No jornal, por falta de espaço, foi necessário cortar partes do artigo, que é então publicado aqui na integra.
É indesmentível, para todos aqueles que conhecem o nosso jornal e a sua história, que surgimos no longínquo ano de 1879, bem antes do dealbar do século XX, donde foi testemunha de todas as grandes mudanças do século XX, quer no nosso país, quer internacionalmente.
Assistimos às derrotas e vitórias do movimento republicano, ao desenvolver das grandes lutas operárias. Assistimos com esperança ao aparecimento do primeiro Estado dos Operários e Camponeses, e também ao seu fim.
Fomos testemunhas de reverberantes vitórias, como o esmagamento do Nazi-Fascismo, e derrotas dolorosas para os trabalhadores, como a da Espanha Republicana ou a dos patriotas Gregos.
Superámos, não incólumes, o estado novo e partilhámos com o nosso povo o imenso projecto de Abril. E pelas páginas desde jornal passaram as libertações nacionais dos povos em luta, desde a Irlanda, até ao bem recente Timor, não esquecendo praticamente todos os países Africanos, as lutas de libertação na Ásia, na América latina, no Mediterrâneo.
Estivemos solidários com todos os trabalhadores e povos, na procura de uma vida mais digna e de um futuro melhor. Mas também com aqueles a quem foi imposto pelo Imperialismo a perda dos direitos, da liberdade e, por vezes até da existência, no Chile, na Bolívia, na Guatemala, em Salvador, no Chipre, no Vietname, na Coreia, no Sara ocidental, na Palestina e em vários muitos outros cuja resistência e a tenacidade da luta opuseram e opõem à exploração e à indignidade uma firme barreira de vontades e de esforços, dos quais não poderíamos deixar de enumerar Cuba e a sua luta contra o bloqueio.
Mas não foi só no plano externo que se expressou a nossa solidariedade. Enquanto jornal, que não é só e apenas, mas também enquanto Voz da Classe Operária, fiel à nossa origem e desígnio. Estivemos ao lado dos trabalhadores em luta, por melhores salários, condições de vida, na defesa da realização e manutenção dos seus direitos conquistados com luta e sofrimento, antes e depois do 25 de Abril.
Demos voz aos anseios das oito horas de trabalho, pelo direito à assistência social, ao subsídio de desemprego, às garantias de higiene e segurança no trabalho, à assistência médica gratuita e, como não poderia deixar de ser, ao direito à educação, a que esta instituição deu real propósito poucos anos depois deste jornal ter visto a luz do dia.
Mantemo-nos fiéis aos nossos princípios fundadores, aos nossos propósitos, à nossa luta e aos princípios de fraternidade e solidariedade para com os trabalhadores de todos os países do Mundo. Mas temos a consciência que para tornar realidade este sonho, que o é mas não utópico, temos de chegar mais longe, alargar horizontes, quebrar barreiras de preconceito e teias de inércia.
Estamos mergulhados, enquanto país e enquanto humanidade, numa das maiores crises económicas da história, crise essa fruto dos modelos de desenvolvimento injustos e desiguais, que permitem que uma pequena minoria arrecade os proventos dos recursos e dos avanços técnicos e científicos do ser humano, enquanto a vasta maioria empobrece, e se arrasta muitas vezes na mais abjecta miséria e degradação ambiental. No entanto aqueles que despudoradamente nos conduziram a esta situação peroram, mais uma vez, novas receitas de desenvolvimento que bem ao contrário de mitigarem as condições de vida aos seus semelhantes, as agravam de uma forma impressionante e empurram aqueles que se chamavam remediados a novas situações de pobreza, disfarçadas muitas das vezes pelas estatísticas e equações económicas, ou mesmo pela vergonha das suas vítimas.
Em lugar do terceiro milénio ter sido para a humanidade o início de uma esperança em condições de vida mais justas e próximas daquelas que entendemos por humanas, assistimos à regressão de todos os índices de desenvolvimento e prosperidade, sendo óbvio que a actual geração não poderá deixar, por necessidade, à geração seguinte um Mundo capaz de prover à realização das suas próprias necessidades.
De novo é necessário que a nossa Voz ecoe, que estejamos firmes e determinados em alertar, instruir, desenvolver capacidades e unir vontades, para uma luta que é travada dia a dia, nos locais de trabalho, nos sindicatos, nas urnas, mas também nas ruas. É necessário portanto que o nosso jornal esteja também lá, onde pode ser lido, onde pode ser escutado, onde possam ser apreendidos os seus alertas e mensagens. São estes os nossos objectivos, é este o nosso posto de luta.
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