sexta-feira, 31 de outubro de 2008

O Novo Mundo



Aos trancos e barrancos o Capitalismo lá vai fazendo o seu caminho. Fatalmente atingido, mas não morto, tenta salvar o que pode recapitalizando-se através dos recursos. Não é por acaso que saiu uma notícia de jornal informando que já em 2030 vamos precisar de 2 planetas para dar resposta a voracidade dos recursos. Mas este vamos não é igual para todos, para a vasta maioria dos mais pobres, que vivem com menos de 1 dólar por dia, os únicos recursos que o segundo planeta poderia ter eram a água, que quase não têm em condições de potabilidade e umas quantas árvores para cortarem porque não têm acesso a qualquer combustível. Está mais do que visto que se houvesse uma pequena redistribuição este planeta chegava-lhes e sobejáva para a satisfação das suas necessidades. Quanto aos mais ricos que acumulam bens, desperdiçam materiais a rodos, impõem a outros povos culturas agricolas de mercado e não para a a sua sobrevivência e vão exaurindo os recursos ambientais, provavelmente nem outro planeta chega, vão ter de ter um terceiro só para armazenar o lixo produzido.

Portanto quando se fala que a humanidade necessita de dois mundos o que ela necessita a sério é de uma gestão mais justa deste em que vivemos, e não pensem que isto é passível de ser feito com aquelas boas palavras de: "vamos consumir menos água; vamos apagar as luzes; vamos consumir apenas produtos biológicos; vamos produzir menos lixo e reciclar o que produzimos". Isto são coisas mais do insuficientes para alterar a situação. Com efeito enfrentamos um inimigo sob a forma de sistema económico, e é enquanto sistema económico gerador de injustiças sociais e agravamento das desigualdades, e ao mesmo tempo sugadouro de recursos e riqueza, que tem de ser combatido. Isto é: as questões ambientais e sociais estão intimamente ligadas, são parte de um todo, não é possível formular uma alteração social que o não seja aos outros dois níveis, e para se conseguir atingir um equilibrio a nível social ele só pode advir de uma alteração económica e do seu alicerce no modelo de exploração de recursos. Da mesma forma a alteração social, com a satisfação das necessidades sem estímulo do desperdício ou do consumo desenfreado é imediatamente sentida quer na quantidade de resíduos no meio receptor, quer na própria qualidade deste por maioria de razão.

Assim qualquer luta ambiental coerente só pode ser atingida pela superação dó sistema capitalista e uma opção da humanidade pelo socialismo, ou então não vai haver planeta que chegue.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

As Causas e as Coisas


Agora que se inicia a recta final da discussão das teses do PCP para o XVIII Congresso, muitas questões se devem colocar. Já ouvimos dizer que se trata do maior avanço, em termos de análise ideológica, desde o fim da URSS; Já ouvimos dizer que se tratava de um recuo flagrante em relação às Teses que vinham de anteriores Congressos; Quanto a mim considero que as Teses apresentadas para discussão contêm factores de significativo avanço, principalmente em relação às causas da derrocada da experiência socialista da União Soviética e Bloco Socialista em geral, e factores de recuo na quastão das capacidades de superação do sistema Capitalista.
Muitos dos que divergem da presente análise, já se encontravam em divergência em relação às orientações do Partido Comunista Português há vários anos, e a sua análise da situação foi em grande medida a causa desse afastamento. Este afastamento levou muitos deles a fazer aproximações a forças politicas que, reclamando-se comunistas, rejeitam o legado histórico das experiências socialistas do século XX. Além disso em grande medida não apresentam propostas ou análises que visem a superação do sistema, mantendo-se um pouco como um acantonamento de causas dentro do sistema, cujas soluções só podem provir de uma alteração desse mesmo sistema, cria-se assim uma contradição insanável entre o processo teórico e a sua práxis. Esta contradição, ainda que extremamente atractiva para camadas sociais da chamada classe média, impedem a resolução coerente dos próprios problemas que intentam solucionar. A isto atira inequivocamente estas forças para atitudes de radicalismo pequeno-burguês, mesmo que vários dos seus elementos possam eventualmente não partilhar deste processo. A falta de uma orientação ideológica clara e de superação do sistema, mesmo que fora do conceito Leninista de organização, é ao mesmo tempo a mola de crescimento rápido destas organizações, e a chave da sua destruição quer por incapacidade de resolução dos problemas reais, quer pela sua atracção para a área de poder dentro do quadro do actual sistema. Aliás é curioso que as organizações com tendência a manter um firme quadro ideológico, marxista ou não, são aquelas cujo organização segue um modelo leninista, tal como algumas ONG bem conhecidas.
Por outro lado é por demais evidente que a superação do sistema capitalista não se pode dar nun quadro de falência ambiental e exaustão de recursos. Se, como Marx postula, a Terra é o cenário em que se desenrola a luta de classes, não é possível uma alteração de domínio de classe sem a existência de um suporte de recursos.
Ao permitir-se não analisar, e simplesmente mencionar, essa paropriação, quais as formas que toma, que processos a ela conduzem, e quais os resultados imediatos e a prazo dessa apropriação. Ao não analisar as lutas que se travam a fim de impedir essa apropriação e principalmente ao não aprofundar as formas de intervenção do Partido e dos seus militantes nessas formas de luta, as Teses ao XVIII congresso mostram-se incapazes de ter uma visão global sobre as várias vertentes da acção do capital e portanto de dar o passo ideológico necessário para a coerente superação do sistema. Não basta dizer que a alteração económica conduzirá à alteração da supersrtutura. Uma vez ultrapassada a capacidade de carga de cada ecossistema em relação à sua produção, não há possibilidade de alteração económica coerente que permita uma justa distribuição do recurso de acordo com as necessidades sociais porque...simplesmente não há recurso para distribuir. Se estas questões tivessem sido tomadas em conta nas Teses, não existiria hoje, durante e discussão, a nota que as questões de energia, do petróleo, da floresta, etc, etc, não tinham sido referênciadas, porquanto tudo isto são recursos naturais, bens ambientais, que coerentemente seriam analisados logo à partida como factores de superação do Capitalismo e cuja defesa é de facto travar o passo à sua mercantilização.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Hasta Siempre Comandante



Fez hoje 41 anos que era assassinado na Bolívia, às mãos dos esbirros dos interesses do Capital, Ernesto Guevara, El Che. Assassinado porque ousara por em causa os interesses de quem explorava, lutando pela libertação e emancipação dos povos.

Durante séculos os dominantes procuraram remeter os dominados à pobreza, à ignorância, negando-lhes os mais básicos direitos de forma a melhor poderem explorar a sua força de trabalho, construindo assim grandes fortunas com às quais garantiam mais poder. O ouro do Peru, a Prata de Potosi, as Pedras preciosas das Gerais, o Cobre, o Açúcar, tudo isto teve os seus vários ciclos de exploração na América Latina, até os frutos, o café, e mais recentemente os hidrocarbonetos. Todas estas riquezas foram sendo apropriadas e transferido o seu valor paulatinamente para os dominantes no mundo que se industrializava. Quando Che viajou de Buenos Aires à Venezuela, passando por vários países da América do Sul, foi este o grau de exploração e perseguição a quem se rebelava que encontrou, e foi este encontro que o levou a comprometer-se profundamente com a libertação do homem, onde quer que se encontra-se. Este compromisso que o levou a Cuba, ao Congo, à Bolívia. Esse amor à humanidade vivente, para que pudesse aspirar um dia à dignidade da vida de um ser humano, sabendo ler e escrever, tendo o suficiente para a sua alimentação e dos seus, tendo acesso aos cuidados de saúde, e até o acesso à cultura. Estes feitos que a sua Cuba adoptiva produziu nestas décadas, não sem dificuldades, não sem sofrimentos, não sem sobressaltos e reveses.

Mas assim como havia profetizado esta onda não parou de crescer, hoje mais ou menos próximos de uma praxis verdadeiramente libertadora, quase todos os países da América Latina escolhem uma via alternativa ao Capitalismo para garantir o desenvolvimento e as condições de vida digna dos seus povos. A Venezuela, o Equador, o Paraguai, o Uruguai, e mesmo Brasil, Argentina e Chile, são hoje muito diferentes do que à altura se poderiam encontrar. Até o povo Boliviano, após décadas de opressão vergonhosa, de exploração abjecta que até a água, toda a água que bebiam estava sendo privatizada, se levantou e procura as sendas do futuro. A humanidade levantou-se e começou a andar e essa onda é imparável, mesmo no solo onde caiu o Che. Por isso a vitória está-se construindo a cada momento, em cada latitude onde um homem se liberta e liberta a sua voz, libertando outros homens, libertando a Humanidade. Hasta la victória siempre!

domingo, 5 de outubro de 2008

As Mentiras

Hoje, dia de aniversário da proclamação da República Portuguesa, pareceu-me importante dedicar algum tempo a dois artigos de jornal, um de ontem e um de hoje, começando primeiro pelo de hoje.



Um grupo de historiadores e outros estudiosos, de cariz monárquico, católico, e seguramente bastante de direita, tem vindo nos ultimos dias e para meu espanto, com um espaço de página inteira hoje no jornal, a divulgar a sua versão sobre o que foi a primeira República. Não seria de espantar que na sua visão se espelhasse uma República que nada trouxe, em que as eleições não eram livres, em que a imprensa era controlada, em que existiam presos políticos, em que as mulheres eram secundarizadas em termos políticos. Não seria de espantar se estes senhores não estivessem a manipular a situação por forma a escamotear a situação da imprensa durante os últimos anos da monárquia, com ênfase especial no Governo de João Franco, na repressão que se abatia sobre quem tinha uma diferente opinião, ou terão esquecido o reboliço da realização das Conferências do Casino? das deportações para Angola e Timor dos que se opunham à Coroa, e da completo descaso que o regime monárquico votou o desenvolvimento do país e das colónias, vistas apenas como meios de financiar os gastos sempre crescentes de uma Casa Real incapaz e gastadora.

Escamotear a importancia e relevancia politica e operacional que tiveram homens como Miguel Bombarda (assassinado nas vésperas da Revolução Republicana, no seu gabinete do então Hospital de Rilhafoles, que hoje porta o seu nome, sendo o primeiro funeral de Estado da República precisamente pela sua importância politica como dirigente e deputado, de Elias Garcia ou do Almirante Reis, é recusar-se a entender os factores históricos sociais e politicos que conduziram á proclamação da República.
No primeiro ano da sua vigência o regime republicano produziu a lei do divórcio, do registo cívil, da greve, da promoção do desenvolvimento das colónias com vista à sua autonomia, e se é verdade que as mulheres foram afastadas do voto universal (embora não o tivesse sido absolutamente, porquanto a primeira votante no nosso país foi-o nas eleições de 1911) tal deveu-se ao espírito da época ainda demasiado enfeudado a crenças machistas que apenas o tempo e a luta das mulheres haviam de vencer. Nunca o regime monárquico em toda a sua vigência produziu algo de semelhante.

A República permitiu ainda que cada um professa-se a religião que lhe apetecesse, afastando o predomínio da Igreja Católica, predomínio vigente de acordo com a ideia de religião do estado, de acordo com os princípios do Rei pela graça de Deus. Atirando as crenças para a esfera do foro individual, longe de determinar os valores do Estado, impondo aos cidadãos regras e comportamentos nos quais não se reveêm. Isto é algo que estes senhores não poderiam tolerar, o divórcio, o aborto, etc...
Logo o que estes senhores fazem não é procurar a verdade histórica, mas tão só denegrir o regime republicano, quem sabe pensando que ainda podem ter a última palavra. Esperemos que não, esperemos que não se passem mentiras por verdades, esperemos que haja sempre gente determinada a dar a conhecer o que foi a monarquia, especialmente no seu estretor. Viva a República!

A segunda mentira é mais nova, mas não menos atroz. Para esta transcrevo as palavras de uma coluna de opinião vinda a estampa no sábado:

"O Reconhecimento do Kosovo é um passo a mais nesse processo, ,as já é ele próprio uma consequência de uma série de opções políticas que deixaram a UE sem alternativa. Essas opções vêm desde 1991, num crescendo de passos que se atrapalham uns aos outros, num silly wlking trágico e com muito pequeno futuro, e para os quais se encontra precedente apenas na política alemã da II Guerra, o que não é de bom agouro. Começa porque os principais países europeus e os EUA têm uma enorme responsabilidade no descalabro dos Balcãs, desde o desmembramento da Jugoslávia até aos dias de hoje. Foi a alemanha que, decidindo unilateralmente reconhecer os "países" que se separaram da Jugoslávia, retomanto aliás, ligações tradicionais que vinham da II Guerra Mundial, oficializou o fim da Jugoslávia e abriu caminho à guerra civil. Verdade seja que provavelmente o desmembramento da Jugoslávia seria inevitável, mas a decisão precipitou a guerra civil e ao favorecer a corrida às fronteiras e as limpezas étnicas que um pouco por todo o lado se verificaram e os massacres que as acompanhavam. Embora pouco lembrada, a maior dessas limpezas étnicas atingiu os sérvios da Krajina e não os croatas, nem os bósnios, nem os kosovares. Como é com os sérvios, ninguém quer saber."


Ora o que aqui está escrito é indubitavelmente verdade e é presisamente isso que é preocupante, porque todos aqueles que disseram isto na altura foram chamados de apoiantes de Milisevic, dos criminosos sérvios, inimigos da democracia, foi dito que era a opinião (sempre suspeitíssima) dos comunistas, anti-americanos, etc, etc, etc..
E afinal tudo aquilo que diziam era afinal a mentira, sendo esta a verdade. Porque de outra forma têm de aplicar todos estes epítetos ao Pacheco Pereira.