sexta-feira, 21 de maio de 2010

Ó Glória de mandar, ó vã cobiça


Publicado originalmente no Registo


Por estes dias anda o Governo atarefado num frenesim de subir os impostos, cortar nos subsídios de natal, quem sabe se já no de férias, em cortar investimentos em factores de desenvolvimento, em contratar agentes da função pública, onde nem o ensino ou a saúde escapam.

Propõem-se não gastar e arrecadar, não importa com que custos sobre a população, a quantia necessária para que Bruxelas, Berlim e as agências de rating vejam nele o comportamento exemplar da salvaguarda dos interesses que devem ser, segundo eles salvaguardados.

Com colas ou sem elas, certa oposição não fez coro nem foi a reboque, não. Apresentou-se parelha com parelha na arte de fazer recair sobre a população as custas de asneiras anteriores (muitas delas de sua lavra), sem tocar no IRC da Banca, nem pôr em causa os ganhos sumptuários em mais valias.

Que os rendimentos do nosso povo são 55% mais baixos do que a média europeia já se sabia. Mas que outra coisa seria de esperar quando sofremos uma política de desindustialização em larga escala, em que nem os sectores tradicionais do calçado e dos têxteis se safaram, já para não mencionar a siderurgia, a industria química, a reparação naval e as industrias alimentares, que mal ou bem iam assegurando a produção nacional.

Como não esperar que hoje tenhamos uma agricultura completamente moribunda, onde se arrancou vinha e olival, onde se pagou para fechar vacarias e outras infra-estruturas, aceitando os ditames de uma União Europeia ansiosa de se ver livre dos seus excedentes. O mesmo se pode dizer das pescas, onde se abateu a frota pesqueira e nunca se renovou coisa nenhuma. Um país que não produz, não pode ter rendimentos iguais a quem o faz. Mas venderam-nos isso e muitos de nós comprámos.

O curioso é verificar que os rendimentos de gestores e similares se situa 35% acima da média europeia, pois isso é que é de espantar, como é de espantar que quem tem lucros tão avultados, mesmo em tempo de crise não seja chamado a contribuir de igual, ou mesmo maior, forma em relação a todos os outros.

Aliás isso leva-nos a outra questão. Como é possível que as mesmas agências de rating, que classificavam com as notações mais elevadas os Bancos Norte-americanos, que depois faliram todos, sejam consideradas credíveis para classificar o que quer que fosse? Mais insultuoso ainda é que seja baseado nessas avaliações mais do que desacreditadas que são construídas as políticas apresentadas.

Percebem ou perceberam, os nossos governantes dos últimos trinta anos, alguma coisa de alguma coisa? Suspeito bem que não. Aliás o que fica evidente é que para se manterem entre os chamados grandes deste mundo, ainda que seja de favor. Para serem recebidos, com um tratamento de pseudo-igualdade, nos salões da alta-roda, não se coíbem de fazer qualquer coisa que os “donos do mundo”, fiéis serventuários de outros, os mandem fazer.


Não. Ao contrário do que querem fazer crer, o Velho do Restelo não pregava contra a ousadia ou a coragem de mudar, falava sim contra as intenções e propósitos errados que se apresentavam por trás de aparentes grandes objectivos. Pois que a chamam ilustre, chamam-na subida, sendo digna de infames vitupérios; Chamam-na Fama e Glória Soberana, nomes com quem se o povo néscio engana!

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