sexta-feira, 13 de março de 2009

Pode o Povo querer um Mundo Novo a sério



Mais de 200 mil pessoas, de qualquer ângulo que se veja é uma resposta impressionante à convocatória da CGTP-IN para a Manifestação de Hoje. Acabei de ouvir na Televisão um comentador afirmar que a CGTP se estava a aproveitar da situação de descontentamento. Confunde este comentador, que tem a veleidade de se achar jornalista, a necessidade que os trabalhadores de se fazerem ouvir com aproveitamento. Mesmo que só tivessem respondido ao apelo 10 pessoas, essas dez pessoas estariam sempre a protestar contra situações que são, no seu entender, injustas. É esta a natureza dos sindicatos e de uma Central Sindical. Porém ao mobilizar uma multidão destas significa que esta multidão e seguramente mais gente que se não manifestou, se encontra injustiçada, se encontra revoltada, contra a sua situação económica, laboral e até política. Isto não é aproveitamento, aproveitamento seria se estas pessoas ali estivessem ao engano, esperando manifestar-se sobre um assunto diverso do que que foi tratado. Aproveitamento seria se tivessem ido debater uma série de questões e descobrissem durante o processo que nada seria debatido. Aproveitamento seria se descobrissem que apenas servem de enquadramento para o seu suposto Lider falar. Isto sim seria aproveitamento, mas não foi isto que, contrariamente ao que tem sucedido em certos "eventos políticos", aconteceu.

Os mais de 200 mil portugueses que se manifestaram das Avenidas Joaquim António de Aguiar e António Augusto de Aguiar até aos Restauradores, aí comparecerem por verem que a sua situação, que estava longe de ser famosa, está hoje muito pior, e que o seu governo, em lugar de procurar soluções que salvaguardem não só as suas expectativas mas os seus direitos, prossegue políticas em defesa de uma duzia de priviligados, políticas que cerceiam gravemente os direitos laborais, retirando regalias que bem custaram a conquistar, tentando degradar os seus vinculos laborais, colocá-los a trabalhar mais por menos dinheiro, para liberalizar o seu despedimento, dando amplas possibilidades ao patronato de perseguir quem se oponha aos seus intentos, a quem proteste, a quem seja um problema.

Quem protestava sabia bem o que custa a luta nos locais de trabalho contra a polivalência, a flexissegurança, que nada tem de segurança, sabe bem o que custa o lei off, as medidas de avaliação arbiterária impostas aos professores e à função pública. Quem se manifestou, conhece bem o que são as horas prestadas a mais sem remuneração, os bancos de horas, a degradação da sua vida pessoal e familiar à mão do arbítrio de alguns.

Vi esta semana a situação de um trabalhador que, tendo cumprido as suas horas de trabalho e assinado o respectivo ponto, foi despedido por não se ter apresentado ao seu superior antes de sair. Tal infâmia, retrato das muitas infâmias espalhadas pelos sátrapas que se vão colocando nas chefias, são só possíveis no nosso país, por ter paulatinamente regredido, por vezes a situações de antes do 25 de Abril, a legislação que pauta os direitos de quem trabalha.

Era contra isto também que protestavam os mais de 200 mil que desceram a Avenida da Liberdade. Quem não compreende isto, desconhece não só a raiz dos problemas, como está completamente alheio do grau de sofrimento que se colocou aos trabalhadores, imposto não pela crise, mas pelo estabelecimento da obediência pelo terror, hoje espalhado pelos locais de trabalho. Quem não compreende isto, está vivendo uma mirífica ilusão sobre a qualidade dos direitos e leberdades do país em que vivemos. Quem isto não compreende, é cego ao mal estar que atravessa toda a sociedade portuguesa, das escolas aos Bairros sociais, das fábricas à administração pública, das pescas à agricultura, e à qual urge opor uma luta determinada. Era esta a luta dos mais de 200 mil.

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