terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Esquerda ou a ilusão de ser de esquerda?

Entregarmo-nos a uma ilusão pode ser na maior parte das vezes a maneira mais fácil de evitar um problema. Fazer de conta que fazemos algo para ultrapassar, sem o enfrentar, e adormecer "naquele engano de alma ledo e cego..." Que, contudo "a fortuna não deixa durar muito".
Vêm estas comezinhas reflexões a propósito de algumas sondagens que vi sobre a "quebra" do Bloco face ao escândalo da "dispensa" - e digo dispensa até estarem cabalmente esclarecidas as circunstâncias da situação - de funcionárias que se encontravam em situação de amamentação de lactantes e, portanto numa debilidade acrescida face ao mercado de trabalho.
Devo dizer que não me admira que a prospectiva prestação eleitoral do Bloco viesse a reflectir o conhecimento público deste mau procedimento, especialmente em face da contradição que representa apresentar públicas virtudes e depois padecer de um género de vicios privados, bem mais chegados aos procedimentos do patronato.... É uma contradição incontornável, qualquer que seja o ângulo por onde observe.
Admira-me mais, ou se calhar nem tanto, que a esta "quebra" suceda um ascenso do Livre. Afinal até pela sua forma de agir o Livre não é garantia nenhuma de defesa dos diireitos dos trabalhadores e, posicionamentos fora das áreas dos costumes e identidades, só se lhes conhece aquelas em que vão a reboque de iniciativas alheias. Porém ao fim e ao cabo nem será de estranhar estas movimentações de intenções, afinal estamos num ponto em que um certo eleitorado deseja é que tudo mude, para que tudo permaneça igual. Uma política de esquerda, qualquer política de esquerda que realmente o seja, pugna pela mudança das situações e especialmente pela efectivação dessa mudança, seja ela o peso da fiscalidade aplicado ao trabalho, como a melhoria das suas condições e dignificação. E para tal é necessária não só a coerência das propostas a apresentar mas também a prática interna dos princípios propostos. A esta acção conjunta chama-se coerência e consequência e nem Livre nem BE cumpriram os dois requisitos.
É pois evidente que um eleitorado que bascula entre a falta de consequência e a falta de coerência, não tem na realidade o desejo de mudança social, mas tão somente da gestão hipotética da situação, por força com uma coloratura menos sinistra, mas cujos resultados são pífios, se é que existem alguns.
Bem se pode mudar do Linguado para a Solha, o resultado é exactamente o mesmo. O capital agradece!


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