sexta-feira, 6 de novembro de 2015

25 anos de "reunificação" alemã - A boa da RFA



Durante anos amigos e colegas muniram-se por vezes de uma atitude de superioridade argumentando, não sem boa dose de arrogância, sobre a democraticidade da República Federal da Alemanha (a que designavam de verdadeiramente democrática, em face da República Democrática Alemã (RDA) da qual diziam, na alegria alarve da ignorância, que de democrática só tinha o nome.
Ignoravam, ou queriam ignorar, que a República que tanto louvavam guardava no seu seio toda a estrutura da Alemanha nazi, e pelo contrário perseguia activamente os comunistas. Coisa que de qualquer forma não era novidade, uma vez que foram perseguidos na Alemanha depois e antes do advento hiteleriano até mesmo pelos Social-democratas a quem não incomodou nem perturbou o massacre dos Spartaquistas, bem pelo contrário porque até foi perpetrado por eles.
No seu afã e ódio aos Marxistas a RFA criou leis eleitorais com mínimos de 5% de votos com o objectivo único de impedir o acesso dos comunistas ao Bundestag. CDU-CSU, SDP e FDP fizeram-no ainda que o Partido Comunista (KPD) tivesse deputados eleitos no parlamento.
Falharam. Pois que ainda que não o previssem o KPD ultrapassou os 5% dos votos e voltou a eleger representantes. Em face disso os democratas tomaram medidas democráticas, ilegalizaram o KPD.
Como se as qualidades "democráticas" da RFA não estivessem com isto enormemente demonstradas soube-se hoje que desde 1962, por acordo com a Espanha de Franco, o então governo de Bona (e hoje de toda a Alemanha) paga cem mil euros aos sobreviventes e viúvas da divisão azul, voluntários espanhóis que foram combater ao lado do exército alemão na frente leste durante a Segunda Guerra Mundial. Em troca a Espanha pagava, e penso que ainda hoje o faz, aos sobreviventes e viúvas da Legião Condor, que bombardeou, entre outras localidades republicanas, Guernika durante a Guerra civil.
É bonito! É bonito ver como a RFA, hoje Alemanha, assegura a sobrevivência de famílias espanholas, seguramente atingidas pela crise e em troca garante o cuidado por interposta pessoa dos soldados nazis, a quem não poderia valer directamente.
É tocante ver como as vítimas do nazi-fascismo, incluindo os republicanos espanhóis que foram parar aos campos de extermínio, nada receberam ou recebem como compensação do mal que o estado alemão lhes fez. É verdade, esquecia-me, eram "rojos". 
É comovente ver como em relação aos países destruídos o estado alemão ocidental viu perdoada a sua dívida de guerra em cerca de dois terços, por outros que não os próprios, sendo até premiado com avultadas ajudas monetárias, e hoje acusa os devedores de preguiçosos - a RDA não viu perdoada a sua parcela da dívida de guerra e pago-a toda.
É verdadeiramente de democratas....


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