da Rússia. Quem foi que não cumpriu?
Os acordos de Minsk, para o cessar-fogo no Donbass, obrigavam a Rússia a não armar os rebeldes nesta região e a Ucrânia a retirar os seus exércitos e procurar uma saída negociada para o conflito. A realidade mostrou o incremento de militares e milícias nazi-fascista ucranianas junto das zonas de Donetsk e Lugansk. Quem foi que não cumpriu.
No fim do Outono passado os EUA acusavam a Rússia de concentrar tropas nas fronteiras com a Ucrânia, num total de 100.000 homens. A Rússia negou falou em 1/10 desse valor e alegou exercícios militares. A verdade é que não só nunca se confirmaram 100.000 homens, como os próprios meios de comunicação ocidental indicaram um regresso desses homens aos quartéis.
Nem um mês passou e os EUA, o Reino Unido e a NATO voltaram à carga, apontando que a Rússia iria invadir a Ucrânia no início do ano de 2022. Passou o início do ano e a Rússia não atacou. Já Janeiro vai avançado e nada se passou de ameaçador por parte da Rússia. Os EUA e os seus aliados garantem agora que em Fevereiro é que é, retirando pessoal das Embaixadas, num exercício de elevado dramatismo, a um ponto que nem União Europeia, nem a própria NATO acompanharam a iminência de qualquer invasão. As armas porém foram fornecidas às toneladas às Ucrânia. Armas essas que longe de serem meramente defensivas, vão desde munições a mísseis (onde inclusive procuraram colocar velhos canhões da Ex-RDA nas fronteiras dos países bálticos, embora tenham deparado com a oposição da Alemanha). Mais uma vez que não está a cumprir?
Não creio que vá haver nenhuma invasão, como não o houve no Donbass, limitando-se a Rússia a impedir a derrota militar destas zonas russofonas, como não houve qualquer invasão da Crimeia. Era público e notório que a maioria da população da Crimeia que era culturalmente e linguisticamente russa, nunca se sentiu ou aceitou bem a ligação às Ucrânia.
A inventona da invasão é absolutamente igual à inventona de uma revolução popular da Praça Maidan, mas antes um respaldar de forças anti-russas de natureza fascista, procurando expandir a esfera de influência norte-americana e condicionar a Rússia numa existência de estado vassalo dos interesses comerciais europeus e norte-americanos, como sucedeu logo após o desaparecimento da URSS. 
Quem não cumpriu a sua palavra sucessivamente, está muito claro. Se algo há a temer para o início de um conflito bélico, não é a Rússia mas os EUA e os seus aliados.