Depois de terem visto recusada, em votação pelos trabalhadores, a sua proposta de sábados de produção, a administração da Autoeuropa avançou com medidas unilaterais de suspensão de trabalho por dez dias, na prática um lay off, com perda de salário por parte dos trabalhadores na ordem dos € 500,00 por ano.
Com velocidade estonteante vieram os jornais dizer que os trabalhadores ficam sujeitos a uma situação pior do que a inscrita no rejeitado pré-acordo.
Poderá até ser verdade que as condições draconianas sejam piores, o que isso não justifica é que se mascare de negociação a proposta anterior. Em ambos os casos os trabalhadores saíam a perder, um pouco mais rápido ou um pouco mais lentamente, mas em nenhum dos casos viam aumentar direitos ou regalias.
A tentativa de disfarçar a imposição de más soluções com processo negocial e decisão democrática é profundamente obscena, porque a intenção era apresentar a Autoeuropa como um modelo de relação laboral que não existe. As decisões são impostas pela administração e a escolha é meramente de mitigação. Se os trabalhadores rejeitarem não existem esforços para se chegar a uma solução equilibrada, apenas se impõem unilateralmente as medidas.
Aquilo que aconteceu, haja ou não nova votação na ponta da baioneta, deixou claro que a relação é exactamente aquela que sempre foi na clássica exploração: Quem tem a força manda, quem não tem sujeita-se. Sujeita-se às imposições do pré-acordo, que tinha achado no seu intimo inaceitáveis e atentatórias dos seus direitos, ou sujeita-se directamente aos actos vindicativos de uma administração que não pode ver vingar a sua encenação de democracia.
Pelo meio estão aqueles dirigentes que tinham o dever de zelar pelas justas reivindicações dos seus colegas. Que deveriam estar solidários com a sua condição. Que deveriam promover o desmascarar das encenações montadas. Que deveriam lutar pelo esclarecimento dos seus companheiros e da sociedade para esta situação. E que em lugar de tudo isto servem de correia de transmissão do poder, económico ou político, servem de disfarce deste tipo de mascarada de negociação, contribuindo para a perda de direitos e esmorecimento de justas lutas não só na sua empresa como em várias outras pelo país fora.
Este tipo de dirigentes contribuiu ao longo do último século e meio para a degradação das condições de vida e de trabalho dos seus semelhantes, a degradação da vida em sociedade, desorganizando vidas e famílias, contribuindo a montante para as situações de falta de acompanhamento de crianças e jovem com a consequente desagregação social e fenómenos anti-sociais.
Os crimes, porque de crimes sem por mãos se tratam, que este tipo de gente tem sido responsável, nunca são socialmente contabilizados, nem sequer analisados no dissecar dos comportamentos em sociedade, porém se um dia o vierem a ser que pesem primeiro que tudo na sua consciência porque é o único inferno de onde não há fuga possível, mas que lhos sejam sempre lembrados.
3 comentários:
Apesar de algum divisionismo, sempre presente e com o objectivo de debilitar a unidade dos trabalhadores, a firmeza reforça-se a a dignidade defende-se e afirmando-se perante a prepotência dos poderosos e dos seus habituais colaborantes.
Viva a classe operária!
JC
E então aquela do sr. chora ter ido ao jantar de apoio/despedida do sr. ministro? É de lamentar as atitudes deste sindicalista
Caros amigos lamento ter demorado tanto a responder, mas outras lutas tomaram-me o tempo disponível.
A luta não é simples e não é rápida e menos ainda sem escolhos como este senhor chora. Mas não é isso que nos vai demover dela.
Eu escrevi o post ainda antes da jantarada, por isso nem sabia mas ele afinal revelou-se por si.
Abraços
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