domingo, 12 de abril de 2009

Lavoisier na Favela



Quem se depare com este título poderá ficar um pouco curioso sobre a ligação do famoso químico francês do século XVIII com o fenómeno de habitação improvisada e desregrada do Brasil, principalmente desde a segunda metade do século XX.
A verdade é no entanto muito simples, Lavoisier na sua faceta de responsável pela cobrança de taxas à entrada de Paris, elaborou um plano infalível que consistia na construção de um muro ao redor da cidade, impedindo a entrada e saída de todo e qualquer um, sem que passasse primeiro pelo a apertada vigilância dos portões.
Assim, movidas pelo controlo do tráfico de drogas, e da actuação dos gangs, as autoridades da Cidade Maravilhosa, embarcaram também na ideia, de mais de dois séculos, que os muros ajudam a controlar as idas e vindas e facilitam a vida e segurança da população.


Embarcaram elas, assim como antes embarcaram também os israelitas, ou mais recentemente as autoridades Norte-americanas, ao longo da fronteira entre este país e o México. A verdade é que estes muros nunca são feitos a contento das duas comunidades, bem como não são feitos para atender às necessidades de nenhuma delas. A todos os níveis, os muros servem as próprias autoridades e quem económicamente é já mais forte e destrói toda e qualquer concorrência a este nível.
Ou seja, as motivações destes muros nunca são de segurança, ou de defesa, tal como é dito, mas de dominação económica e cívil, destruindo a capacidade de sustento e circulação de bens. Como aliás nem procurava esconder o muro de Lavoisier.
Acontece que além de dificultar grandemente a vida dos parisienses, e dos camponeses que vinham vender os seus produtos, o muro criou também falta de circulação do ar, acumulação de maus cheiros, más condições de salubridade, com a concomitante proliferação de doenças e, apesar de ter sido demolido ainda em vida do Químico, a sua memória predurou e foi uma das causas da sua decapitação depois da Revolução. Coisas que acontecem...
As autoridades Norte-americanas, quer da anterior administração, quer as desta, começaram já a ser contestadas pelas nações amerindias, pela destruição dos seus solos e locais de culto ancestrais, e do muro na Palestina nem é preciso falar pois toda a gente já conhece os dramas de populações literalmente presas em casa, sem acessos a escolas, hospitais, hortas e pomares, casas de parentes, etc.
Também no Rio, iremos sem dúvida ter problemas similares nas comunidades, a violência só vai aumentar com a revolta, os gangs vão ter condições sociais de crescer, de se fortalecer, torando-se um poder de facto primeiro nas favelas, com o controlo de toda uma comunidade que se tentava afastar deles, e depois como um verdadeiro exército contra o exterior.
É preocupante, porque os dirigentes destes fenómenos não vão visar, como os Revolucionários Franceses, a libertação do homem, e o seu progresso enquanto ser social, mas tão só o lucro dos seus negócios ilicitos.
Quanto às cabeças, não vale a pena preocupar-mo-nos em demasia. Estas não serão seguramente cortadas... até porque não se pode cortar o que já foi perdido.

1 comentário:

CDU Belém disse...

Olá Carlos

Pertinente artigo:
Os muros dos «desavergonhados» que hão-de levantar revolta justa.
Além daqueles que mencionas ainda há os há no México, na fronteira com os EUA,e porque não dizer dos «Condomínios fechados», fortalezas dos poderosos, para humilhação dos deserdados como acontece em Lisboa...

Andam a adiar o fim...

Um abraço

J.C.