Metade da humanidade, até um pouco mais, é constituída por mulheres. Esta realidade porém não tem servido para garantir a participação, satisfação das necessidades, igualdade de oportunidades e de salário, direito à educação, ao trabalho, fim da violência e maus tratos em ambiente doméstico, etc, etc, etc...
Quando no princípio do século Clara Zetkin, conseguiu fazer reconhecer a necessidade de um dia de luta e reflexão da condição da mulher, no seio da internacional Socialista. Quando após a Revolução de 1917, Alexandra Kolontai, consegui convencer os seus Camaradas da necessidade de estabelecer esse mesmo dia como memorial da luta das mulheres por condições de igualdade na União Soviética, estariam ambas longe de pensar que mais de uma centena de anos depois o fim da desigualdade gritante e desrespeito pelos direitos e liberdades, de mais de metade da humanidade, estaria ainda por realizar. Menos ainda pensariam que passados cem anos grande parte do planeta viva ainda com costumes e leis que negam esses princípios, pelos quais lutaram, reduzinda a mulher à condição de propriedade, impondo-lhe a ignorância como destino, a posse de uma ou várias a um homem que, por sua livre escolha, jámais teriam por companheiro, o sofrimento atroz da mutilação genital, a humilhação de indumentária, de impossibilidade de gerir a sua vida e muitas outras aberrações do mesmo tipo.
O Dia Internacional da Mulher Trabalhadora, pois é disso que na realidade se trata, surgiu como corolário de jornadas de luta das operárias de Nova Iorque, potenciadas pelo terrível incêndio que, pelas condições de trabalho miseráveis, vitimou a quase totalidade das trabalhadoras de uma fábrica de texteis.
Surgiu como corolário da luta por condições dignas de trabalho, mas cedo adoptou a luta por direitos sociais iguais, para quem já tinha impostos tantos deveres.
Hoje é comum chamar anodinamente de "Dia Internacional da Mulher", escamoteando quer as suas origens, quer a sua finalidade. Limitando a ser um dia em que se lembra vagamente que existem, e se lhes oferece o doce entorpecente de uma flor, para que se não lembre da dureza do dia-a-dia e das lutas que enfrenta.
É bom lembrar que não estão assim tão longe os anos que, entre nós, as mulheres dependiam da autorização do marido para viajar, alienar propriedade, em que lhes eram vedadas determinadas áreas de estudo e carreiras. É bom lembrar.
É bom lembrar também que não é com quotas que se establece a igualdade. É com preparação, motivação e com o cumprimento das normas legais que impedem que sejam remetidas a salários mais baixos, a funções hierarquicamente inferiores, a sacrificios da sua vida profissional em função quer da realização pessoal, quer da realização de marido e filhos. São estes os constrangimentos sociais a derrubar, não são uma questão de quotas.
As mulheres, como seres humanos integrais e capazes, podem e devem impôr-se pelo seu valor e capacidade, acrescentando algo á vida social, política e económica do país, para alem apenas do facto de serem mulheres. Aliás, o seu número vinha crescendo em Portugal, a nível de representatividade desde o 25 de Abril, de forma constante, mostrando a sua capacidade de intervenção. Hoje, com as quotas (que me parecem coisas horriveis, como se de incapazes se tratassem e não conseguissem vencer o mundo sem muletas, podemos ter mais mulheres artificialmente em lugares de decisão, mas não pessoas realmente empenhadas e preparadas para os processos políticos que se desenrolam. Não que não sejam capazes de o conseguir, mas porque infelizmente muitas delas se vão desmobilizar durante o processo por falta de preparação própria, e isto é tão mau para elas, quanto para todos.
Para que o Mundo seja mais igual e justo, as pessoas devem ser consideradas em função das suas qualidades, não pelo seu sexo, não pela cor da sua pele, não pela religião que professam, não pela orientação sexual que possuem. Quotas só servem para dividir o ser humano em categorias, para fomentar o mal estar e a luta entre grupos, desviando a humanidade das questões essenciais, ou seja a luta pelo fim da exploração. Quando isso acontecer finalmentente, então nasceremos nós humanidade verdadeiramente todos livres e iguais.
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