quarta-feira, 27 de julho de 2016

Dijsselusão


Não deve ser o único, mas foi o primeiro que o expressou. O facto da Comissão Europeia - antevendo um incêndio de proporções dignas dos antigos clássicos, depois do BREXIT ter acabado com os mitos e medos de que para lá da União só existe o fim do mundo - não ter recomendado qualquer sanção a Portugal e Espanha pela ultrapassagem dos limtes de 3% do PIB para o malfadado défice, deixou em estado de desilusão o chefe de fila da Ecofin.
Lamentando não poder estorquir ainda mais do que já estorquiu; Acreditando que o roubo a golpe de caneta (ou de computador) é perfeitamente respeitável e diverso do vulgar assalto à mão armada (onde pelo menos o ladrão dá a cara); Reafirmando a sua crença na usura como modo legítimo de vida. O sr. Dijsselbloem não se coibiu de propagandear a sua frustração.
Sentindo já a ossatura da presa estalar mais um pouco perante a sua investida - ai aguenta, aguenta; salivando com a antecipação de transportar a sua vítima aos seus amos, abanando, qual mastim, a cauda de satisfação. Sonhando com um qualquer lugar de CEO, Administrador, Consultor Especializado, numa qualquer Goldman Sachs, Lehaman Brothers, ou Deutsche Bank, que lhe garanta uma amparada velhice; ou se calhar mirando no espelho do tempo o seu reflexo qual Schauble sem cadeira de rodas, não consegue nem por polidez fingir que lhe não vai na alma o desgosto de não ver severa e exemplarmente punida a veleidade de não aplicar sem questão a receita de exploração e sofrimento que estava lavrada e a ser aplicada ao Povo português.
Destemido e não se intimidando com qualquer revolta que pudesse acabar de vez com a UE, em relação à qual está mais que patente a crescente aversão e ressentimento, acalentava no âmago do seu sentimento um exemplar castigo, pouco importando que o pretexto fossem os falhanços das acções de quem tão diligentemente serviu os servidores do seu amo.
O medo, o terror dos seus pares em  avivar chamas, em assoprar brasas, que pudessem consumir o próprio instrumento com que dominam os povos, aceitando abrandar com o ritmo do assalto, é incomcebível para este intrépido cruzado do livre mercado e transação com o mínimo direito e protecção.
O lídime paladino do laissais faire não pode conformar-se. Há de bater-se, invocar os tratados, reverberar nos meios de comunicação. Mas por ora está desiludido com a tibieza dos seus, com a fraqueza dos que se detiveram perante o choro das pedras quando era mister que que seguissem em frente.
Que importa que os destinados a vencidos, a servos, a inferiores sofram. Para que este predestinado à vitória se imponha muitos terão de sofrer e ele não está disposto a contemporizar e di-lo desassombradamente.
Cuidado Gulliver! Os liliputianos são pequenos, mas bem mais numerosos que tu, e um dia te pedirão contas.

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