quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Renovar o quê?


Renovar, diz o dicionário que tenho na minha frente, é tornar novo, dar novo aspecto, o que me parece atitude muito meritória, excepto se for através de cirurgia plástica, porque isso não é renovar nada, quando muito é esconder as misérias. E por falar em misérias, miserável é o comportamento da Renovação Comunista no seu apoio ao Vereador Sá Fernandes. Ainda quando este aparecia como o contestatário de esquerda, sempre pronto a partir a loiça se poderia entender, até porque a Renovação fez o seu caminho afirmando-se como aprofundamento da práxis marxista, dando-lhe novas perspectivas de avanço e confronto com o capitalismo. Mas desde que o vereador é uma peça na engrenagem do poder rosa na CML, deixa de se entender quais os motivos de um tal apoio.

Dizer-se que graças à sua atitude foram resolvidos os problemas dos trabalhadores precários da Câmara, é omitir-se que estes foram integrados num quadro de direito privádo, em tudo contrário aquilo que os Comunistas defendem, em ordem a defender os direitos iguais para trabalhos iguais. É que esse é um princípio básico dos Comunistas, teham eles a perspectiva que tiverem sobre a melhor forma da superação do capitalismo.

Defender a passagem para o sector privádo da recolha de lixo e limpeza de áreas como as da Baixa, ou dos Olivais, é criar as condições para a não optimização dos recursos municipais. Dizer que isto ocorre com menos custos do que a contratação de trabalhadores, é o mesmo que admitir que os trabalhadores das empresas privádas ganham menos e têm menos regalias (porque nenhuma empresa deste tipo deixa de ter lucro), logo é maior o grau de exploração. E isto é absolutamente contrário à defesa dos direitos dos trabalhadores a um trabalho em condições dignas de remuneração e de regalias, que é apanágio dos Comunistas desde o seu surgimento com a Comuna de Paris.

Defender que o espaço público pode ser encerrado para gaúdio de umas quantas empresas a troco de uns trocos para reabilitação e em detrimento dos cidadãos, é aprovar o princípio que qualquer bem público possa ser apropriado por outrém a troco de um valor interessante. Ora o espaço público é de todos, não pode ser alienado em favor de ninguém, nem mesmo pelos governantes que são os curadores do interesse público e bens como os espaço são inalienáveis.

São estas as políticas defendidas pelo Vereador Sá Fernandes e que não merecem da Renovação Comunista outra coisa que palavras de apoio e incentivo. São estas negações da actuação e princípios Comunistas, que a Renovação aponta como exemplos a seguir. E não bastando, a Renovação critica ainda o Partido Comunista, por não ceder ideologicamente juntando-se a uma pretensa frente de "esquerda" de que se desconhecem as propostas e os propósitos.

Não! Não basta dizer-se de esquerda, não basta apelidar-se Comunista, não basta afirmar-se renovador. Os princípios marxistas-leninistas exigem uma práxis de acordo com primádos defendidos desde sempre pelos Comunistas e que são eles mesmos as marcas identitárias da sua luta e da sua acção.

Renovar, partindo desses princípios ajustando-os à realidade, interpretando-os de uma forma criativa em função de novas questões e desafios que se colocam, não é só uma necessidade, mas um imperativo colocado a todos os Comunistas. Dizer-se renovação, para melhor se aproximar dos eixos de poder e com isso obter quaisquer benefícios que daí advenham, não pode ser nunca a prática dos Comunistas, qualquer que seja a sua opinião sobre o modo de construção do socialismo. Renovação assim, poderá ser do capital, mas Comunista não o será nunca.

4 comentários:

Anónimo disse...

As duas últimas linhas são uma boa conclusão de todo o artigo. É assim amigo,o que esta gente lhe importa é o lugar que se tem e que dá umas massas boas para "teorizar" sobre "indepndência" e ideias "modernas" mas sempre sempre ao lado do capital.
Um abração !
LEÃO.

Carlos Moura disse...

Abraço também para ti, e já agora obrigado pelo comentário. Há realidades por demais evidentes, só não vê quem não quer...

Anónimo disse...

Amigo

Renovação?
Sapato velho com sola nova?

Lá dizia a canção que a social-democracia a falar do socialismo faz-nos lembrar o diado a ensinar o catecismo...
O compromisso da pequena burguesia com o capital financeiro e especulador perspectivava um milénio para adiar a transformação da sociedade.
Enganaram-se já, porque tudo está em rápida mutação.
A Revolução não pára.
Os renovadores são como o pedreiro Valdemar:
"Fazem casas para os outros não têm casa p'ra morar"!

Um abraço.

JC

Carlos Moura disse...

Éssa do Pedreiro Valdemar, fica-lhes mesmo a matar. Espelha bem a realidade, aliás como dizia um outro JC aqui em outros milénios. "vêm bem o argueiro no olho do seu irmão...mas não vêm a trave que têm no seu próprio olho". Questões de miopia...
Abraço