sábado, 14 de maio de 2022

Aqui não há flores

(Este texto foi escrito para o 8 de Março, infelizmente não foi possível publicar na altura, hoje com o assassinato da Jornalista Palestiniana Sheeran Abu Aqleh achei adequado, por ser mulher, por ser uma lutadora pelo conhecimento da luta do seu povo, mas também pelo sucedido no seu funeral. Se tivesse sido uma actuação russa na Ucrânia, mesmo que não tivesse tido um décimo desta violência, já teria sido notícia da abertura em todos os telejornais por esse mundo fora. Assim como é na Palestina e perpetrada pelo ocupante israelita, provavelmente com sorte fará um meio minuto lá para o meio tempo.)

https://twitter.com/i/status/1525071164590129154

Há 100 anos que se celebra o dia 8 de Março, enquanto dia internacional da Mulher trabalhadora, que vulgarmente dito dia internacional da Mulher.
Quando Foi instituido, muito por força da acção de Clara Zetkin, este dia pretendia celebrar a luta e memória das trabalhadoras que haviam visto ceifar a suas vidas sob condições de trabalho desumanas em Nova Iorque, e as greves de trabalhadoras que se seguiram nos EUA com especial ênfase em Chicago. Com o tempo, e com o esbroar que as sociedades capitalistas tentaram impor ao significado deste dia, o dia internacional da Mulher, tornou-se uma coisa meio amorfa, em que se faz uma lembrançazinha das condições de desigualdade, sem aprofundar. Falam de questões como quotas de participação na política sem resolver questões sociais de fundo que são o que realmente impede essa igualdade, e especialmente se oferecem umas florzinhas, como se isso fosse mudar alguma coisa e alterar a condição de vida e realização pessoal e profissional das nossas compatriotas e de mulher no mundo.
Portanto aqui não haverá flores, nem quotas, nem lembrar esta ou aquela excepção de mulher de sucesso. Só haverá o recordar de rostos e nomes de mulheres que lutaram conscientes que a sua luta em nada difere da dos homens no objectivo da libertação da humanidade em relação às condições de opressão da sua existência. Sim falo das condições sociais e económicas, porque ao contrário do que alardeiam alguns, ninguém é livre de barriga vazia, doente, ou sem descanso merecido. Depois falo da liberdade de intervir, porque se a mulher pode subir à guilhotina também pode subir à tribuna. Por último porque enquanto não pudermos ser todos livres enquanto humanidade, ninguém será verdadeiramente livre.

Sem comentários: