quinta-feira, 23 de outubro de 2008

As Causas e as Coisas


Agora que se inicia a recta final da discussão das teses do PCP para o XVIII Congresso, muitas questões se devem colocar. Já ouvimos dizer que se trata do maior avanço, em termos de análise ideológica, desde o fim da URSS; Já ouvimos dizer que se tratava de um recuo flagrante em relação às Teses que vinham de anteriores Congressos; Quanto a mim considero que as Teses apresentadas para discussão contêm factores de significativo avanço, principalmente em relação às causas da derrocada da experiência socialista da União Soviética e Bloco Socialista em geral, e factores de recuo na quastão das capacidades de superação do sistema Capitalista.
Muitos dos que divergem da presente análise, já se encontravam em divergência em relação às orientações do Partido Comunista Português há vários anos, e a sua análise da situação foi em grande medida a causa desse afastamento. Este afastamento levou muitos deles a fazer aproximações a forças politicas que, reclamando-se comunistas, rejeitam o legado histórico das experiências socialistas do século XX. Além disso em grande medida não apresentam propostas ou análises que visem a superação do sistema, mantendo-se um pouco como um acantonamento de causas dentro do sistema, cujas soluções só podem provir de uma alteração desse mesmo sistema, cria-se assim uma contradição insanável entre o processo teórico e a sua práxis. Esta contradição, ainda que extremamente atractiva para camadas sociais da chamada classe média, impedem a resolução coerente dos próprios problemas que intentam solucionar. A isto atira inequivocamente estas forças para atitudes de radicalismo pequeno-burguês, mesmo que vários dos seus elementos possam eventualmente não partilhar deste processo. A falta de uma orientação ideológica clara e de superação do sistema, mesmo que fora do conceito Leninista de organização, é ao mesmo tempo a mola de crescimento rápido destas organizações, e a chave da sua destruição quer por incapacidade de resolução dos problemas reais, quer pela sua atracção para a área de poder dentro do quadro do actual sistema. Aliás é curioso que as organizações com tendência a manter um firme quadro ideológico, marxista ou não, são aquelas cujo organização segue um modelo leninista, tal como algumas ONG bem conhecidas.
Por outro lado é por demais evidente que a superação do sistema capitalista não se pode dar nun quadro de falência ambiental e exaustão de recursos. Se, como Marx postula, a Terra é o cenário em que se desenrola a luta de classes, não é possível uma alteração de domínio de classe sem a existência de um suporte de recursos.
Ao permitir-se não analisar, e simplesmente mencionar, essa paropriação, quais as formas que toma, que processos a ela conduzem, e quais os resultados imediatos e a prazo dessa apropriação. Ao não analisar as lutas que se travam a fim de impedir essa apropriação e principalmente ao não aprofundar as formas de intervenção do Partido e dos seus militantes nessas formas de luta, as Teses ao XVIII congresso mostram-se incapazes de ter uma visão global sobre as várias vertentes da acção do capital e portanto de dar o passo ideológico necessário para a coerente superação do sistema. Não basta dizer que a alteração económica conduzirá à alteração da supersrtutura. Uma vez ultrapassada a capacidade de carga de cada ecossistema em relação à sua produção, não há possibilidade de alteração económica coerente que permita uma justa distribuição do recurso de acordo com as necessidades sociais porque...simplesmente não há recurso para distribuir. Se estas questões tivessem sido tomadas em conta nas Teses, não existiria hoje, durante e discussão, a nota que as questões de energia, do petróleo, da floresta, etc, etc, não tinham sido referênciadas, porquanto tudo isto são recursos naturais, bens ambientais, que coerentemente seriam analisados logo à partida como factores de superação do Capitalismo e cuja defesa é de facto travar o passo à sua mercantilização.

3 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns Carlos

Excelente observação das Teses do XVIII Congresso.
Análise viva, actual e dialéctica, do momento presente.
Bem fundamentada conseguindo ser convincente.
Oxalá que a mensagem seja bem entendida como aliás o merece.

Um abraço do camarada amigo.

José Braga

Anónimo disse...

Afinal aí está o debate. Interessante e produtivo . Bom trabalho .

Carlos Moura disse...

Obrigado pelas palavras Braga, é sempre um prazer ouvir esse alento de um camarada. Digo o mesmo em relação ao Leão, que é sempre um grande amigo e um grande incentivador.
PS se calhar é este contributo que eu vou enviar para o Avante.