segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Acordai depois das lutas finais os nossos heróis...



O texto que acompanha este post foi escrito para ser publicado no semanário "Registo". Escrevi-o porque seria publicado hoje, coincidindo assim com o aniversário do nascimento de Álvaro Cunhal. Embora indissociável da própria história do PCP ao longo da longa luta contra o regime fascista, é altura de o lembrar como ideólogo marxista de uma importancia inegável.
Não quereria no entanto deixar de fora desta homenagem a impressão pessoal de Álvaro Cunhal. Nunca tive a sorte de conversar com ele mais de que uns poucos minutos, em três diferentes ocasiões, contudo guardo uma recordação muito marcante da primeira, e da última vezes que tive ocasião de estar pessaolmente com ele. Mais do que a sua forma de falar, impressionante que era, não esquecerei nunca a força do seu olhar, um olhar que, como digo a várias pessoas que conheço: "como se a História toda olhasse para ti naquele momento". Na última vez já os seus olhos estavam bastante afectados, mas ainda assim o seu olhar impressionaou-me, dessa vez pelo brilho que reforçava o seu sorriso.
Sempre acreditei que os homens que dão alguma coisa de si à humanidade guardam uma alegria própria que se refecte com a idade. É essa alegria que creio o acompanhou até ao fim.

A força das ideias

Na data em que estas linhas estiverem impressas terão passado 95 anos do nascimento de Álvaro Cunhal. É inegável, qualquer que seja o ponto de vista que se adopte, Álvaro Cunhal é um personagem incontornável da história do nosso país através de um período de mais de cinquenta anos. A sua acção política é determinante quer para a resistência contra o Estado Novo, de que é um dos símbolos maiores pelo tempo e condições duríssimas da sua detenção e pela espectacular fuga do Forte de Peniche, quer pelas acções reivindicativas levadas a cabo pelos trabalhadores durante o regime fascista, com o apoio e organização do PCP em condições de clandestinidade. O papel que desempenhou após a Revolução no estabelecimento e fortalecimento da democracia, colocam-no para sempre entre os grandes lutadores pela liberdade e bem-estar dos povos.
Referencia para comunistas e progressistas, quer em nacional quer internacionalmente, a importância da sua obra teórica está ainda claramente subestimada. Num momento em que o Capitalismo neo-liberal falhou claramente, arrastando consigo toda a economia, muitos tentam encontrar respostas nas teorias social-democratizantes que, durante muito tempo, serviram de tampão entre as economias socialistas e o capitalismo puro e duro, absorvendo os choques dos descontentamentos do mundo laboral em busca de melhores condições de trabalho e vida. A verdade é que mal se tinha vislumbrado o fim do socialismo essa mesma social-democracia seria também desmantelada por desnecessária ao ocidente.
Hoje, mais uma vez se tenta iludir as questões, que dizem respeito ao futuro da humanidade, recorrendo-se a artifícios de forma a impedir um novo rumo na história.
A crítica feita pelos Comunistas e que se devem também em grande medida a Álvaro Cunhal, eram válidas então, como estão válidas agora, o mundo não mudou tanto assim. Talvez a melhor homenagem que se lhe possa prestar seja lê-lo ou relê-lo, e daí tirar algumas ilações.


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