segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

As pedras e o céu

Foto do blog de duas igrejas

Diz a história que o famoso químico francês Lavoisier, afirmou um dia que não caiam pedras do céu, porque simplesmente no céu não há pedras. Não só as evidências, como os cientistas seus sucessores, provaram cabalmente que elas não só existem, como de vez em quando caiem mesmo na terra.
Lavoisier, que devido ao ódio popular que lhe havia granjeado a construção de uma muralha ao redor de Paris, protegendo a cobrança de impostos, mas tornando ao mesmo tempo empesteado e malsão o ar na cidade, já tinha sido guilhotinado há muito e infelizmente nunca veio a saber que de facto elas caem.
Quem veio lendo as notícias dos jornais referentes à actuação da Câmara Municipal de Évora no que diz respeito à qualidade da água, leu certamente que o descrédito desta administração é grande não obstante o pouco tempo que leva ainda de mandato.
As contradições, incongruências e falta de rigor técnico, com que responsáveis do Município e das Águas do Centro Alentejano, prontamente desmentidas quer por técnicos quer pelos ambientalistas, mostram que a cegueira e a incapacidade de se fazer uma gestão voltada para as pessoas é a realidade que campeia e que, no limite, para defender um modelo empresarial de gestão da água, as populações e o seu bem-estar são quem menos conta.
Há pouco tempo, neste mesmo jornal, alguém equiparava a “máquina municipal” (na generalidade), donde também a gestão municipal dos recursos, se é que entendi bem, a fungos, com micélios e hífas, desenvolvendo-se como parasitas ou saprófitas no meio de cultura que é o próprio Município. Porém esqueceu-se de dizer que além de muitos destes fungos serem os deliciosos cogumelos com que nos deleitamos, são muitas outras vezes fonte de antibióticos, sem os quais há muito teríamos sucumbido às infecções.
Pelos vistos, infecções essas de empresas, às quais se passa sem problema áreas tão importantes da administração autárquica como a gestão de resíduos, a manutenção dos espaços verdes, a gestão cultural ou o tratamento e distribuição da água, e se descobre no fim que são caras, ineficientes e absolutamente centradas nos seus lucros e não no serviço à população.
No caso em apreço foi a água, a tal cheia de alumínio que só poderia ali ter vindo parar pelo processo de coagulação-floculação, e nunca por natural presença nas águas. Donde se depreende que por apresentar demasiada matéria orgânica, se adicionou hidróxido de alumínio até a água se apresentar sem turbidez. No tratamento mais barato, sem dúvida, mas cujos reflexos são exactamente os que se verificaram. Até que me dêem uma explicação melhor e no minimo aceitável (e não qualquer uma), arrogo-me o direito de pensar que foi o que sucedeu.
Como da água não sai alumínio, contrariamente às pedras do céu, porque simplesmente não existe lá nessas quantidades, aos responsáveis carece ainda assumir as responsabilidades técnicas e políticas da situação. Espero que, pelo menos, Lavoisier tenha perdido a cabeça com mais dignidade.


original publicado no Registo

2 comentários:

Leão disse...

Espero que o Registo não te tenha cortado ( ia dizer censurado, mas continua a dizer-se que não há é tudo uma questão de critério jornalístico ) náda do artigo. Entre água e cimento a maioria opta por cimento é mais lucrativo . A luta pela defesa deste bem mundial é dura e difícil, mas nós vamos conseguir vencer .

Um grande abração !

Carlos Moura disse...

Não, não censurou (acho que estava tudo no critério) Abraço grande