terça-feira, 10 de junho de 2008

A Crise Global e o Internacionalismo Proletário

Fonte www.revistaforum.com

“Operários de todos os países, uni-vos!”

A mais do que conhecida frase de Marx dá o mote para os objectivos da Revolução, a construção de uma sociedade sem exploradores nem explorados em todos os cantos do planeta. A obrigação solidária dos trabalhadores é, portanto, de auxiliar os seus irmãos de classe em todo o Mundo a fim de se obterem os resultados pretendidos.
A ideia que isso se traduz de alguma forma em Super-organizações que lutem pelos interesses das classes trabalhadoras em todo o mundo de igual maneira está, contudo votada ao fracasso. Não podemos esperar que as resoluções dos problemas do operariado e campesinato, chinês, canadiano, congolês ou tobaguenho, sejam exactamente a coisa. Os diferentes graus de necessidade e de exploração criam realidades de postura perante o patronato, perante a legislação diversa, ou mesmo perante a capacidade reivindicativa, ou mesmo sobre o que reivindicar, tão diversas que ter a pretensão de as colocar ao mesmo nível seria, no mínimo imprudente.
Uma luta Mundial, que coloca de igual forma as reivindicações, ou as coloca num nível ainda tão básico, que não poderá satisfazer as aspirações dos proletariados dos países industrializados, ou então ser completamente incompreensível e inaceitável para os proletariados dos países não desenvolvidos ou em vias de desenvolvimento.
A ideia que os Fóruns Sociais Mundiais colocam a questão da globalização dos direitos, é um pesadelo que não só não tem permitido avançar as lutas, como tem contribuído para a desmobilização e desunião dos trabalhadores de todo o mundo. Como falar de serviços de saúde a quem não tem nem um salário que lhe permita sobreviver todos os dias do mês? Como falar de férias pagas a quem não tem sequer uma habitação digna? O que fazer com organizações sindicais internacionais, quando países existem onde os sindicatos são pura e simplesmente proibidos? Mas é claro que também não combateremos a deslocalização da produção colocando fasquias tão baixas que degradariam irreversivelmente níveis de conforto, que são direitos de que os trabalhadores não estarão dispostos, felizmente, a abdicar, especialmente porque por eles lutaram duramente durante gerações.
Não deveria ser este o caminho dos Fóruns Sociais. Não será por se desacreditarem como ferramenta de mudança, que estes acontecimentos poderão contribuir para a superação social histórica, para a qual trabalham milhões de homens e mulheres no planeta, bem ao contrário. O papel destes fóruns deveria ser o da troca de experiências, de conhecimentos, de processos de luta, e até de debate ideológico relacionado com as várias posturas e tradições de luta.
O Movimento Comunista é, e historicamente continuará sendo até à concretização da sua ideia fundamental, de uma diversidade ideológica e metodológica incomparável. Mas essa diversidade, que constitui a sua riqueza, constitui também a sua principal fraqueza, e mais que isso, provoca com facilidade atitudes que se desligam dos vectores Marxistas que balizam o movimento, entrando-se facilmente em neo-radicalismos, que vêm culminando em fenómenos neo-proudhonistas.
Pelo que tem de atractivo respostas de acalmia social rápida e expedita; Pelo que aparentam de soluções sociais, sem tocar nos alicerces do Estado Burguês, estas propostas têm tido alguma preponderância dentro destes fóruns. Mas a verdade é que os seus sucessos são tremendamente limitados, e a progressão material, social, e educacional, de pequenas comunidades, está muito distante de ser uma resposta à brutal exploração que a humanidade vêm sofrendo com a globalização económica.
A uma globalização de exploração tem de se contrapor uma globalização de direitos, é um facto. Mas estes só podem ser assegurados, garantindo níveis de luta compatíveis com as diferentes realidades. Só através do conhecimento e da experiência própria é possível garantir a consciencialização das classes trabalhadoras, porquanto esta não se faz por decreto. Daí que é a passagem desta informação e a formação teórica de quadros que é o papel revolucionário a desempenhar pelo Fórum Social Mundial. Só que não tem sido isto o que se tem visto.
As convergências inter-sociais apregoadas tiveram, um pouco por esse mundo, resultados catastróficos para as aspirações dos trabalhadores, ao qual não se exime o nosso país. A recente paralização da frota pesqueira, que reuniu pescadores das mais diversas classes, desde o pescador da pesca artesanal, até ao armador, mostrou de forma clara que, a partir do momento que viram mitigadas situações do seu interesse (que se prendiam com a diminuição de descontos para a segurança social) os armadores puseram fim à greve, deixando os pequenos pescadores sem as suas reivindicações (que se prendiam com o custo dos combustíveis) satisfeitas. Acontece que estas eram as principais que haviam dado origem ao movimento.
Da mesma forma a paralização das frotas de camionagem, aliam segmentos sociais muito diferentes. O objectivo comum que apresentam é também extremamente frágil face à miríade de objectivos que os detentores das frotas têm. Não será de espantar que depois de utilizar a força dos trabalhadores para atingirem dois ou três objectivos paralelos, os proprietários das transitárias ponham fim à greve, deixando sem satisfação os trabalhadores, quer os por conta de outrem quer os por conta própria, deixando-lhes também o ónus das alterações da “ordem pública” que vierem a suceder.
Não se pode, portanto, pôr tudo dentro do mesmo saco, apenas porque existem reivindicações convergentes. É necessário ver antes disso quais as prioridades das lutas, a hierarquização dos objectivos e a análise das condições reunidas para avançar com esses processos. Fora isso, tudo o que fica são mesmo as palavras.

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