segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Até onde? Até quando?



Depois do encerramento das unidades materno-infantis, depois do encerramento de Centros de Saúde. É agora notícia que, encerrarão as unidades de atendimento de oncologia, que não tenham um atendimento igual ou superior a 500 novos casos/ano, de acordo com um Estudo do Ministério da Saúde. O Governo desmente, garantindo que estamos apenas perante uma matriz de avaliação que permitirá desenhar a rede de cuidados, mas não só ninguém acredita que os estabelecimentos não encerrarão, como estas palavras são até indiciadoras do contrário: Uma rede desenhada para que algumas unidades absorvam aquelas com um número, considerado baixo, de doentes.
O planeamento, como se sabe é extremamente importante para a canalização de recursos, especialmente quando estes são parcos, mas tem forçosamente de ter em conta não só as zonas de maior prevalência da doença, mas também a área abrangida, procurando atenuar a distorção do território, o que no nosso país se tem vindo a tornar bastante difícil.
Foi com muita preocupação e uma considerável dose de horror que li num título de notícia de jornal, a este propósito, que: “O Alentejo em peso está todos os dias em frente ao IPO”. Salvo o exagero próprio das parangonas sensacionalistas, quer isto dizer que há serviços de bombeiros ocupados todos os dias com transporte de doentes dos mais variados Concelhos Alentejanos, rumo a Lisboa. Sendo que se estão ocupados nesta tarefa podem eventualmente fazer falta em várias outras tarefas em que a actividade de Bombeiro se encontra envolvida, mesmo fora dos períodos estivais e que, a atenção aos estragos das intempéries vividas este inverno bem demonstram.
Mas quem diz o Alentejo, diz outras zonas do país que têm vindo a ser votadas ao mais evidente abandono, provocando a sua desertificação humana, fruto de sucessivas políticas que impossibilitaram o desenvolvimento das suas aptidões naturais, mas isso são outras histórias.
Esta política, que além de economicista só serve a quem inaugura pouco depois unidades de saúde privadas, procura respaldar-se em dois argumentos: Um, que é necessária uma concentração para garantir que estas unidades se encontram melhor equipadas, posto que o orçamento não chegaria para equipar várias; Dois, que não há pessoal em número suficiente com formação para atender estes pacientes, até porque o número admitido a estas especialidades é muito baixo. Tratam-se porém de dois gatos escondidos cujo rabo ficou bem à vista: Um, porque quando se trata de benefícios às populações os valores orçamentados nunca chegam para nada, mas vêm sempre chegando para injectar em bancos e benefícios a investimentos cuja durabilidade e interesse são mais do que incógnitas; Dois, porque o planeamento teria de servir também para detectar o número de profissionais necessários para o serviço à população, e a abertura de vagas nessas especialidades ter de ser, a essas necessidades, adequada.
Há por fim um último argumento ainda. Leio no mesmo diário que o Governo de França, esse exemplo flagrante de atraso crónico, determina como número bastante, para que uma unidade de cuidados oncológicos cumpra a sua função social, 120 novos casos/ano, e que a própria Ordem dos Médicos, entende que essa cifra deveria estar nos 150, o que convenhamos é bem diferente dos 500 do estudo governamental. Se a tudo isto somarmos que em Portugal as despesas da saúde em cuidados oncológicos rondam os 3,8%, contra a média Europeia de 6,4%, estamos conversados. Até onde pode este Governo ir? E até quando estaremos nós dispostos a aturar estas indignidades?

in Registo

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