segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O Lobo…O lobo!!!

imagem originalmente no blogue pastorearley

Quando a coisa lhe corria de feição e os Portugueses lhe tinham conferido um mandato absoluto, numas eleições em que, imbuídas de uma vontade de mudança, as gentes afluíram às urnas em números não costumeiros desde o pós-25 de Abril, o Chefe do Governo, empertigava-se falando de cima a tudo e todos, comportando-se como se o mandato que fora conferido ao seu partido não fosse apenas um mandato maioritário, mas uma espécie de plebiscito eterno ou mesmo um irrevogável desígnio divino. Quem se opusesse, argumentasse, ou sequer questionasse os rumos, políticas e orientação das chamadas reformas, seria muito seguramente imediatamente fulminado, ou no mínimo transformado em estátua de sal, por inquestionável intervenção do altíssimo.
De cada vez que se ligava a televisão, se ouviam os rádios ou se liam os jornais, com raríssimas excepções tudo cantava hossanas e louvores, ao intrépido caudilho que esmagava todos quantos, acomodados no sistema, teimavam a em não dar de barato o seu direito ao descanso, a uma progressão na respectiva carreira, a assistência à sua família, resistia a avaliações de dignidade mais que duvidosa, e ainda pugnava por melhores condições de trabalho e de vida.
O vento que varreu o Parlamento e levou consigo a maioria, redistribuindo as relações de forças, deveria ter sido lido como um sinal político para o Senhor de S. Bento. Contudo aliada à arrogância o dito cujo possuía também uma miopia assombrosa, donde não conseguiu ver, ou não podia ver, o que entrava pelos olhos dentro de qualquer um, que teria de encontrar parceiros a sério para governar. No caso, e tendo em conta a tendência de perda do seu eleitorado, a esquerda.
Porém não só não foi isto que se passou, e o Governo privilegiou em tudo o que era essencial a direita. Como resultado, e com excepção dos professores, não só não aliviou tensões sociais e laborais, antes as agravou, como se fragilizou politicamente, cedendo mais ainda à direita e aos interesses que esta defende, não lhe restando espaço de manobra para recuar. Ou seja, alienou de uma assentada, os partidos à esquerda, parte importante do seu eleitorado, e até mesmo uma futura influência presidencial, depois que o único candidato em campo afirmou que não é candidato de nenhum partido, sem ganhar nada à direita, onde sem acabar a metamorfose em que há anos entrou, não pode almejar a ocupar o espaço, mesmo com a noite polar das facas longas que grassa dentro do maior partido da direita.
A vitimização a que recorre de cada vez que se apresenta um revés, ameaçando a demissão, quer velada, quer abertamente, lembra mais do que circunstancialmente a história do pastor que gritava lobo, pondo em polvorosa, em vão, toda a aldeia. No dia em que o lobo vier já ninguém acredita. E da maneira como vão as coisas se calhar o povo ainda agradece, aclama o lobo e o convida a formar governo. A ver vamos.


texto originalmente em "Registo"

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