Não me digam que é paralelo que eu não aceito. Não me digam que quem pela força de um exercito bem armado, massacra, tortura e oprime para garantir um privilégio sobre o direito dos outros se compara a quem não dominando as armas, com elas luta para garantir os seus direitos. Não me digam que é igual porque eu rejeito.
Na Espanha da Guerra civil nada é igual, não há nem pode haver respeito ou reconhecimento a quem agrediu, a quem cujo dever de lealdade ao Governo se tinha de sobrepor ao seu interesse de individuo ou de classe. Governo que era eleito, em urnas como qualquer outro Governo eleito nas chamadas democracias ocidentais.
Falou mais alto a vontade de oprimir, de humilhar, de se fazer obedecido e nunca contestado. Por isso nunca quem se defendeu pode ver-se a isso igualado. Não há igualdade entre quem agride e quem é agredido, entre quem quer mandar por direito de privilégio monetário ou divino e quem se recusa a ser mandado.
Por isso quem matou e torturou não pode ser lembrado, lembrados têm de ser outros.
Reproduzo aqui um poema de Gentil Valadares que anda moço viu esta guerra no lado de cá da raia, onde o seu pai, oficial da guarda-fiscal Tenente António Augusto Seixas, tanto fez para salvar da morte certa muitos Republicanos fugidos da agressão fascista.
Arriba Espanha
Ai nua…
Nua vinha…
E só uma andorinha, de asas abertas, negra,
Poisara no seu ventre cor de lua…
Tinham-na violado…
Feito dela matraquilho…
Raparam-lhe o cabelo à soldado
Depois de pôr-lhe o corpo num rodilho…
E bárbaros, cruéis, num gesto cínico,
Lhe deram de beber óleo de rícino…
Foi quando, num descuido, lhes fugiu…
A corta-mato, a furricar-se, veio
Por entre chãos de trigo e de centeio,
Até chegar, por fim, ao marco da fronteira,
E ela vinha por entre o matagal
A mastigar bolota de azinheira,
Dorido, mas pacifico animal…
As faces encovadas, de caveira…
E em cada olho a nódoa de uma olheira…
“Despe o sobretudo…Dá-lho!” (meu pai assim mandou)
E eu dei-lhe o sobretudo de bom talho…
E com ele é que a moça se tapou.
Era filha – nos disse – de Dom Paco
Um homem bom, porém, de má fortuna.
Dom Rubio, que era amigo, mas velhaco,
Aos raquetés o acusa de comuna…
E foi ditada a sorte:
Olhos vendados…Morte.
Ela, andaluza, sólida, morena,
Nascera na cidade de Aracena.
Seu nome era Pilar…
E negro o seu olhar.
Olhei o seu perfil…”A fronte é soberana.
De tranças pretas, saias longas, lenço,
Seria uma cigana…”
Mais tarde a vi em Moura, um mês depois
Na praça de toureio encurralada, de sobretudo trajada…
São mil e vinte e cinco espanhóis,
Mais pacíficos ainda do que bois…
Seguiram num “comboio especial”
A fim de embarcar na capital
Em barcos (dois) da Armada Portuguesa.
Sei que seguiram para Tarragona,
Porto de mar, perto de Barcelona.
Nem todos vão por mar.
Uns seis não embarcaram…
Foram de side-car…
E sei que os fuzilaram!
Fuzilamento de Comunistas em Llerena in estudossobrecomunismo.weblog.com.pt
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