terça-feira, 10 de novembro de 2009

Muito mais muros que o Muro


O dia de ontem foi passado na mais completa histeria anti-comunista. Além de ter ouvido os mais remataos disparates sobre liberdade, ouvi mentiras e falsidades das que qualificaria das mais torpes que há memória.
Lí de um conhecido comediante, seguramente movido pela sobranceria "democrática", a tentativa de desacreditar as vantagens educacionais, culturais e civilizacionais de que gozavam os cidadãos da RDA. Gozavam e nem disso tinham consciência clara, pois porque só pode dar valor aos cuidados de saúde gratuitos quem encontrando-se doente ou tendo os seus entes queridos, se encontrou sem possibilidade financeira para se valer, ou lhes valer, tendo de enfrentar interminaveis listas de espera quando não pode pagar uma intervenção no privado. Só pode dizer isto quem não teve creche ou jardim de infancia para por os filhos, ou teve de gastar a maior part dos seus parcos recursos para os ter em creches particulares. Só quem se viu despedido, sem trabalho e sem salário para fazer face aos astos que lhe exigem todos os dias para viver, como a casa, a luz, o gás, a água, os transportes, pode dar valor ou sequer entender.
Ouvi dizer, já levado certamente pelo entusiasmo, um locutor de Rádio acusar a URSS de cumplicidade na solução final para os Judeus, esquecendo este senhor que foi esta nação e nenhuma outra que mais campos de eterminio libertou, e que nestes morreram cidadãos soviéticos, ciganos, opositores do reime hitelariano, republicanos espanhois, partizans jugoslavos, etc, etc, para além dos Judeus.
Vi esconder, ou passar por cima de, estudos de opinião que dão indicação que muitos milhares de pessoas na ex-RDA optariam hoje de novo por uma via socialista para o seu futuro. Não é de estranhar também assim o tinha previsto Erich Honecker no seu julgamento. Mas isso não nos é dito, e vais seguindo en passant para que não nos interroguemos porquê.
Hoje falam os opressores, os que detêm o poder económico e condicionam a informação e o poder político... amanhã falarão os oprimidos, aqueles a quem manter-se vivo e produzir para os primeiros, custa ainda por cima, forçando-os a trabalhar vidas inteiras sem ter desse esforço o benefício. Quem se atreve pois a dizer nunca?
Muros bem mais altos e sinistros que o de Berlim se erguem por todo o lado, mas a preocupação em denegrir conquistas que os povos não esquecem, mostram que ainda rolam os dados e que a luta continua. Um dia derrobá-los-emos também.

2 comentários:

Anónimo disse...

Para falarmos de muros, eles existem de todas as formas e feitios. Chamemos-lhe o que qusermos: barreiras, obstáculos, etc.. O problema é eles serem transponíveis ou intransponíveis, permeáveis ou impremeáveis, acessíveis ou inacessíveis, desejáveis ou indesejáveis. Se o fluxo da vida pode deles prescindir ou se lhe são necessários. Separam-se os terrotórios, separam-se as vontades, separam-se as ideias e o que será que existe para todas as separações? "muros". Era necessário que todo fosse estravasado em que os "muros" constituam apenas desafios para uma caminhada pacífica da humanidade no respeito total pela natureza. Que mais se poderia desejar?

Carlos Moura disse...

Pois de facto existem muitos, mas só a alguns é dada a televância que a este foi. Se nos EUA, os mexicanos tentare atravessar o muro, e os matarem - é apenas mais um no número de baixas causadas, não vão ter honras de heróis da liberdade ou dos direitos humanos, como se a sobrevivência e a dignidade não fossem dos primeiros direitos humanos. Se um palestiniano morre algures no muro nos territórios ocupados, é apenas mais um terrorista, nenhuma televisão ou rádio o vai tornar exemplo de democracia, ainda que este muro divida tantas familias, ou mais do que o de Berlim, ainda que este muro impeça acesso a terras de cultivo, a hospitais, ou escolas, coisa que o de Berlim não fazia. Se imirgantes naufraguem no Mediterraneo, esse imenso muro liquido que separa um ocidente rico e parasita dos recursos do terceiro mundo, podem morrer ou até serem ignorados no mar por navios pesqueiros ou das marinhas ocidentais, porque seguramente ninguem os vai evocar como mártires dos direitos de livre movimentação. Mas em Berlim tudo era assim. Porque há muros que contam e outros não, porque "uns ficam com os nomes nos livros de História, e os outros debaixo dos torrões, sem história nenhuma".
Abraço grande