Aproveito este texto que foi publicado no Registo e que, como habitualmente deixo aqui no andar à disposição de todos, para fazer um forte apelo à participação na Manifestação do próximo sábado dia 29 de Maio às 15 horas, do Marquês para os Restauradores.
É necessário demonstrar que não aceitamos que nos coloquem entre a espada e a parede para manter intocadas fortunas e lucros que, no fim das contas foram acumulados às nossas custas.
Não permitimos que em nosso nome, porque o Estado somos nós, se retire a quem mais necessita as prestações sociais para as quais contribuiram e contribuímos solidariamente todos.
Não aceitamos que em cima da diminição dos salários se venha acrescer ainda o agravamento dos preços através do IVA, que inclusive está já a ser aproveitado pelas empresas de transportes para aumentar os preços das viagens.
Porque temos de ser nós sempre a perder? Porque é que quem ganhou e reganhou não tem de ser chamado a contribuir mais até?
Temos de estar todos lá.
Publicado originalmente no "Registo"
Há no repertório de Astor Piazzola uma peça com o curioso nome de Tanguedia, numa alusão às palavras Tango e Tragédia. Não se pode dizer que entre a maior parte dos tangos a tragédia não se faça sentir de uma forma muito clara. Estou convencido que será essa a razão pela qual o Primeiro-ministro se referiu ao seu “acordo”, “pacto”, “entendimento”, ou o que se lhe queira chamar, com o líder do maior partido da oposição, como um Tango para o qual já tinha par.
O Tango que o Bloco central, de interesses e políticas, executa, para gáudio de bancos e patronato, além de aumentar a taxação indirecta, que recai inclusive sobre os bens de primeira necessidade, congelar salários e pensões, promover a privatização de serviços essenciais, deteriorar as condições de prestação de cuidados de ensino e de saúde, começa agora também, e sempre pela boca de renomados economistas, a preparar terreno para a redução dos salários em 20%, a pretexto de ser a única forma de promover a produção, a produtividade e as exportações. Só que a política de baixos salários e exportações foi a que nos conduziu à situação de crise.
Afirmar, como se tem afirmado nos últimos dias, que foi a política de consumo que consumiu a nossa economia é intelectualmente desonesto, porquanto nem a nossa produção nem os nossos salários permitiram alguma vez o desenvolvimento de um mercado interno. O consumo que existia baseava-se no endividamento e no consumo de bens importados, donde toda a riqueza produzida acabava por sair do país, por via desse consumo ou da prestação dos empréstimos. Daí que não houve nunca a transição da nossa economia para uma economia de produção de alto valor acrescentado com uma forte componente tecnológica e alicerçada numa componente educacional e formativa sólida, que tivesse como primeiro mercado o próprio país.
O outro grande argumento de uma Administração Pública gigantesca e ineficiente caiu por terra por si mesmo ao ser confrontado com os números do Eurostat que mostram que já no ano de 2004 a nossa Administração Pública era a terceira mais pequena da Europa. Há quem contudo não desarme para aumentar a precariedade nestes serviços, procurando abrir caminho para acabar com eles, ou no mínimo obter uma Função Pública dócil e aterrorizada que não questione ou reivindique.
A discussão da Moção de Censura, que foi apresentada na passada semana, deixou à vista uma colaboração muito estreita entre o Governo e os partidos da direita, que só é aparentemente quebrada no que diz respeito aos investimentos públicos, o que ainda piora um pouco a situação, e que deixa bem claros os propósitos de procurar saídas que não afectem o acumular de riqueza e façam recair totalmente o ónus da crise sobre os trabalhadores.
Esta Moção, por estranho que pareça, só não deixa clara a posição da esquerda. Não a deixa clara porque os partidos de esquerda contestam as medidas de austeridade extrema aplicadas, deixando claro que esta não é solução para a crise, porém aparentemente existem duas posições distintas. Uma que aponta a contestação à aplicação destas medidas e que se opõe à aplicação de medidas idênticas aos trabalhadores de outros povos, no caso o grego, e outra que contestando estas políticas, ao aprovar o empréstimo à Grécia mais não fez do que sustentar a aplicação das medidas que critica em Portugal aos trabalhadores gregos. E nem adianta desmentir, porquanto uma das condições deste empréstimo é precisamente a aplicação destas medidas desumanas. Qual será o argumento que defenda que o que é aplicável aos gregos já não é válido para os nacionais?
A Tanguedia que se está desenrolando não se dança então a dois, dança-se a três ou mesmo a quatro, o que é fundamental no fim das contas é que dance-se ela com quem se dançar cabe-nos a nós parar a música.
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