quarta-feira, 18 de junho de 2008

As alterações ambientais e a superação histórica dos sistemas económicos



Não existe natureza no seu estado primordial. A ideia de que os princípios ecológicos e ambientalistas defendem uma natureza pristina está, de um ponto de vista científico, completamente errada. Todo o ambiente actual é fruto da acção do homem, quer pela apropriação dos recursos, quer pelos resultados dos seus processos de transformação.

Desde que as sociedades deixaram os processos recoletores e passaram a produzir bens para o seu consumo, alteraram radical e irreversivelmente o meio natural à sua volta; Alterando as características das espécies; Alterando a morfologia e composição dos solos; Alterando o coberto vegetal; E, alterando em última análise a própria composição da atmosfera.

A alteração dos sistemas económicos dá-se quando se esgotam as possibilidades de exploração e transformação das matérias primas. Normalmente, este fenómeno dá-se quando, de um ponto de vista tecnológico não é mais possível avançar na exploração de um ou de mais recursos, ou quando a alteração do meio é de tal forma radical que afecta gravemente as possibilidades de rendimento da exploração do trabalho humano.

A mudança do paradigma Esclavagista, enquanto principal modo de produção (e não nos podemos esquecer que sob certas formas subsiste até aos nossos dias), para o modo Feudal, dá-se quando o exaurir dos solos de maior produção, e desaparecimento em massa de espécies (fruto da depredação incontrolada do recurso), aliado aos fenómenos de assoreamento, derivados das acções de alteração e gestão dos recursos hídricos, impossibilitam as actividades comerciais marítimas. O depauperamento da circulação fiduciária e mercantil torna impossível o trabalho dos artesãos e, subsequentemente do produto acabado.

A resposta que o Feudalismo produz, prende-se com a propriedade da ferramenta. É um facto que do ponto de vista tecnológico isto representa um retrocesso na capacidade de exploração do recurso, mas representa ao mesmo tempo uma exploração de menor impacte. O trabalhador deixou a condição de escravo trabalhando com ferramenta alheia (ou operando sistema de propriedade alheia) a troco da sua subsistência mínima, mas passa à condição, ele próprio, de parte inalienável da propriedade, explorando-a para o Senhor, mas proprietário da sua ferramenta e extraindo ele mesmo a sua subsistência.

A incapacidade deste modo de produção em dar resposta a eminente desarborização da Europa, e aos sucessivos aumentos da população, no que estes representavam de pressão sobre o recurso finito, criou as condições para o aparecimento de uma nova classe, ligada primeiro às artesanias dos burgos, e posteriormente à manutenção de assalariados. Esta ao transformar bens em mercadoria de uma forma sistemática, gerou a criação de mercados e a acumulação de Capital de investimento, capaz de ser empregue em formas de diminuir os custos de exploração dos recursos, tornando-os a um tempo mais acessíveis, mas também mais lucrativos.

Pelo que representavam de utilização de mão de obra extensiva e resistência à introdução de novas formas de exploração dos recursos quer o que restava do esclavagismo, quer do feudalismo é sistematicamente combatido pela Burguesia em ascensão, quer esta luta se apresente como o abolicionismo, quer como a Lei dos “open fields” britânica.
Estas situações garantiram uma mão de obra crescente, livre, mas que depende para a sua sobrevivência, do aluguer da sua força de trabalho, operando ferramenta ou sistema alheio, a troco de um salário abaixo do valor do que produziu, e em condições extremamente degradantes, que hoje subsistem em inúmeros países em vias de industrialização.

De novo as alterações do ambiente se prendem com a necessidade de produzir mais e menor custo e, por força da necessidade de consumos sempre crescentes sem os quais não existe circulação fiduciária e acumulação de Capital, ao desperdício.

Os crescentes fenómenos de poluição, destruição de solos, meio hídrico, biodiversidade, prende-se assim com a utilização crescente de tecnologias que tornam mais barata a exploração de matérias primas, mais baratos os custos da transformação (por substituírem o trabalho humano) e por crescentes sociedades de consumo. Estes são os pilares da degradação social e ambiental, por força do crescimento de uma economia que vive em função da acumulação.

A tendência ao esgotamento dos recursos a que assistimos, aliada à alteração significativa das condições climáticas, fruto da sobre-exploração dos recursos, voltam a colocar a humanidade face à necessidade de uma racionalização de produção e consumo, afastando-as da ideia da oferta e procura, ou seja da ideia da auto-regulação do mercado.

Hoje em dia é por demais evidente que o mercado livre e desregulado, não dá respostas a nível social e ambiental e agrava de forma clara a vida no planeta, e que criar mercados, como o biocombustível, para atalhar às questões de esgotamento e subida de preços dos combustíveis tradicionais é, não só ambientalmente como socialmente perversa, como se verifica pelo aumento em escalada dos produtos cerialíferos, nos chamados mercados de futuros, mas com repercussões sociais gravíssimas na actualidade. Mas o que é verdade para os biocombustíveis, é verdade também para os produtos carboníferos, como a hulha (mas até a lenhite) que haviam sido abandonadas, nos anos 80, como pouco rentáveis, colocando no desemprego milhares de trabalhadores em Inglaterra, França, Bélgica e Alemanha.

Desta forma, é fácil por em evidência que nem a Natureza é um valor intocável, pois cada acção humana é transformadora da mesma, nem é possível prosseguir a sua exploração de uma forma que visa apenas a acumulação de Capital. Bem pelo contrário ela tem de ser suporte da satisfação das necessidades humanas, sendo a economia utilizada como um mediador entre as capacidades de carga do Planeta e essa mesma satisfação. Mas não é isso mesmo a sustentabilidade?

1 comentário:

SP disse...

Só para deixar a minha pegada no teu sítio.
Um abraço peludo...