quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Pensos rápidos


Acabo de chegar de uma sessão sobre o Darfur (Sudão) levada a cabo pela Plataforma por este território, constituída por sete organizações, entre elas a Amnistia Internacional e os Missionários Combonianos, e assistir a este evento deixou-me reflexões profundas. Não pelo que lá se passa do qual tenho conhecimento há muito, ainda antes destes alertas, não pela genuína preocupação que se sente e que nos tem de mover em algum sentido, mas pelo que se passa em outros locais com igual importância, há mais tempo e de que não se fala.
Fiquei a pensar na questão do Povo Sarauí, que há tantos anos trava uma luta desigual com o Reino de Marrocos, que vê as suas terras colonizadas, as suas gentes expulsas e exiladas, perseguidas, mortas, torturadas, a sua cultura destroçada, vendo-se forçados a viver em campos de refugiádos com as piores limitações à dignidade humana que se possa imaginar. Fiquei a pensar que situações destas se passam, no médio oriente, na américa latina, ou se pensarmos nas inumeras limitações que continuam a impedir aos aborigenes o acesso ao pleno direito enquanto cidadãos australianos (ainda recentemente um estádo australiano aprovou medidas de restrições sociais a este grupo), com o esquecimento, complacência, ou mesmo cumplicidade activa das sociedades ocidentais, ou mesmo causado por elas, como a expulsão de todos os habitantes da Ilha de Diego Garcia, transformada em base militar, sem que à sua terra ancestral, duas gerações tenham direito de voltar, ser indemenizadas, ou sequer ter imediato acesso à cidadania da potência colonizadora, neste caso o Reino Unido, que cedeu o uso da base aos EUA.
Fiquei a pensar que estas situações se dão quando alguém se tenta apossar dos recursos que estão na terra de outrém, seja petróleo, fosfatos, água, outras riquezas minerais, ou localização geo-estratégica. Mas que os casos só são discutidos e falados quando se está em desgraça com a super-potência dominante. Estivesse o Marrocos, tal como está o Sudão desconsiderado pelo ocidente, e à muito que a República Árabe Sarauí Democrática (RASD) teria visto a sua independência reconhecida e garantida por todo o ocidente, podendo voltar as populações a suas casas e suas vidas. O mesmo se diz para todas as situações acima descritas. Toda a gente enche a boca dos direitos dos Cubanos, mas quem a abre para falar das populações indigenas do Perú massacradas em silêncio? E se o Reino Unido reconhecer eventualmente o direito dos ilheus a regressar à mais do interdita Diego Garcia? Que embaraço diplomático enfrentarão?
Enquanto estivermos a jogar o jogo de quem manda. Medindo a preocupação pelo seu peso e medida, estaremos a cozinhar um ódio que acabará por se virar contra nós. Pois este rio que se torna cada vez mais violento, no seu desespero e fúria, tudo vai arrastar, e nós por inércia ou por cegueira (por mais bem intencionados que estejamos) vamos estar irremediavelmente nas margens que o oprimem.
O tempo, o colonialismo, a utilização de uns povos contra outros de forma a garantir o acesso aos recursos ao mais baixo preço, quer sejam naturais ou humanos, criou uma infecção cujo tratamento exige ir às raízes dos problemas. De outra forma o colocar de pensos sobre as várias feridas originadas não resolverá nunca o problema. Quando muito vai mitigá-lo para que retorne um dia mais tarde em formas de violência muitíssimo superiores e sofisticadas.

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