domingo, 7 de março de 2010

PEC é quê?


Na semana que vai entrar muito se vai falar de PEC, procurando-se enaltecer, sem explicar, que esta é uma figura muito identica ao projecto "ladrão" que o PASOK leva a cabo na Grécia.
Foi originalmente publicado no Registo
De há umas semaninhas a esta parte algumas mentes com brilhantismo da moda, ou da colecção passada, vêm sussurrando nas páginas de alguns jornais e nas ondas hertzianas, a discretíssimas horas diga-se de passagem, sobre a necessidade da aplicação de um PEC.
Do profundo do meu desconhecimento do economês, e na falta de um dicionário à mão que me fizesse a tradução, para a língua corrente, do estranho código, supus que tivesse a ver com o Pagamento Especial por Conta, essa invenção financeira de uma certa Ministra que nunca ficou muito em voga que, por artes não muito claras, fazia pagar impostos antes sequer de haver rendimentos, e que, eventualmente os devolveria se se viesse a provar que não os havia. Numa espécie de pague agora e venda depois, que obrigava os comerciantes mais pequenos a engenhosos exercícios de cálculo e imaginação para a sobrevivência do seu negócio. O que não faz uma prestimosa senhora pelo desenvolvimento das capacidades cognitivas do seu semelhante. Tivesse chegado a São Bento e seguramente já não precisaríamos das palavras cruzadas ou do sudoku.
Quando me apercebi que este PEC, não era o outro, ainda pensei que fosse qualquer inovação europeia, tipo Política Agrícola Comum só que para a Economia. Afinal tanta e tão boa gente de aquém e além Montes Hermínios alvitrava a sua adopção tão urgente, que devia ser isso com certeza. Mas mais uma vez voltei à estaca zero.
Confesso que me vi grego para entender, mas foi então que se fez socrática luz na minha mente (não é que a maiêutica funciona mesmo!) e percebi que ver-se grego tinha tudo a ver com esta PEC. Na realidade PEC queria dizer Plano de estabilidade e Convergência, o que traduzido em vernáculo, para simplórios como eu, significa pôr em prática receitas em tudo idênticas às aplicadas na Grécia, para gáudio das empresas de rating: Cortes de salários, diminuição dos gastos em serviços públicos, tais como hospitais, escolas, bibliotecas, museus, e outras coisas sem importância, aumento da idade da reforma, quem sabe no limite dos cem anos, por forma a garantir, que os bancos, os gestores de empresas, os altos dignitários do Estado, os detentores de outras sinecuras, continuem a usufruir das benesses como indemnizações régias, cartões de crédito sem limites, posse dos respectivos veículos de serviço depois de terminada a comissão, acumulação de pensões de reforma (de preferência em idade conveniente), sem que isso afecte as prestações do Estado aos outros que tais, que fazem os tais dos ratings.
Daí que deixei de me espantar com o espampanante nome e intrigante acrónimo da criatura. E menos ainda me espanto com os pezinhos de lã com que vem fazendo o seu caminho. Assim, bem de mansinho, iludindo e confundindo os seus verdadeiros propósitos, se vai apanhando e manietando os mais incautos, que aos outros depois chamamos os “bota-abaixo” do costume.
Já agora, quando vos falarem em PEC, perguntem mesmo o que é.

NOTA: Com a confusão de termos o nome do PEC aparece indicado como Plano de Estabilidade e Convergência, quando deveria vir Plano de Estabilidade e Crescimento.

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