Um grupo de historiadores e outros estudiosos, de cariz monárquico, católico, e seguramente bastante de direita, tem vindo nos ultimos dias e para meu espanto, com um espaço de página inteira hoje no jornal, a divulgar a sua versão sobre o que foi a primeira República. Não seria de espantar que na sua visão se espelhasse uma República que nada trouxe, em que as eleições não eram livres, em que a imprensa era controlada, em que existiam presos políticos, em que as mulheres eram secundarizadas em termos políticos. Não seria de espantar se estes senhores não estivessem a manipular a situação por forma a escamotear a situação da imprensa durante os últimos anos da monárquia, com ênfase especial no Governo de João Franco, na repressão que se abatia sobre quem tinha uma diferente opinião, ou terão esquecido o reboliço da realização das Conferências do Casino? das deportações para Angola e Timor dos que se opunham à Coroa, e da completo descaso que o regime monárquico votou o desenvolvimento do país e das colónias, vistas apenas como meios de financiar os gastos sempre crescentes de uma Casa Real incapaz e gastadora.
Escamotear a importancia e relevancia politica e operacional que tiveram homens como Miguel Bombarda (assassinado nas vésperas da Revolução Republicana, no seu gabinete do então Hospital de Rilhafoles, que hoje porta o seu nome, sendo o primeiro funeral de Estado da República precisamente pela sua importância politica como dirigente e deputado, de Elias Garcia ou do Almirante Reis, é recusar-se a entender os factores históricos sociais e politicos que conduziram á proclamação da República.
No primeiro ano da sua vigência o regime republicano produziu a lei do divórcio, do registo cívil, da greve, da promoção do desenvolvimento das colónias com vista à sua autonomia, e se é verdade que as mulheres foram afastadas do voto universal (embora não o tivesse sido absolutamente, porquanto a primeira votante no nosso país foi-o nas eleições de 1911) tal deveu-se ao espírito da época ainda demasiado enfeudado a crenças machistas que apenas o tempo e a luta das mulheres haviam de vencer. Nunca o regime monárquico em toda a sua vigência produziu algo de semelhante.
A República permitiu ainda que cada um professa-se a religião que lhe apetecesse, afastando o predomínio da Igreja Católica, predomínio vigente de acordo com a ideia de religião do estado, de acordo com os princípios do Rei pela graça de Deus. Atirando as crenças para a esfera do foro individual, longe de determinar os valores do Estado, impondo aos cidadãos regras e comportamentos nos quais não se reveêm. Isto é algo que estes senhores não poderiam tolerar, o divórcio, o aborto, etc...
Logo o que estes senhores fazem não é procurar a verdade histórica, mas tão só denegrir o regime republicano, quem sabe pensando que ainda podem ter a última palavra. Esperemos que não, esperemos que não se passem mentiras por verdades, esperemos que haja sempre gente determinada a dar a conhecer o que foi a monarquia, especialmente no seu estretor. Viva a República!
A segunda mentira é mais nova, mas não menos atroz. Para esta transcrevo as palavras de uma coluna de opinião vinda a estampa no sábado:
"O Reconhecimento do Kosovo é um passo a mais nesse processo, ,as já é ele próprio uma consequência de uma série de opções políticas que deixaram a UE sem alternativa. Essas opções vêm desde 1991, num crescendo de passos que se atrapalham uns aos outros, num silly wlking trágico e com muito pequeno futuro, e para os quais se encontra precedente apenas na política alemã da II Guerra, o que não é de bom agouro. Começa porque os principais países europeus e os EUA têm uma enorme responsabilidade no descalabro dos Balcãs, desde o desmembramento da Jugoslávia até aos dias de hoje. Foi a alemanha que, decidindo unilateralmente reconhecer os "países" que se separaram da Jugoslávia, retomanto aliás, ligações tradicionais que vinham da II Guerra Mundial, oficializou o fim da Jugoslávia e abriu caminho à guerra civil. Verdade seja que provavelmente o desmembramento da Jugoslávia seria inevitável, mas a decisão precipitou a guerra civil e ao favorecer a corrida às fronteiras e as limpezas étnicas que um pouco por todo o lado se verificaram e os massacres que as acompanhavam. Embora pouco lembrada, a maior dessas limpezas étnicas atingiu os sérvios da Krajina e não os croatas, nem os bósnios, nem os kosovares. Como é com os sérvios, ninguém quer saber."
Ora o que aqui está escrito é indubitavelmente verdade e é presisamente isso que é preocupante, porque todos aqueles que disseram isto na altura foram chamados de apoiantes de Milisevic, dos criminosos sérvios, inimigos da democracia, foi dito que era a opinião (sempre suspeitíssima) dos comunistas, anti-americanos, etc, etc, etc..
E afinal tudo aquilo que diziam era afinal a mentira, sendo esta a verdade. Porque de outra forma têm de aplicar todos estes epítetos ao Pacheco Pereira.
3 comentários:
A verdade dói!!!
A verdade não convive com a harmonia das palavras mais desinteressadas a que chamamos honradez e bom senso...
Um abraço!
Mais uma vez de volta, desta feita com um comentário :)
Obrigado pela força amigo.
Abraço
Sempre a Verdade!
A mentira só consegue vencer onde a Verdade não chega!
Só a Verdade é Revolucionária.
Parafraseando o Camª Francisco Viana:
A Verdade nua e crua
Tem forma e côr definida...
Nasce no meio da rua....
Tem o tamanho da Vida!
Um abraço para o Camª e Amigo Carlos Moura.
De: José Braga
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