Durante anos, especialmente após a segunda guerra mundial, os governos dos EUA e da Europa ocidental pensaram que terciarizando a economia e deslocalizando as industrias extractivas e transformadoras para países subdesenvolvidos, criavam as condições para a alteração das classes sociais, até um ponto em que, como se acreditou durante algum tempo, a luta de classes teria acabado, bem como a ligação das populações aos partidos ideológicos, especialmente aqueles ligados à emancipação do operariado, ou seja, aqueles que ideologicamente se assumiam como herdeiros da Comuna de Paris. Contudo esqueceram e esquecem, que este fenómeno, que é o próprio motor da história, não se perde, nem se cria, apenas se transforma ao longo do processo.
Ao terciarizar a economia, o que fizeram também foi empregar nesse sector maioria da força de trabalho, pelo menos aquela que possuía formação para tal, força de trabalho essa que não passou a ser dona da sua ferramenta de produção, logo que está a alienar o seu trabalho para sobreviver. Acontece que esta é exactamente a condição do proletário. Daí que o que foi realmente consumado foi a proletarização do trabalho terciário.
Sendo verdade que esta classe não tem hoje consciência da sua situação, a evolução das condições em que trabalha e das vicissitudes que enfrenta, torná-la-ão progressivamente mais reivindicativa e exigente, acabando por a aproximar desses mesmos partidos, dos quais tanto esforço foi feito para afastar.
O fenómeno da expansão do consumo e do acesso ao crédito, que vinham sendo tentados desde os anos trinta mas, que tiveram a sua exponencial no início dos anos sessenta, não só significava uma capacidade acrescida de acumulação de capital, mas servia também a propaganda de um modelo social que afirmava que o conforto e mesmo o excesso eram frutos naturais da economia capitalista a obter sem grande esforço, com a óbvia vantagem de amarrar os trabalhadores e as várias faixas etárias ao pagamento a prazo desses bens e serviços, alienando-os da reivindicação de direitos, através da sujeição a condições de trabalho cada vez mais duras, precárias, disfarçadas de maior mobilidade de emprego e flexibilização de oportunidades, abrigadas por uma robusta e eficaz segurança social, que se mostrou um logro tão grande, quanto as próprias facilidades de aquisição de bens.
O falhanço do modelo económico e social baseado nestes pressupostos, à escala mundial, revelou de forma cabal que as necessidades de salários mais justos no momento, e não a venda de trabalho ainda não realizado, e o fortalecimento dos sistemas produtivos, em detrimento da especulação sobre produções inexistentes ou de muito duvidosa existência, era a única forma de garantir paulatina, mas solidamente a satisfação de justas aspirações, como a casa, a saúde, o ensino ou a qualidade de vida. E que a reivindicação dessa classe que se viu de um momento para o outro privada de um nível de vida, que julgava garantido, mas que na forma como o estava era insustentável*, não é senão a manifestação concreta da luta de classes.
Em última análise é a própria dinâmica da luta de classes a determinar a ligação dos partidos Comunistas à população, por representarem a resposta a um conjunto de questões assinaláveis, e não uma resposta eleitoral baseada em casuísmos ou causas desgarradas. Estas podem ter um atractivo imediato, acompanhado por um sucesso tão explosivo quanto efémero, mas no fim será sempre o conjunto de respostas e propostas coerentes, que visam a transformação, que terá a última palavra. De facto a Comuna não morreu.
(*entenda-se por depender do endividamento sucessivo dos trabalhadores e não pela justa districbuição da riqueza gerada)
1 comentário:
Pois é amigo, a liberdade de imprensa existe mas só para alguns ou para algumas escritas que não vão contra os interesses de quem dirige os Regiistos . Abração e continuação do que o poeta dizia : " Não há machado que corte a raiz ao pensamento ..."
Leão.
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