quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

De Reis e Revoluções



Grassa, de há uns tempos a esta parte, uma insidiosa iniciativa de reescrever a história e condenar o Buíça, o Costa e os carbonários em geral por uma suposta mancha negra que seria o regicídio. Quem fala assim não compreende certamente o significado de dinamicas históricas. O regicídio deu-se porque a instituição monarquica estava moral e institucionalmente falida. Aliás estava falida como instituição desde o Ultimato Inglês e moralmente desde a repressão da revolta Republicana do 31 de Janeiro.

Não é possível olhar o retrato social da época sem lembrar o que foi a repressão que se tinha imposto desde dos 90 do século XIX, até 5 de Outubro de 1910.

Como Republicano e Marxista que sou não posso deixar de verificar que o que se passou a 1 de Fevereiro de 1908 é um processo dialético e histórico em que há um confronto entre dois regimes. Um ainda excrecência do antigo regime (pese embora a Revolução Liberal em que de qualquer forma as forças vintistas haviam sido na prática derrotadas pelos mais conservadores cartistas) alicerçada numa aristcracia, que no caso português tinha alguma coisa de circence, e na alternância (onde é que eu já terei ouvido isto) entre Luciano de Castro e Hintze Ribeiro.

Foi contra este estado de coisas que surgiram as acções dos Republicanos, primeiramente minoritários, mas posteriormente com uma força sensivel no país. Não podemos esquecer que maugrado o Partido Republicano de Afonso Costa se tenha vindo a tornar hegemónico, existiam outras facções republicanas desde maçons carbonários, anarco-sindicalistas ou os Socialistas de Azedo Gneco.

É neste contexto que é a instituição da coroa que é atingida na Praça do Comércio, e Carlos I porque nele reside o poder régio, e nos filhos pois representam a continuidade dinástica. Quanto ao homem não me compete apreciá-lo, tanto mais que pelas obras de oceanografia que deixou parece ter-se tratado de uma pessoa excepcional. Por isso o revisionismo que pretende condenar um dos actos fundadores da República, abre caminho não à reabilitação do homem e cientista que não necessita porque nunca esteve em causa, mas à instituição monarquica, coisa que parece agora algo em voga.