sexta-feira, 30 de maio de 2008

Marx-Manifesto / 190, 160 anos de actualidade

Válido que o capitalismo, tal como sistemas anteriores, contém contradições, que, em determinado momento histórico, conduzem à sua substituição e que, como indica o Manifesto Comunista, entrámos num tal momento histórico. (Álvaro Cunhal)

A frase de Álvaro Cunhal que aqui reproduzo é bem demonstrativa que, há já dez anos atrás, o Manifesto do Partido Comunista, que faz este ano 160 anos, mantém de uma forma clara a sua actualidade no que concerne a análise das relações sociais geradas pela infra-estrutura económica capitalista.


Nunca durante todo o século XX o Manifesto esteve tão actual do que neste início do século XXI. Na realidade a coexistência dos países Socialistas com o sistema económico capitalista criou um hiato histórico, em que muitas reivindicações dos trabalhadores foram satisfeitas, sob a alegação que o desenvolvimento do capitalismo permitia essa nova recomposição social, mas, na realidade, porque a existência de um contraponto económico e social, com referência nos trabalhadores e seus direitos, obrigava o Capital a satisfazer a contra gosto reivindicações mínimas de forma a evitar processos revolucionários, que provocariam a derrocada o sistema.

A queda da União Soviética, e com ela dos países socialistas com maior grau de industrialização, criou nos Capitalistas a ideia que deixou de ser necessário “tratar bem” os trabalhadores, por ter desaparecido o único motivo que a isso forçava, “o medo do Comunismo”. Como aliás reconheceu recentemente uma personalidade insuspeita de tendências de esquerda num jornal chamado de referência *.

Tomando-se como vencedor da contenda o sistema capitalista enveredou rapidamente pelos modelos de desenvolvimento – leia-se crescimento sustentado – que tinha mitigado durante anos, através de políticas de redistribuição de rendimentos. Alias a máxima utilizada passou a ser que só a concentração de riqueza possibilita o investimento que faz crescer o produto.

Os avanços científicos e tecnológicos surgidos ao longo do último século, permitiram, já em condições de globalização do sistema, a exploração de recursos e deslocalização de produções e mercados a ritmos nunca vistos, mas abriu muito mais rapidamente que o previsto brechas de contradições que se tornam de dia para dia mais evidentes.

Além dos problemas de miséria generalizada, a sobrexploração de recursos até à mais do previsível exaustão, para satisfação de procuras de mercados mais ricos, mas ainda assim constituídos maioritariamente por trabalhadores assalariados, criaram um ciclo vicioso de crises de produção e consumos crescentes, baseados em grande parte já não na produção efectiva (que está já comercializada) mas nas expectativas de produção futura, na certeza que por cada unidade investida num bem cada vez mais escasso, maior é o retorno pelo preço de mercado.

Nos países produtores de recursos e fornecedores de mão-de-obra, o recurso é barato e o trabalho explorado idem, e normalmente pago à vista. Nos países consumidores o transporte de recurso é pago em avanço, sobre expectativas de produção, e a mão-de-obra é praticamente inexistente excepto no sector financeiro. O operariado e o campesinato ou está desempregado ou aceita a cada momento condições de maior exploração que rapidamente o conduzem cada vez mais perto dos seus congéneres do mundo dito não industrializado. Em qualquer das formas vive a crédito, ou seja negociando não com a venda da sua mão-de-obra no presente, mas no que ganhará num futuro próximo ou distante.


A falha de qualquer destas previsões implica invariavelmente uma crise no sistema, pois a circulação fiduciária não corresponde á realidade de um mercado que necessita sempre de um superavide inflacionário para funcionar, entrando-se rapidamente em fenómenos de deflação e falências em série.

A nível dos recursos a situação passa a ser dramática, pois o aumento da produção, mesmo com custos avultados de exploração é a única forma do sistema reequilibrar o funcionamento, aproximando a produção da real circulação fiduciária. Ou seja acentuando a sobrexploração do recurso até à exaustão se necessário for.

Ora sendo inegável que uma superstrutura social se alicerça na infra-estrutura económica, e esta por sua vez nos recursos. Não é difícil ver que sem uma intervenção que altere as relações de produção, bem como as sócias, não é possível impedir o ciclo de sobrexploração e desperdício, sem o qual o sistema capitalista não sobrevive. Daqui fica claro que este não cairá por si, até que tenha esgotado todas as possibilidades de transformar matéria prima em bens alienáveis. Porém se tal for o caso nada mais há a superar pois nenhuma sociedade sobrevive sem recursos.

Em conclusão, tal como na interpretação que do Manifesto faz Cunhal, o momento da superação está de facto chegado. No entanto se se mantêm válido, não é menos verdade que deixa também em aberto uma série de reflexões, que se prendem com as alianças a estabelecer dentro de um contexto de criação das condições subjectivas que levam à revolução. Uma análise das várias situações e movimentos sociais permitiria identificar o ponto ou pontos em que estes poderiam representar aliados objectivos, ou meramente conjunturais, de acordo com os postulados de Marx no manifesto, potenciando e alargando a acção dos Comunistas a este nível e mobilizando os potenciais revolucionários internos nas várias organizações, em lugar de as alienar completamente tornando-as instrumentos de politicas radicais pequeno-burguesas. Só este processo estaria de acordo com os princípios de acção indicados por Lenine: «a dialéctica exige que um fenómeno social seja estudado sob todos os seus aspectos, através do seu desenvolvimento, e que a aparência, o aspecto exterior seja reconduzido às forças motrizes essenciais, ao desenvolvimento das forças produtivas e à luta das classes» (Lenine, V.I. - A Bancarrota da II Internacional), princípios sem os quais se torna difícil passar Marx e Engels à prática.

fonte:2244Cristina

1 comentário:

Anónimo disse...

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