terça-feira, 26 de julho de 2016

Navegação de Cabotagem


Os barcos menores, com menos meios ou potência, não se arriscam normalmente no mar largo, navegam com a costa à vista. Tem esta forma de navegação o efeito de não se correr o risco do desconhecido e também de jogar com a previsibilidade das situações.
Esta visão marítima no entanto, não se relaciona nem com os marinos convites da época estival e tampouco com resquícios da regata dos grandes navios que sulcaram as águas tágides no último fim de semana. Tem a ver mais com os comportamentos humanos e com a forma como a esperteza, mesmo sem ser saloia, vai conduzindo o seu senhor por entre as rochas e os baixios, mantendo entre gregos e troianos uma satisfação suficiente qb para garantir a chegada ao seu bom porto.
O ainda nóvel inquilino de Belém, sem que vá demonstrando grandes rasgos, vai adoçando as bocas a uns e outros mantendo popularidades mesmo fazendo pela calada as suas tropelias.
O recente veto presidencial contra a manutenção pública da Sociedade de Transportes Colectivos do Porto, é em si uma boa revelação do sentir profundo e da ideologia orientadora do magistrado. Mas, antes que isso fosse demasiado notório e levasse a uma imediata confrontação com os partidos signatários das posições comuns, rapidamente promulgou a separação das companhias, Carris, Metro e Trastejo que a direita havia colocado sobre o chapéu da Transportes de Lisboa para melhor privatizar.
Daqui há duas lições que não se devem desprezar e muito menos descorar a atenção às acções do nosso sorridente presidente.
Uma é que qualquer acção que seja claramente de direita, virá sempre acompanhada por outra que seja "moderada". Não digo de esquerda porque nem este governo tem capacidade ou sequer intenção de promover uma política de esquerda, mas "moderada" significando de moderação em relação à arrancada direitista é neoliberal que caracterizava a governação PSD/CDS-PP.
A segunda é que a acção posterior, destinada a acalmar os ânimos, é sempre de alcance mais limitado e objectivos mais modestos que a primeira, destinada a, por portas travessas, perpétuar as políticas dessa governação de direita.
Entretanto, mantendo este equilíbrio enviesado, prepara caminho para numa futura tentativa de reeleição ganhar, senão o apoio, pelo menos o beneplácito  de um determinado centro político, mas que se afirma e acredita ser de esquerda.
Assim, mal se encontre livre dos engulhos de uma reeleição, esta figura vai poder dar livre rédea às suas opções e sentir mais profundo, deixando de ter de vigiar eventuais recifes e bancos de areia, onde pudesse encalhar, e encaminhar a sua acção de forma mais livre na defesa do legado direitista de Passos e Portas, senão mesmo legitimando-o e fomentando-o activamente.

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