segunda-feira, 23 de abril de 2018

Calado tempo demais




Fiquei em silêncio tempo demais. Não que não esteja sempre a tempo de retomar a escrita, mas deixei passar indiferente ou com uma incapacidade de escrever uma série de coisas que são por demais aviltantes. Catalunha, Brasil, Síria, Palestina, Iemen, são das situações mais insultuosas e que no entanto há quem se prontifique a defender.
Catalunha: O processo do 1 de Outubro decorreu, de uma forma absolutamente anormal, porém com um resultado estrondoso e não se diga que participaram apenas independentistas. É verdade que foram a maioria é é verdade que os espanholistas (chamados de constitucionalistas por referência a essa constituição de 78 que é rapidamente mutável para aceder às exigências da UE, mas totalmente rígida e impossível de se lhe mudar uma vírgula quando estamos a falar dos anseios dos povos), procuraram diminuir o seu significado e perante uma postura de arrogância e desprezo que se concretizou em agredir velhos e pessoas indefesas pela Guardia Cívil, que foi à Catalunha com o espírito de quem vai em conquista de terra estrangeira (a por ellos!) outra via não havia que declarar unilateralmente a independência. Uma vez declarada todos conhecemos a imposição do artigo 155° - suspendendo a autonomia - a convocação de novas eleições - com a vitória independentista - e o impasse com os juízes a tomarem a defesa do Estado Espanhol e a prenderem como se dos piores e mais perigosos criminosos se tratassem por meses a fio sem fiança os líderes reeleitos de milhões de catalães. Outros em exílio e ainda assim perseguidos.
Talvez o caso mais escandaloso seja o do ex-conselheiro Trull que tendo contraído tuberculose na prisão lhe é negada a saída para tratamento. O que mostra bem a face desta democracia.
Quanto ao Brasil depois de um julgamento em primeira instância que terminou, note-se sem que prova tivesse sido feita e baseado como diz o acórdão no convencimento pessoal dos juizes, na condenação a nove anos de cadeia do Ex-Presidente Lula. Mas, como isto não era suficiente para impedir a sua candidatura a segunda instância aumentou a pena para 12 anos e um mês, sempre sem qualquer prova e baseando-se no depoimento de um “arrependido” a troco de um acordo em relação ao seu caso.
Como se não bastasse o supremo brasileiro rasgou décadas de jurisprudência e permitiu que um acusado iniciasse o cumprimento de pena sem que os recursos tivessem sido esgotados ou seja sem que haja trânsito em julgado da sentença ou seja durante o tempo em que presunção de inocência tem de estar vigente.
Infelizmente não é a primeira vez que se condena sem provas, aumenta a sentença baseando-se na mesma falta de provas e se faz cumprir pena antes de se ser declarado culpado. Falta de vergonha é muita mas aqui nem falta dela é. Trata-se de completa ausência do quesito.
A Síria passou por um processo de verificação e destruição das suas armas químicas, na sequência de acusações movidas pelas potências ocidentais por indicação de duas organizações completamente desacreditadas e expostas como operativos de grupos ligados aos radicais islâmicos e à Arábia Saudita.
Na altura ficou mais que patente que as únicas unidades não inspeccionadas tinham ficado nas zonas dominadas pelos ditos rebeldes. Mais duas ou três vezes foram ensaiados alarmes do tipo, mas de todas elas desmontar se mostrou fácil e evidente.
Agora perante uma derrota assegurada, em que a saída das forças norte-americanas que nenhum governo soberano havia convidado, ensaia-se uma vez mais, baseadas nas desacreditadas organizações Observatório Sírio para os Direitos Humanos (sediado em Londres) e os famigerados Capacetes Brancos (organização local de socorro e salvamento de partidarios rebeldes e de extermínio de todos os que se opõem - militares e cívis), os mesmos netos e acções que, também eles acabam desmentidos. Conseguiram no entanto, sem provas, sem mandato, sem qualquer vislumbre de legalidade, um ataque dos EUA com mísseis, apoiados pela França e Reino Unido, quais cães de fila.
Agora fala-se na substituição das tropas Norte-americanas por tropas Sauditas....
E por falar em sauditas, este Reino de democracia exemplar, possuidor de um dos maiores exércitos do mundo, tem já às costas uma intervenção “humanitária” no vizinho Iéman que provocou até agora um dos mais mortíferos surtos de cólera dos tempos modernos afectando cerca de 200.000 pessoas directamente e, indirectamente, mais de dois milhões.
A Arábia Saudita na sua intervenção humanitária impediu o acesso a socorro e medicamentos por parte da população. A diferença é que aqui não há Observatórios de Direitos Humanos nem Capacetes Brancos para grandes planos com criancinhas ao colo (ainda que na Síria se viessem a provar meras farsas). Se procurarmos nos jornais encontraremos uma breve ou uma nota de pé de página sobre estes acontecimentos ou não fosse o Reino dos Saúd uma saudável democracia.
Na Palestina já não há por onde fugir. Privados de terra, de água, de direitos tão básicos como equipamento hospitalar, ou o direito de se deslocarem dentro da sua própria terra, e rodeados pela fantástica democracia que é o Estado de Israel - curiosa democracia em que se é cidadão de primeira, segunda, terceira, quarta categoria ou não se é de todo, de acordo com a religião de cada qual - não se pode esperar mais do que actos de quem já nada tem a perder senão a vida e essa já vale tão pouco que perdê-la por perdê-la melhor fazendo frente à injustiça e à ganância dos sionistas do que outra coisa qualquer.
Com tanto tempo que deixei de escrever, não escrevi sobre a Colômbia, o México, a Argentina, da França e demitias outras pérolas de precisa democracia que de democracias têm cada vez menos se é que o têm.
Boa noite! E boa sorte! 

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