Nos Jogos Olimpicos da era antiga mandava a tradição que reinasse a Paz durante a realização dos mesmos, a quebra da mesma significava não só o afastamento dos competidores da Cidade-Estado em guerra, mas também o amaldiçoar daquele que a tivesse iniciado. Mesmo as guerras em curso ficavam sob um estrito cessar-fogo (esta palavra é caricata utilizada num contexto de inexistência de armas de fogo, mas é mais perceptível assim)até ao termo das Olimpiadas.
Quando foram retomados na era moderna os Jogos a ideia não era apenas retomar competições ou ver quem ganhava mais medalhas, ainda que isso fosse uma das condições basilares porquanto só os vencedores ascendiam ao Olimpo, mas era renovar uma tradição de fazer pervalecer momentos de Paz mesmo em épocas conturbadas. Parece que ao longo destes cento e doze anos poucas vezes se tem recordado esta questão. Parece também que ao longo destes anos os responsáveis têm sido muito mais vezes aceites preterindo-se os agredidos (ou quem toma a sua defesa).
Não fazendo um longo historial que seguramente encheria de vergonha todos os que acreditam no espírito olimpico, gostaria de relembrar os acontecimentos que marcam estes jogos. O Governo Georgiano, acossado por perdas de popularidade interna e incapacidade de cumprir as promessas feitas ao seu povo, partiu, como já partiram outros antes dele, para uma acção militar que previa fulminante contra as regiões separatistas da Abkhassia, e da Ossetia do Sul. Falava, tal como tinha feito exactamente da mesma forma na Adária, de restaurar a integridade do país e unir os Georgianos. Acontece que nenhum destes povos, que habitam estas regiões há pelo menos um milénio, se reconheciam como Georgianos, quer pela lingua, pela cultura, quer pelos modos e tradições.
Era sabido de há muito que estes povos, que sempre tinham olhado para a Rússia, quer império quer após, como libertadora do jugo Georgiano, tinham após a desagregação da URSS, contado com os Russos para manter áreas autónomas em cujas populações dependiam em tudo da Russia, inclusive os sistemas de segurança social, e que possuiam passaportes Russos por vontade própria.
Estas populações queixaram-se sempre da opressão Georgiana e quem os oiça agora verá que se queixaram das tentativas de Georginização dos seus apelidos de familia, da destruição da sua língua e da marginalização que a Georgia lhes impôs.
Neste quadro, em que uma acção militar era a única forma de controlar estes povos, o Governo Georgiano não hesitou em aplicar o mesmo método que lhe permitiu o controlo de Batumi, e aproveitar o início dos jogos Olimpicos para se lançar numa aventura de consequências ainda imprevisíveis em larga medida.
Quer fosse pela Paz Olimpica, quer por acreditar na intervenção diplomática e militar do ocidente, quer por sentir que um coro de críticas se levantaria contra a Russia, o Governo Georgiano não pareceu contar com a reacção Russa, e quando isso se torna uma realidade incontornável, despudoradamente clama denunciando uma tentativa de limpeza étnica ou de invasão do país, que nunca existiram. Aliás se há refugiados e baixas de guerra, mesmo entre os cívis, elas devem-se apenas e exclusivamente ao aventureirismo dos dirigentes da Georgia.
Agora que está em vigor um cessar fogo, em que o espírito olimpico levou outro rombo não pequeno, embora pareça aguentar-se bem porque todos já esqueceram o que significa, iremos ver como se comporta o governo de Tiblisi. A verdade é que com as suas acções não só acelerou como avalizou soluções tipo Kosovo, com a agravante que os albaneses do Kosovo, eram isso mesmo Albaneses que ao longo dos tempos haviam cruzado as fronteiras da Sérvia e aí se instalando até, como se viu, alterarem a demografia e com isso exigirem auto-determinação, e os habitantes da Abkhassia, da Ossetia e da Adária, serem Abkhasses, Ossetas e Adares, logo com muito mais legitimidade.
3 comentários:
:)
Deixo apenas um sorriso e um abraço... peludo!
Obrigado pelo teu sorriso e abraço, significam muito para mim apesar de ter desejado que expressasses a tua opinão, tão diametralmente oposta à minha. De qualquer maneira fica a satisfação de saber que leste os meus argumentos.
Um abração
Obrigado, Carlos!
Outro abraço como tu sabes...
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