quarta-feira, 12 de março de 2008



As palavras do Ministro Augusto Santos Silva em Chaves, na noite de 7 de Março, não me iriam merecer qualquer comentário, pela baixeza, a vilania e o desrespeito que significam para todos aqueles que resistiram contra o fascismo com sacrifício das suas famílias, da sua saúde, e até das suas vidas, em Angra, em Peniche, em Caxias, na EPL e no Campo da Morte Lenta - O Tarrafal. Baixeza e vilania que merecem o total desprezo, o mesmo desprezo que homens como Bento Gonçalves, José Gomes Ferreira, Militão Ribeiro e tantos, tantos outros seguramente lhe dariam.

Mas não posso deixar de transcrever esta Carta Aberta de António Vilarigues, pela profunda amizade que me liga à Sofia, minha colega de profissão e de curso, ainda que não do mesmo ano, e com a qual, por também ela ter sido uma vítima desse fascismo do Estado Novo, do qual se faz hoje o branqueamento, chegando ao ponto de se pretender que toda a luta antes do 25 de Abril nada significou, tendo sim significado esse famigerado 25 de Novembro que, falsamente, teria impedido uma tomada do poder pelos Comunistas.

Graças a essa data temos hoje o país sub-desenvolvido que temos, com a pior distribuição de riqueza dos países da UE (excepção feita ainda à Roménia e Bulgária), tendo-se restabelecido as oligarquias financeiras do tempo do fascismo e o mesmo modelo económico do Consulado de Marcelo Caetano.

É por ela e por muitas outras crianças da clandestinidade, pessoas da minha idade, um pouco mais velhas ou um pouco mais novas, que foram também vitimas dessa luta e portanto também elas uma geração heróica, que suportou o fardo desse combate, elas também lutadoras, portanto, dessa liberdade conquistada a 25 de Abril de 74, que coloco na integra esta carta, com o meu abraço fraterno e a certeza de que existe um futuro mais justo e humano para o nosso país.

Á memória também de Rogério Ribeiro, artista e homem de liberdade

Sábado, 8 de Março de 2008

Carta Aberta ao Senhor Ministro dos Assuntos Parlamentares



Exmº Senhor Ministro Augusto Santos Silva,



Venho por este meio informá-lo que me sinto insultado pelas suas afirmações proferidas ontem à noite, em Chaves e dadas hoje à estampa na comunicação social escrita.



Foi o comunista do meu pai, Sérgio Vilarigues, que esteve preso 7 anos (dos 19 aos 26) no Aljube, em Peniche, em Angra e no campo de concentração do Tarrafal para onde foi enviado já com a pena terminada. Que foi libertado por «amnistia» em 1940, quatro anos depois de ter terminado a pena. Que passou 32 anos na clandestinidade no interior do país, o que constitui um recorde europeu. Não foi ao seu pai, e ainda bem, que tal sucedeu.



Foi a comunista da minha mãe, Maria Alda Nogueira, que, estando literalmente de malas feitas para ir trabalhar em França com a equipa de Irène Joliot-Curie, pegou nas mesmas malas e passou à clandestinidade em 1949. Que presa em 1958 passou 9 anos e 2 meses nos calabouços fascistas. Que durante todo esse período o único contacto físico próximo que teve com o filho (dos 5 aos 15 anos) foi de 3 horas por ano (!!!). Que, sublinhe-se, foi condecorada pelo Presidente da República Mário Soares com a Ordem da Liberdade em 1988. Não foi à sua mãe, e ainda bem, que tal sucedeu.



Foi a mãe das minhas filhas, Lígia Calapez Gomes, quem, em 1965, com 18 anos, foi a primeira jovem legal, menor (na altura a maioridade era aos 21 anos), a ser condenada a prisão maior por motivos políticos – 3 anos em Caxias. Não foi à sua esposa, e ainda bem, que tal sucedeu.



Foi a minha filha mais velha, Sofia Gomes Vilarigues, quem até aos 2 anos e meio não soube nem o nome, nem a profissão dos pais, na clandestinidade de 1971 a 1974. Não foi à sua filha, e ainda bem, que tal sucedeu.



Fui eu, António Vilarigues, quem aos 17 anos, em Junho de 1971, passou à clandestinidade. Não foi a si, e ainda bem, que tal sucedeu.



Foi o caso do primeiro Comité Central do Partido Comunista Português eleito depois do 25 de Abril de 1974. Dos 36 membros efectivos e suplentes eleitos no VII Congresso (Extraordinário) do PCP em 20 de Outubro de 1974, apenas 4 não tinham estado presos nas masmorras fascistas. Dois tinham mais de 21 anos de prisão. Com mais de 10 anos de prisão eram 15, entre eles Álvaro Cunhal (13 anos).



São casos entre milhares de outros (Haja Memória) presos, torturados e até assassinados pelo fascismo. Para que houvesse paz, democracia e liberdade no nosso país.



Para que o senhor ministro pudesse insultar em liberdade. Falta-lhe a verticalidade destes homens e mulheres. Por isso sei que não se retratará, nem muito menos pedirá desculpas. As atitudes ficam com quem as praticam.



Penalva do Castelo, 8 de Março de 2008



António Nogueira de Matos Vilarigues

2 comentários:

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