quinta-feira, 15 de abril de 2010

Os Manueis Joões

O artigo abaixo deveria ter sido publicado no Registo, mas parece que desagradou a alguém....


Consta que um certo Manuel João tinha o grande desiderato de voar, e ninguém se atrevia sequer a desafiar a sua ambição, de forma que, segundo a história, num dia de chuva, munido de um oleado subiu a um penedo saltando de seguida de lá de cima.


Como seria de esperar, despenhou-se a três passos do ponto de partida, enquanto os conhecidos gritavam: “Avoa, avoa, Manuel João, três passos para nordeste, e o homem está sempre enxuto!” Com efeito o desgraçado do Manuel João não se elevou nos ares mas, graças ao providencial oleado, pelo menos não ficou molhado.


Certa oposição nacional, qual Manuel João, traçou o desígnio de chegar ao governo, porém como não pode, nem quer, contestar as políticas do governo actual, até porque tenciona pôr em prática umas exactamente iguais, apenas com agentes diferentes, utiliza como arma os sucessivos casos envolvendo o Primeiro-ministro, a fim de erodir a maioria governamental até a fazer cair.


Acontece que os nossos Manueis Joões, não conseguiram ainda enxergar, que não só o governo, por trancos e barrancos, vai sobrevivendo aos vários escândalos, como a cada novo caso a população apenas se vai enojando e afastando por perceber que por muita tinta que corra, e por muitas comissões de inquérito que se criem, vai continuar tudo rigorosamente “como dantes, no quartel geral de Abrantes”.


Não pensemos contudo que Manueis Joões, não os há em mais formas e cores. Crendo que uma imagem de justicialismo mediático os guindará às estrelas, alguns há, que vão a todas. Seja o escândalo deste, ou do governo anterior ou quiçá do século passado, rapidamente vozes se agitam pedindo investigações e inquéritos, sem se ter bem a noção da relevância do que se pretende apurar, e se é que se pretende apurar alguma coisa que não apenas mais uns minutos diante do holofote ou umas linhas mais de texto.


Mas os Manueis Joões, na sanha de conseguirem alcançar os seus objectivos pondo em causa o acessório e omitindo o essencial, remetem a cada situação, saltando orgulhosamente do seu rochedo e aterrando sistematicamente três passos a nordeste. Vai-lhes valendo o oleado da comunicação social. Esta, de interesses convergentes, vai protegendo os costados dos Manueis Joões da chuva que é a contestação generalizada das políticas seguidas, e assim desviando as atenções das acções que realmente importavam. Resta saber se também lhes vão aparar a queda.

2 comentários:

Anónimo disse...

Pois é amigo, isto de não haver publicação de artigos às vezes, tem a ver com aquilo que se chama critérios jornalísticos.
Antigamente no chamado Estado Novo eles os fascistas chamavam-lhe censura, mas hoje isso não existe. Enfim critérios jornalísticos.
Um grande abração e continua .
Leão

Carlos Moura disse...

Pois, censura não existe...pero qué la hay, hay
Abração