terça-feira, 19 de agosto de 2008

Somos nós homens ou mercadorias?

O seguinte é um pequeno texto que escrevi antes do início dos Jogos Olímpicos de Pequim para o jornal "Registo". Infelizmente devido a infortunios do destino acabou por não ser dado à estampa. Embora o assunto tenha sido um pouco ultrapassado pelos acontecimentos, deixou sequelas que voltarão a colocar-se quando mais uma vez colidirem os direitos de cidadania com os interesses dos clubes, e seguramente não será só no futebol. Mais tarde ou mais cedo será em outros desportos, quando os direitos dos atletas colidirem com os interesses dos patrocinadores e mesmo na vida comum do cidadão quando os seus direitos colidirem com os das empresas que os empregam.
É urgente travar o passo a uma sociedade que procura mercantilizar todas as formas de relações e todas as dimensões da vida humana, transformando a vida num imenso mercado. Por isso deixo a transcrição desse texto que não chegou à publicação.

Tomei conhecimento que o Tribunal Arbitral do Desporto atendeu às pretensões do Futebol Clube de Barcelona, desobrigando-o de ceder o jogador Leonel Messi para a representação olímpica da Argentina. Normalmente estas questões de futebol passam-me um pouco ao lado mas, neste caso, prestou-se a uma reflexão que nada tem de estival.

Messi, cidadão Argentino, é impedido de representar o seu país porque, para o Tribunal, mais importante que o seu direito de cidadania é o interesse do clube que o emprega. Ou seja, na lógica destes juízes a Empresa sobrepõe-se ao próprio Estado.

Estamos no mais absoluto cumprimento do paradigma capitalista. Não tem valor a cidadania face ao valor que este homem representa, como mercadoria em bom estado para o proprietário, que o pagou a bom preço e tem de ver o seu investimento protegido. Os tão incensados direitos humanos podem portanto ser vergados ao interesse do mercado. Aliás podem ser sempre obliterados quando o que está em causa é o seu funcionamento.

No novo mundo em que vivemos, que de facto é bastante velho, só temos valor então enquanto mercadorias. Se vingarem estas posturas estaremos todos ao sabor de quem dá mais.

Nota: Já depois de ter escrito esta coluna inteirei-me que Messi foi autorizado a competir em Pequim, porem a Federação Argentina teve de comprometer-se a accionar um seguro, a favor do Barcelona, em caso lesão ou seja de “dano da mercadoria”. Medonho a forma como de humanos, passamos a mercadoria.


1 comentário:

SP disse...

Estive aqui!
E tu sabes o que isto quer dizer...

Um abraço peludo...