quinta-feira, 25 de junho de 2009

A Mascarada, a chantagem e os figurantes



Depois de terem visto recusada, em votação pelos trabalhadores, a sua proposta de sábados de produção, a administração da Autoeuropa avançou com medidas unilaterais de suspensão de trabalho por dez dias, na prática um lay off, com perda de salário por parte dos trabalhadores na ordem dos € 500,00 por ano.

Com velocidade estonteante vieram os jornais dizer que os trabalhadores ficam sujeitos a uma situação pior do que a inscrita no rejeitado pré-acordo.

Poderá até ser verdade que as condições draconianas sejam piores, o que isso não justifica é que se mascare de negociação a proposta anterior. Em ambos os casos os trabalhadores saíam a perder, um pouco mais rápido ou um pouco mais lentamente, mas em nenhum dos casos viam aumentar direitos ou regalias.

A tentativa de disfarçar a imposição de más soluções com processo negocial e decisão democrática é profundamente obscena, porque a intenção era apresentar a Autoeuropa como um modelo de relação laboral que não existe. As decisões são impostas pela administração e a escolha é meramente de mitigação. Se os trabalhadores rejeitarem não existem esforços para se chegar a uma solução equilibrada, apenas se impõem unilateralmente as medidas.

Aquilo que aconteceu, haja ou não nova votação na ponta da baioneta, deixou claro que a relação é exactamente aquela que sempre foi na clássica exploração: Quem tem a força manda, quem não tem sujeita-se. Sujeita-se às imposições do pré-acordo, que tinha achado no seu intimo inaceitáveis e atentatórias dos seus direitos, ou sujeita-se directamente aos actos vindicativos de uma administração que não pode ver vingar a sua encenação de democracia.

Pelo meio estão aqueles dirigentes que tinham o dever de zelar pelas justas reivindicações dos seus colegas. Que deveriam estar solidários com a sua condição. Que deveriam promover o desmascarar das encenações montadas. Que deveriam lutar pelo esclarecimento dos seus companheiros e da sociedade para esta situação. E que em lugar de tudo isto servem de correia de transmissão do poder, económico ou político, servem de disfarce deste tipo de mascarada de negociação, contribuindo para a perda de direitos e esmorecimento de justas lutas não só na sua empresa como em várias outras pelo país fora.

Este tipo de dirigentes contribuiu ao longo do último século e meio para a degradação das condições de vida e de trabalho dos seus semelhantes, a degradação da vida em sociedade, desorganizando vidas e famílias, contribuindo a montante para as situações de falta de acompanhamento de crianças e jovem com a consequente desagregação social e fenómenos anti-sociais.

Os crimes, porque de crimes sem por mãos se tratam, que este tipo de gente tem sido responsável, nunca são socialmente contabilizados, nem sequer analisados no dissecar dos comportamentos em sociedade, porém se um dia o vierem a ser que pesem primeiro que tudo na sua consciência porque é o único inferno de onde não há fuga possível, mas que lhos sejam sempre lembrados.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Há leis e leizinhas



Este é mais um texto que o Registo entendeu por bem não publicar. Porem como dizia Aleixo
"Quem pára a água que corre,
é por si mesmo enganado.
o ribeirinho não morre...
vai correr para outro lado"


Espero que seja esclarecedor.

Aproveitando a nacionalíssima data do 10 de Junho o Presidente da República aproveitou para vetar as alterações à Lei do Financiamento dos Partidos Políticos. Com a hipocrisia costumeira, PSD e CDS-PP aprestaram-se a louvar a presidencial iniciativa, como se não tivessem avalisado com o seu voto a referida Lei. Mais rápido do que é vulgar veio o Bloco afirmar que por eles está a questão encerrada, não esclarecendo nunca se justa era quando por eles foi votada. Ficou o PS ó tio, ó tio, com a criança nos braços, pretendendo enjeitá-la mas não sabendo bem como.
Afinal de que têm medo? No fundo só da mentira. A Lei que foi agora vetada não diminuía o controlo das contas dos partidos, nem aumentava a possibilidade de financiamentos por sacos, malas ou cabazes fosse do que fosse. O que dizia a lei, neste contexto era que as entradas em dinheiro poderiam atingir um patamar superior. Isto para permitir que os militantes que não possuíssem conta no banco, o que acontece com os mais pobres e com quotas mais exíguas, o pudessem fazer sem ter que recorrer ao amigo que transforma os valores em cheques de donativo e os entrega ao Partido, funcionamento mil vezes menos claro e transparente.
Resolvia também as contas da Festa do Avante pela simples razão que ninguém, no seu juízo perfeito, vai pagar um café, um gelado, uma bebida ou uma rifa com cheque. Coisa que aliás não acontece seguramente em nenhuma festa ou feira por esse país fora e ninguém ficou mais ou menos corrupto por isso.
A única questão a levantar, que nem se prendia com isso, era o aumento do financiamento do Estado e esse foi o único ponto que jornais e comentadores não levantaram. Possivelmente porque ao contrário do PCP que vive em 90% das quotas dos militantes, mesmo que pequeninas, os restantes partidos vivem do dinheiro do Estado, logo convém que este aumente.
Aquilo que se disse e escreveu sobre esta lei era absolutamente falso, e o presidente só agora a vetou não porque não quisesse perturbar as eleições, mas por receio que um debate às claras denunciasse os propósitos dos que queriam esta lei vetada.
Desengane-se V. Ex.a, desenganem-se os senhores comentadores e jornalistas, que não é assim que lá vão, não é assim que sufocam o PCP, não é assim que o obrigam a entrar no jogo dos financiamentos, nem é assim que põem termo à Festa do Avante. A festa, o partido e os seus militantes são do povo e a este pertencem, só pondo fim ao povo põem fim às suas manifestações nas várias vertentes. Vão atrever-se a fazer isso?

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Sinais



Os resultados das eleições para o Parlamento Europeu deveriam ser vistos como sinais. Sinais de que há uma população farta de políticas que não servem o seu bem-estar, farta de ver as regalias virem sempre para os mesmos, fatra de ver ser-lhes negado sucessivamente o direito a usufruir da riqueza gerada pelo país. Uma população que quer mais e melhor, que sente que com o seu trabalho constroi um país do qual merece ter usufruto. Foi este um dos sinais.
Foi também sinal que apesar dos cercos e silenciamentos, apesar dos boicotes e das mentiras, apesar das pressões e intimidações que existem por aí, houve um reforço seguro da Esquerda.
Sinais também aqueles que pensam que ter atingido o seu objectivo, mostrando claramente que os projectos pouco sólidos podem ter um crescimento rápido, imediato, mas que será tão efémero quanto efémeras são as vontades que deles se depositaram, e que voláteis voltam à partida assim que vislumbrem satisfeitas pequenas ansiedades ou que detectem algum risco mais real para o sistema que acarinham.
Não podemos ter qualquer dúvida, que ainda que as condições fossem difíceis, ainda que se tivesse criado um escape para os mais preconceituosos, ainda que nos dessem à partida estagnados e incapazes. Surgimos reforçados, em votos e em vontades, com certeza da justeza da nossa luta e coerência das nossas propostas.
É verdade que muitos votos serviram para eleger deputados que, se prosseguirem tão inuteis como inuteis têm sido, pouco ou nenhum serviço poderão prestar ao nosso país e ao nosso povo. Quem conhece as suas práticas sabe disto, quem acreditou ou fingiu ter acreditado, ficará por demais evidente. Entretanto continuam as dificuldades que na Europa se fazem, mas que como povo pagamos. Prometemos resistir-lhes.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Os Grandes Homens não morrem



Não pensava retornar tão cedo a este tema, não pensava que um dos homens a quem tenho dedicado algumas linhas deste meu blog nos tivesse já deixado. Coube a Luís Cabral a tarefa de ser o primeiro Presidente da Guiné-Bissau independente, coube-lhe talvez assim a mais ingrata tarefa na sucessão do seu irmão Amilcar. Tarefa mais difícil pois no projecto de União do PAIGC, a Guiné por não ter quadros próprios formados em quantidade suficiente era a parte mais dependente e mais sensível pela quantidade de povos, com hitórias e linguas diversas, que aí também se cruzavam.
É certo que potêncialmente muito mais rica do que Cabo-Verde, faltava à Guiné a homogeneidade cultural e o investimento em formação que, de alguma forma tinha existido nas ilhas. Não superadas estas condições, até por motivos interinsecos ao próprio movimento, que começou a fracturar em volta destas questões logo após as independências, tornou-se primeiro extramamente difícil gerir estas contradições e por fim completamente impossível, especialmente para um homem nascido e criado em Cabo Verde.
Com o golpe militar de 80, tal como aqui já disse, foi posto termo a este projecto original e a Guiná-Bissau afundou-se em contradições etnicas que ressuriram com bastante evidência, não tendo tido tempo de formar e preparar os quadros próprios previstos e deixando de ter a colaboração dos quadros cabo-verdianos.
Apesar das muitas alterações políticas posteriores, Luís não retornou à cena política guiniense. Não que a sorte do país tivesse deixado de lhe interessar, mas porque via com muita clareza a impossíbilidade de retomar o projecto do PAIGC e não lhe interessar o poder apenas pelo poder.
É neste ponto que reside a diferença de outros governantes, a ele, assim como a Aristides Pereira, só interessava o exercício do poder em nome de um projecto de desenvolvimento e não em prol de projectos pessoais. Por isso mesmo disse há uns meses que os grandes homens nunca morrem. Por isso mesmo mais uma vez Cabral ca morrê.