segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Uma História de Amor horrível


Durante anos e pese embora ainda hoje seja claro, ser-se pelo socialismo era rejeitar terminantemente a ideia de que não existe injustiça alguma na acumulação de riqueza extrema face ao empobrecimento geral. Mas desde os meados dos anos oitenta a esta parte, muitos dos que se afirmam socialistas têm agido, enquanto poder, na destruição de todas as formas e até resquícios de Estado Social, aprovando e sancionando a apropriação pelos privados das funções do estado e a desregulamentação dos mercados.

Finalmente a clareza de pôr as coisas nos seus devidos termos saiu dos meios políticos para a exposição social. Que o sinónimo entre capitalismo, mercado livre e democracia não existia, era algo que para aqueles que se dedicam a promover a transformação social era por demais evidente. No entanto durante décadas e com especial ênfase para as últimas duas décadas a tentativa de fazer coincidir as duas coisas tem sido uma constante entre certos sectores políticos e na maioria dos meios de comunicação, especialmente aqueles que estão ligados a grupos económicos.

A terrível história de amor de Michael Moore, mostra aquilo que é uma realidade nos Estados Unidos mas que nos afecta sensivelmente. Na verdade esta ofensiva que levou ao colapso do mês de Setembro de 2008, não começou nos Estados Unidos com a administração Reagan, mas já anteriormente no Reino Unido a Sr.ª Tatcher vinha trabalhando laboriosamente para destruir a capacidade negocial dos sindicatos e desregulamentar o mercado, sempre recorrendo à ladainha de que era necessário gerar riqueza para depois a distribuir, mas na verdade fazendo desequilibrar a sociedade polarizando-a entre os que têm e aqueles que nada possuem.

Os sub-primes, com que paulatinamente se foram prendendo os trabalhadores a dívidas que no limite superavam largamente até os rendimentos do seu trabalho, os derivados, cujas explicações são absolutamente ininteligíveis até para os seus próprios inventores, as injecções de dinheiros públicos para salvar fundos privados, esses mesmos dinheiros públicos que nunca são suficientes para atalhar às necessidades da população, entre escolas e hospitais.

Os nossos governos, sempre tão ansiosos de cumprir servilmente os ditames externos, apressaram-se, social-democratas e socialistas, a transpor para o rincão pátrio tudo o que havia de contenção salarial, isenção de impostos nas transacções em bolsa, aumento preferencial dos impostos cegos como o IVA, o pagamento especial por conta, o colocar nas mãos do capital as poupanças para futuro através de PPR’s e fundos de pensões, desequilibrando assim as caixas de pensões. Tudo em nome de um radioso futuro que nunca chegou e a continuar assim não chegará jamais.

Não satisfeitos do balão de oxigénio que os governos lhes deram a expensas públicas, querem mais. E o FMI mais do que desacreditado, pedindo ele mesmo emprestado aos milhares de milhões, não se coíbe de desavergonhadamente vir afirmar que a economia nacional precisa de mais do mesmo, contenção salarial na administração pública, diminuição da despesa com transferências sociais e benefícios fiscais, desregulamentação dos direitos do trabalho, aumento do IVA, ameaçando com um aumento do défice público em 100%

Pois quanto a mim às favas com o défice público. O défice público não pode servir para impedir, limitar, ou retirar regalias e direitos à população com o argumento de que o Estado não tem dinheiro, e servir para cobrir milenariamente os desmandos e crimes bancários, com o argumento que os bancos não podem ser deixados falir.

Não podem? Não vivem na livre concorrência, não é isso que acham justo? Ou têm que ser aqueles que menos têm que tem de sistematicamente sofrer as consequências dos actos deles?

Viver mal por viver mal antes que seja deixando-os aguentar com as responsabilidades e o peso dos seus actos. Por mim não mandatei ninguém para os salvar com o meu dinheiro e nem estou disposto a dar-lhe um tostão furado que seja. Afinal esta história de amor não é minha.

in Registo


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