O egoísmo é um sentimento e característica dos seres, manifesto no mais elementar primarismo, de satisfazer as suas necessidades, ou as do seu grupo, em detrimento da satisfação das necessidades dos outros. Muito já se disse sobre esta atitude e, inclusive, muitos já tentaram ligar as questões da evolução e da sobrevivência a esta característica.
Hoje ninguém pode afirmar de um ponto de vista científico, que as alterações climáticas não existem, ou que não são de origem antropogénica. Aqueles que alegremente afirmam que nada está provado, que as alterações climáticas sempre existiram, que o CO2 é apenas um gás necessário ao desenvolvimento das plantas, esquecem que a poluição não se prende exclusivamente com toxicidade directa, mas com a capacidade de alterar significativa e negativamente o meio ambiente. Esquecem também que a análise das colunas de gelo eterno provou, para além de qualquer dúvida, a conexão entre a concentração de CO2 e o aquecimento global, provando ainda o seu dramático aumento desde a Revolução industrial. Esquecem por fim que mesmo que exista um arrefecimento global, e este sim uma teoria, o mesmo se prende com a desaceleração das correntes marinhas, provocada pelo degelo dos pólos, consequência do…aquecimento global.
Estes esquecimentos não são nem inocentes nem desinformados, pois aqueles que tentam até hoje atirar para o campo da teoria aquilo que cientificamente está já no campo do paradigma, são os mesmos que acreditam que podemos seguir tranquilamente na senda do modelo de desenvolvimento que vimos seguindo desde o final do século XX e que tem espalhado a miséria e o sofrimento à maior parte dos povos, privilegiando apenas uns quantos.
É lamentável que neste quadro estejam também pessoas cuja análise das situações se permite esbarrar nos preconceitos e que isso as leve a confundir a defesa dos direitos dos povos com conluios com as possíveis e condenáveis negociatas em roda do carbono, como a criação de transacções e bolsas, que ao contrário de resolverem qualquer situação a agravaram dramaticamente, manipulando valores estatísticos e resultados. Esta atitude advém da incapacidade de reconhecer a outros algum mérito de análise, mesmo divergindo nas soluções.
Estas posturas frequentemente chegam-nos das mesmas pessoas que em tempos já defenderam a existência de um gene egoísta e que tentaram manipular o paradigma de Darwin, procurando ler o sucesso social à luz de um pretenso corolário darwinista da sobrevivência do melhor adaptado. Diga-se de passagem ambos falsos pretextos. Primeiro porque a cooperação e colaboração entre os seres, com a formação de sociedades, foi a garantia de sobrevivência e proliferação da espécie humana, e, à luz da teoria de Margulis, da própria evolução da vida eucariota. Segundo porque em caso de alteração das condições do habitat, são os elementos menos especializados (leia-se pior adaptados), aqueles que têm melhor plástica de sobrevivência.
Assim a questão do Aquecimento Global – Alterações climáticas, não é já uma questão teórica, está provada, é real, e por muito que os modelos se afastem dos efeitos finais, e é natural que sim, seguramente as consequências não são nem positivas nem despiciendas.
Se me disserem que a vida no planeta está em risco, responderei que não. Esta prosseguirá seguramente. Poderá é prosseguir sem a nossa espécie, e embora esta questão numa escala planetária seja de nula importância não o poderá ser se arrastarmos connosco todo o modelo de evolução que nos deu origem.
O egoísta é então, neste contexto, a atitude própria daqueles que se julgam peça central do universo e aos quais todas as necessidades e vontades têm de ser satisfeitas, pouco importando que isso custe o depauperar dos recursos e o sacrifício de tudo à sua volta.
É a atitude também daqueles que por divergência ideológica, recusam por princípio toda a tomada de posição e postura do outro, recusando-se a analisar objectivamente o seu discurso, separando o que é reflexão sobre a situação, daquilo que é proposta de solução, politica e ideologicamente orientada. Porque analisar os fenómenos é científico, agora a solução social é que será seguramente política.
Um acordo em Copenhaga, mas não qualquer acordo, é desta forma um imperativo. Mas um imperativo que terá de ter em conta as necessidades humanas e não as económicas. Estas deveriam finalmente ser relegadas para o papel de ferramentas da melhoria da qualidade de vida das populações e deixarem assim de ser o centro ao redor de qual tudo gira. Se assim não for, Copenhaga terá o mesmo destino dos acordos do Rio ou do Protocolo de Quioto, e nós enquanto humanidade teremos perdido mais uma hipótese de avançar civilizacionalmente.
originalmente in Registo
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